Alimentos resistem ao novo coronavírus

por Filipa Rodrigues
António Bilrero e Johnson Chao

Autoridades de Pequim culparam salmão importado da Noruega de estar na origem de um novo surto de Covid-19 na capital chinesa. Isto depois de o vírus ter sido detetado numa tábua usada por vendedores de peixe. Apesar de afastada por virologistas chineses, a questão de saber se o novo coronavírus se transmite pelos alimentos estava lançada. Além disso, populares em Pequim mostraram-se também preocupados depois de se saber que trabalhadores da Pepsi Cola estavam infetados. O PLATAFORMA falou com o professor Nuno Borges, da Faculdade de Ciências de Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, que também rejeitou essa possibilidade.

“Este novo coronavírus tem características diferentes de outros conhecidos. E, sendo novidade, dizer taxativamente que não, pode ser arriscado. Mas, até ao momento, não há qualquer indício de que o vírus possa ser transmitido por alimentos”, disse o nutricionista. 

O especialista admitiu, como exemplo extremo que, num buffet, se alguém contaminado espirrar para cima de uma salada, terceiros que venham a servir-se dela poderão acabar por contrair a doença.

“Mas, insistiu, no caso concreto de transmissão por alimentos, não parece haver um único caso documentado de transmissão por via alimentar. Nem um”.

O académico lembrou que “no campo das probabilidades, essa transmissão é baixíssima”, o que, “em termos de saúde pública não constitui por isso, de momento, uma preocupação”.

“Em termos de saúde pública, probabilidade baixíssima ou zero não é nada diferente. Agora em segurança alimentar nunca se pode garantir zero”, adiantou.

Para o professor, se tudo aponta para “uma taxa que será incrivelmente baixa, como é até agora o caso do novo coronavírus, então é zero.

“Neste momento é este o ponto em que estamos. Ou seja, não há dados que mostrem que essa transmissão seja significativa”, assinalou, recorrendo depois a uma expressão que qualificou como um chavão: “ausência de prova não é prova de ausência”.

Mas a prova de que “a probabilidade é baixíssima, é que até agora não aconteceu”, atirou.

E concluiu: “a transmissão pelas vias respiratórias, sim, está provada. Por isso, na minha opinião é aí que se devem concentrar os esforços para conter a doença, sendo que os alimentos não são via de transmissão”.

China diz que não há transmissão por alimentos
Já o Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças assegura que não foram encontradas provas de infeção humana por ingestão alimentar.

Esta semana, após vários funcionários de uma fábrica da Pepsi em Pequim terem sido diagnosticados com o vírus, a empresa anunciou que a fábrica em questão apenas produz um número reduzido de batatas fritas Lay’s.

Feng Zijian, vice-diretor do Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças, afirmou que até ao momento não foi detetado qualquer caso de infeção através de ingestão alimentar, não havendo por isso necessidade de preocupação em relação à segurança alimentar no que diz respeito ao novo coronavírus. 

Acrescentou que o vírus em comida seca, à temperatura ambiente, caso esta esteja infetada, tem um tempo de vida extremamente curto. 

O vice-diretor, em declarações à estação de televisão CCTV, assinalou que o vírus foi detetado em várias partes do mercado Xinfadi em Pequim, provando que este é extremamente contagioso neste contexto específico, e por isso resultou em vários infetados. 

De acordo com a investigação desenvolvida, a principal forma de propagação acontece quando alguém toca numa superfície infetada, e depois transporta o vírus para a boca, olhos ou nariz.

Chama-se a isto transmissão por contacto indireto. Existe ainda a transmissão por via respiratória, sendo esta por contacto direto. Na área de venda de carnes e de lojas é possível que o vírus se tenha propagado também por contacto indireto. 

Até ao momento não existe um único estudo internacional, incluindo as investigações chinesas, que aponte para se terem encontrado provas de infeção por ingestão alimentar. 

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