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Macau: “Temos um plano alternativo, se faltarem as vacinas encomendadas”

Catarina Brites Soares

O Governo diz não estar preocupado caso falhe o fornecimento de milhão e meio de vacinas que foram encomendadas. Ao PLATAFORMA, a Coordenadora do Centro de Prevenção e Controlo da Doença dos Serviços de Saúde avança que o Executivo já está em contacto com mais fabricantes. Adquirir outras vacinas que estão a ser desenvolvidas no Continente é uma das possibilidades. Leong Iek Hou explica também porque a quarentena e outras medidas de prevenção estão para ficar e avisa: retomar a normalidade dependerá muito da população vacinada.

– Poderia adiantar mais pormenores sobre o plano de vacinação: serão necessários cuidados, como se vacinará pessoas com baixa ou nenhuma mobilidade, quem está infetado com a Covid-19 e em quarentena entrará no grupo prioritário?

– Os grupos prioritários incluem três tipos de pessoas: pessoal da linha da frente, pessoas com alto risco de exposição e quem tenha urgência em viajar, como os estudantes que estudam no exterior. A seguinte fase da vacinação será aberta a todos os residentes. Desde terça-feira, todos residentes podem fazer a marcação online e poderão receber a vacina a partir de 22 de fevereiro. A terceira fase do plano será aberta a trabalhadores não-residentes e às pessoas que aqui permanecem a longo prazo nos termos da lei. No caso dos não-residentes que pertencem aos grupos prioritários receberão a vacina o mais cedo possível. Haverá dez centros e postos de saúde para vacinar. O Hospital Conde de São Januário, por exemplo, dispõe de dois postos. Quem vem do exterior não pertence aos grupos prioritários de vacinação.

– O Governo comprou 400 mil doses de cada uma das vacinas da farmacêutica chinesa Sinopharm, do laboratório britânico AstraZeneca e à BioNtech/Pfizer. Estão garantidas?

– O Governo adquiriu 1,5 milhões doses de vacinas para os 750 mil habitantes, quer isto dizer que cada pessoa pode obter as duas doses recomendadas.

– Não estão comprometidas, apesar da elevada procura mundial? De que forma se resguardou o Governo para garantir que serão fornecidas?

– Não temos cem por cento certeza que virão todas as vacinas encomendadas, mas assinámos um contrato com os fabricantes. Não estamos preocupados.

– Há um plano alternativo caso não haja stock?

– Sim. Temos um plano B. Estamos a planear a aquisição de outras vacinas com eficácia comprovada a nível mundial. Caso não haja stock suficiente, temos um plano alternativo. Além dos fornecedores de vacinas, o Governo também está em contacto com a Organização Mundial de Saúde e com a Aliança Global para as Vacinas (GAVI).

– Que vacinas alternativas são essas?

– Não temos uma lista concreta, mas contactaremos os respetivos fabricantes de acordo com os dados atualizados sobre as novas vacinas que vão aparecendo no mercado.

– Há pelo menos outras duas vacinas a serem desenvolvidas pela China, além da Sinopharm. Há planos para serem administradas no território? 

– Não excluímos essa possibilidade.

– Há notícias de que a vacina Sinopharm, uma das encomendadas pelo Governo e que está a ser administrada no território, tem 80 por cento de eficácia, abaixo dos níveis das vacinas Pfizer e Moderna. Em dezembro, o Peru suspendeu temporariamente os testes com a Sinopharm por causa de “efeitos adversos sérios” sentidos por um voluntário. Mantém a confiança?

– A vacina adquirida pelo Governo da Sinopharm tem uma proteção que atinge cerca de 80 por cento. Mantemos toda a confiança.

– O diretor dos Serviços de Saúde manifestou preocupação que uma desconfiança inicial sobre as vacinas comprometa a criação de uma barreira imunológica. De que forma pretende o Governo resolver a desconfiança? Houve falta de sensibilização?

– A administração das vacinas não é obrigatória, dependerá da vontade de cada um. Para que mais pessoas queiram ser vacinadas de livre vontade, o Governo tem de divulgar mais informações, as vantagens, mas também os riscos. Temos vários materiais de divulgação, como folhetos informativos. Os dirigentes dos principais cargos e os trabalhadores da linha da frente estão a ser vacinados. Esta pode ser uma forma de sensibilizar o público, um exemplo.

