Temperaturas extremas ameaçam polinização

por Guilherme Rego
Mei Mei Wong

Segundo um estudo do Imperial College of London, fenómenos meteorológicos extremos como ondas de calor e frio, podem interferir com a temperatura corporal dos abelhões. Com o aumento das temperaturas, a polinização e as distâncias percorridas por estes insetos serão seriamente afetadas. De acordo com Chi-Man Leong, entomólogo em Macau, o impacto das alterações climáticas podem representar “o fim” para muitos insetos e até podem pôr em causa a nossa cadeia alimentar. 

O autor do estudo, Daniel Kenna, salienta que as ondas de frio e calor podem encurtar as distâncias percorridas por algumas espécies de abelhões. Os insetos representam 99% dos animais do planeta, e como criaturas ectotérmicas – cuja temperatura corporal aumenta ao obter calor por fonte de externa -, deixam de se mover com temperaturas muito altas ou muito baixas. Chi-Man Leong explica que é impossível para este tipo de animais sobreviver a climas extremos.  

A investigação também averiguou que, apesar de abelhões em latitudes mais altas beneficiarem com as subidas de temperatura, os que vivem em regiões mais a Sul, onde as temperaturas ultrapassam os 27 graus Celcius, poderão ser gravemente afetadas. Salienta ainda que, com temperaturas ideais, a distância média de voo dos insetos em foco no estudo (Bombus terrestris) é de três quilómetros, porém desce para um quilómetro com temperaturas acima dos 35 graus. A 10 graus, estes animais conseguem apenas voar 100 metros. Quanto mais curta for a distância, menos recursos alimentares encontram, podendo levar a uma descida grave na população dos mesmos. O impacto sobre as plantas com flor é ainda maior, pois estes animais não conseguem polinizar plantas da mesma espécie se estiverem distantes umas das outras, reduzindo a diversidade genética dos ecossistemas.  

O estudo revela ainda que, durante períodos de temperatura mais baixa, os abelhões maiores têm maior probabilidade de sobreviver, sugerindo que animais mais pequenos têm mais dificuldade na adaptação ao frio. Chi-Man Leong explica ao PLATAFORMA o porquê: “Chama-se Regra de Bergmann. Animais maiores, devido à menor proporção entre a sua área de superfície e volume, conseguem armazenar calor mais facilmente. Animais ectotérmicos, como os abelhões, precisam de manter o seu corpo quente para voar durante o inverno. Os maiores conseguem armazenar mais calor para estes voos e estão melhor adaptados a temperaturas frias.” No entanto, o entomólogo local sublinha que o aquecimento global elimina, gradualmente, a vantagem dos insetos maiores em armazenar o calor corporal.  

Um abelhão recolhe pólen de uma flor de rododendro, num jardim nos arredores de Moscovo, em junho.

Irão as temperaturas extremas levar a que animais como estes abandonem os seus habitats naturais? Chi-Man Leong refere que vários estudos apontam que estes fenómenos são muitas vezes “o fim” desses insetos. “É possível abandonarem os seus habitas naturais, mas este novo lugar já é ocupado por outras espécies, e os recursos disponíveis nessa região não vão chegar para a espécie local e a espécie invasora. As investigações revelam que insetos e outros animais migram para zonas mais altas, como as montanhas, mas existem apenas alguns exemplos em cada espécie, e a migração leva sempre ao desaparecimento de outras criaturas”, afirma. 

Relativamente a Macau, Chi-Man Leong diz ao PLATAFORMA que, segundo mais de 4000 fontes, é possível afirmar que a maioria das abelhas de Macau são abelhas asiáticas (Apis cerana), e são por isso mais ativas nos meses de abril e maio. Porém, caso as temperaturas continuem a subir, a sua atividade poderá transitar para meses mais frios. Se estas abelhas estiverem ativas em março, irão também deixar um impacto sobre a época das flores e da fruta, com implicações de vasto alcance. Chi-Man Leong apela aos governos e universidades para desenvolver mais estudos na área da polinização e do efeito do aquecimento global nos animais e plantas.  

No estudo do Imperial College of London, o autor afirma que temperaturas extremas não afetam só estas espécies. “A resposta de vários insetos voadores às subidas de temperaturas poderão levar ao alastramento de doenças transmitidas por insetos e surtos de pestes agrícolas que poderão ameaçar o nosso sistema alimentar”. Refere ainda que os resultados de estudos relacionados poderão ajudar a prever a forma como os pequenos e grandes insetos voadores irão lidar com as futuras alterações climáticas. Chi-Man Leong concorda que as alterações climáticas poderão pôr em causa os nossos sistemas alimentares, visto que “várias plantas selvagens e colheitas, altamente importantes em termos monetários e alimentares para os humanos, dependem de abelhas para polinização.” 

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