China avança para fase decisiva no desenvolvimento da vacina

por Filipa Rodrigues
António Bilrero e Johnson Chao

A China parece ter assumido a liderança no desenvolvimento de uma vacina para a Covid-19. Esta semana, o país onde foram registados os primeiros casos na pandemia do novo coronavírus que se tornou global, anunciou a entrada na fase 3 de desenvolvimento (ensaios clínicos em grande escala). O PLATAFORMA falou com Mónica Pon, especialista em Medicina Interna e vice-presidente da Associação dos Médicos de Língua Portuguesa de Macau.

“O anúncio feito pela China da entrada em fase 3 numa parceria estratégica com Estados Arabes Unidos (UAE), depois de um resultado animador em 180 voluntários, estendidos a mais de 1000 outros com resultados reportando eficácia e segurança, coloca-os na liderança desta corrida”, diz.

A médica lembra ainda que “em Londres, o Imperial College anunciou que 300 voluntários vão receber a vacina nas próximas semanas após os testes em animais terem sugerido que a vacina estimula uma resposta imunológica eficaz”.

Além disso, continua, “a descoberta de uma vacina já pôs em corrida pelo menos 120 ensaios clínicos a nível mundial, com recente destaque para dois deles”.

“Em plena progressão da pandemia, o mundo anseia por medidas que sejam eficazes na contenção. A saber, a circunscrição da propagação do vírus passa pelo desenvolvimento de imunidade de grupo (espontânea ou vacina), a descoberta de medicamento eficaz e medidas de comportamento social”, assinala.

A especialista recorda igualmente que “a vacina é um processo de estimular o sistema imunitário a fabricar anticorpos eficazes a combater o vírus invasor e assim impedir que a pessoa adoeça”. 

“Até ser aprovada uma vacina ou um novo medicamento – esclarece – é mandatório que percorra com sucesso as várias fases do ensaio desde o estudo pré-clínico no laboratório, testes em animais, até aos testes em humanos de forma a mostrar evidência na eficácia e segurança da respetiva utilização”.

Mónica Pon fala ainda acerca do que significam, nesta área de investigação clínica, os termos eficácia e segurança. 

“Eficácia é a comprovação de que a vacina consegue estimular o sistema imunitário a produzir anticorpos que sejam eficazes a reconhecer e neutralizar o vírus invasor. Segurança é atingir o objetivo de eficácia sem originar efeitos secundários indesejáveis”, atira.

Assim, “esta meta pretendida exige tempo e qualquer precipitação poderá redundar num desastre. Devagar porque temos (muita) pressa”, enfatiza.

A especialista em Medicina Interna recorda que, “anteriormente, uma vacina demorava anos por vezes décadas a ser desenvolvida. Nunca em menos de cinco anos. Atualmente, graças ao desenvolvimento tecnológico e a extrapolação de estudos iniciados em outros coronavírus que coabitam com o ser humano, existe a possibilidade de acelerar o processo”.

“Autoridades na matéria falam numa vacina disponível em meados de 2021, cerca de ano, ano e meio desde o início anunciado da pandemia”, acrescenta, assinalando que “o processo era, anteriormente, constituído pela introdução no organismo do vírus enfraquecido, para que não produza doença, mas permita ao sistema imunitário aprender a fabricar anticorpos que combatam o vírus, reconhecendo a sua presença”. 

“Atualmente, a ciência recorre a um método novo que se baseia no conhecimento do código genético do vírus que foi descodificado em tempo recorde, e passa pela inoculação de parte desse código genético para estimular o sistema imunitário”, adianta.

E conclui: “Aguardemos as boas novas com esperança, não esquecendo que as medidas de comportamento social são atualmente as únicas de que dispomos para controlar a propagação do covid19. A pressão económica para desconfinar, não deve ser entendida como sendo tempo para relaxar. Vem aí a chamada segunda vaga, e a luta continua!”.

China já pensa na fábrica para produzir vacina
O Instituto de Biomedicina da Academia Chinesa de Ciência Médica já avançou que ainda este ano será definida uma fábrica para produção de vacinas, preparando-se para fornecer ao país as quantidades necessárias num futuro próximo. 

Zhang Yuntao, vice-presidente do Grupo Nacional de Biotecnologia da China, em entrevista à China News, indicou que a terceira fase de testes da vacina terá de acontecer em regiões endémicas para avaliar se esta é eficaz a reduzir a incidência de casos nessas áreas, embora centenas de milhares de pessoas precisam de ser vacinadas para controlar o número de infetados. 

O especialista acrescentou que a redução do número de infetados dentro da China dificulta os planos de teste para uma terceira fase. Assim sendo, apenas no próximo ano poderá estar disponível no mercado uma vacina contra a Covid-19.

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