– Macau está sem vírus há quase um ano, sem contar com os casos importados. O Governo já anunciou que a vacina não significa a ausência de quarentena e a livre circulação. Qual é nesse caso o interesse em ser-se vacinado quando não se está exposto ao vírus como sucede em Macau?

– Para um indivíduo é a garantia da proteção individual, ou seja, reduzir as complicações no caso de ser infetado. Para uma comunidade é criar uma barreira imunitária coletiva efetiva. Quanto maior for o número de pessoas vacinadas, mais segura será esta barreira. Se houver cada vez mais pessoas vacinadas em Macau e no mundo, a barreira imunitária coletiva será mais sólida e poderemos retomar a vida normal e a atividade económica. Neste momento, que estamos no início da vacinação, não podemos alterar as medidas de prevenção, como a quarentena.

– A vacinação é encarada como uma solução para a retoma da normalidade. Por que motivo o Governo considera que, mesmo com a vacina, continuará a ser fundamental a quarentena?

– Estamos ainda numa fase inicial de vacinação. Ainda não há um grande número de pessoas vacinadas. A cobertura não é alta. Quando houver um grande número de pessoas vacinadas, a proteção será alta e poderemos suspender a quarentena. Para isso terá de haver menos possibilidades de o vírus ser transmitido.

– Quando espera o Governo ter a população toda vacinada e que tudo volte ao normal?

– Não podemos determinar um prazo. Dependerá da vontade da população local ser vacinada e da taxa de população vacinada a nível global. É disso que depende a retoma da normalidade.

– A velocidade com que foram criadas pelo menos três vacinas faz com que haja renitência e receios. Confia plenamente na comunidade científica?

– Apesar da velocidade, todas as vacinas passaram nos ensaios clínicos que incluem três fases. Os resultados foram submetidos às entidades de monitorização de medicamentos. Neste momento, há cem milhões de pessoas vacinadas. Não se verificaram grandes problemas ao nível de reações colaterais. Por isso, consideramos que os benefícios da vacinação superam os riscos eventuais. Continuamos a monitorizar e a acompanhar o processo no sentido de verificar se existem efeitos adversos a longo prazo que ainda não foram identificados.

– À semelhança de outros territórios, Macau também terá um passaporte de vacinação – que permite ao portador viajar entre países com maior facilidade, uma vez que garante a sua imunização à Covid-19?

– Macau não terá um passaporte, mas será emitido um certificado que comprova que a pessoa foi vacinada assim que tomar a primeira dose. Após a segunda dose, damos um cartão de vacinação e essa informação também aparecerá no código de saúde.

– O Governo referiu que haverá um seguro coletivo para as vacinas contra a Covid-19, que será assegurado pela Fidelidade. Pode explicar melhor o que implica um seguro coletivo?

– Há uma modalidade que as seguradoras oferecem em circunstâncias como estas de pandemia, de elevado risco e que afetam populações inteiras. São chamados de seguros coletivos, quer isto dizer que qualquer pessoa que pertença a esse grupo pode recorrer ao seguro. Não é destinado a um indivíduo, mas a toda a população, neste caso, vacinada.

– Alguma vez esperou passar por um momento como este, de uma pandemia mundial como a da Covid-19?

– Enquanto médicos da área de saúde pública estamos sempre preparados para o surgimento eventual de uma pandemia. Temos várias experiências, como a da gripe aviária, grande gripe a nível mundial, e a febre de Dengue. Temos enfrentado várias doenças, mas é a primeira vez que nos deparamos com uma pandemia como esta – de longa duração, que exige medidas rígidas como as de controlo de saída e de entrada, testes de ácido nucleico, entre outras respostas. Nunca enfrentamos nada assim. Esta pandemia obriga-nos a um estudo e ajustamento de medidas, contínuos. Temos de elaborar e repensar as decisões com avanço do tempo e de acordo com a circunstância.

– Qual foi o momento mais difícil até hoje?

– No início. Não conhecíamos bem a doença e o vírus.

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