Tecnologias da Informação longe das escolas

por Filipa Rodrigues
Carol Law

Com o rápido desenvolvimento das tecnologias da informação (TI), a inclusão desta área do conhecimento na educação tem sido uma das prioridades do Governo de Macau ao longo dos últimos anos. Em 2018 a Direção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) solicitou ao Departamento de Relações Internacionais do Instituto Nacional de Educação de Singapura (NIEI) o desenvolvimento de um projeto de “Avaliação da Educação em Tecnologias da Informação”, que oferecesse também sugestões para Macau. O relatório do estudo concluiu que o uso de TI no sistema escolar local continua a ser reduzido. A académica Sou Kuan Vong, em declarações ao PLATAFORMA defende a universalidade das TI no sistema de ensino.

De acordo com a sondagem “Utilização das Tecnologias da Informação dos Agregados Familiares” de 2019, organizada pela Direção dos Serviços de Estatística e Censos, entre os 71.600 inquiridos, com idades entre os 3 e os 14 anos, 48.500 utilizam a internet, ou seja, 67 por cento. A maioria afirma que tem acesso à internet em casa, seguindo-se o acesso móvel através de um smartphone e, por último, o acesso na escola. O principal propósito do uso da internet é o entretenimento, seguido pela comunicação e por último o acesso a recursos de informação, a maioria efetuando um acesso diário. Nesta mesma faixa etária, 20.500 afirmam possuir telemóvel.

Para os inquiridos entre os 15 e os 24 anos, a taxa de uso de internet é já de 99 por cento, a maior entre todos os grupos. A maioria possui smartphones e, por isso, tem acesso à internet a qualquer momento e em qualquer lugar, seguindo-se também o acesso em casa e, por último, na escola. O principal objetivo de uso é a comunicação, seguido pelo entretenimento e pela procura de informação. É importante ainda salientar que de acordo com os dados da sondagem em 2019, 5.00 agregados familiares afirmam ter um membro com menos de 15 anos e nenhum computador em casa, o que representa 3 por cento dos agregados inquiridos.

A internet faz parte do nosso dia-a-dia, até as crianças possuem conhecimento sobre as TI. Porém, com o rápido desenvolvimento, é também essencial ensinar às novas gerações formas eficientes de usar as TI e prepará-los para o futuro desenvolvimento através do sistema de educação. A síntese do estudo encomendado pela DSEJ ao NIEI foi publicada no website da DSEJ já durante este ano e os dados revelam que tanto alunos como professores possuem uma atitude positiva em relação às TI, todavia o respetivo uso durante as aulas continua a ser reduzido. Os professores continuam a enfrentar alguns desafios na execução, especialmente devido à falta de recursos e motivação. É necessário também reavaliar os atuais planos de implementação tecnológica por professores desta e outras áreas, para que estes o façam de forma autónoma e oportuna após adquirir a competência. 

Em resposta ao PLATAFORMA, a DSEJ esclarece que o serviço Campus Inteligente, focado no ensino a partir de casa e a educação online, entrou em funcionamento no corrente ano letivo. A direção salienta que o projeto apoia as escolas na administração e desenvolvimento do ensino online, combinando o uso de plataformas de armazenamento em nuvem, promovendo a digitalização do ensino e aprendizagem e a inovação do sistema tradicional de ensino. No futuro, este serviço de Campus Inteligente será enriquecido anualmente e promovida a informatização do ensino e administração. A DSEJ irá continuar a incentivar os estabelecimentos de ensino e o corpo docente a adotarem métodos mais inovadores e a otimizarem os recursos de ensino online através dos Prémios para o Projeto Pedagógico, partilhando os casos de sucesso e experiências de valor com outras escolas. 

A DSEJ assegura também que os serviços vão continuar a aperfeiçoar o “Plano de Desenvolvimento das Escolas”, com uma das medidas previstas centrada no aumento da atual taxa de proporção de computadores por aluno, de 1 por 6 alunos, para 1 por 4 em escolas secundárias, e de 1 por 8, para 1 por 6,5, para escolas primárias, podendo cada estabelecimento candidatar-se em função das necessidades. Serão ainda organizadas e financiadas atividades e concursos científicos como a “Competição para a Seleção de Jovens de Macau para a Atividade de Ciência Robótica Integrada”, contribuindo para o desenvolvimento na inovação tecnológica dos estudantes locais. 

De acordo com a informação partilhada pela DSEJ no Portal da Educação de Tecnologia Informática de Macau, entre os anos letivos de 2007/2008 e 2019/2020, foi investido um total de 680 milhões de patacas no ensino de TI, com a execução do plano “um computador portátil por docente” e a promoção da atualização do software e hardware usado nas escolas, assim como a construção de intranets escolares e conectividade online. Neste portal é ainda partilhado que a DSEJ apoia a contratação de profissionais da área por vários estabelecimentos de ensino. No ano de 2019/2020 Macau contou com 112 profissionais de TI para ajudar as escolas a planear a execução de projetos de desenvolvimento de ensino nesta área.

Segundo a académica Sou Kuan Vong, muitas escolas ainda consideram os profissionais de educação de TI pessoal não-docente, fazendo com que estes tenham uma participação mais reduzida no planeamento e integração da área em outras disciplinas, e que os alunos tenham menos oportunidades de praticar o respetivo uso. Lembra que numa visita à Finlândia, realizada há cerca de 10 anos, notou que o nível de literacia tecnológica era mais elevado entre os alunos e que a tendência local era a de integrar as aplicações informáticas em várias disciplinas. 

Por exemplo, alguns professores exigiam que os estudantes, além de trabalhos de investigação, usassem ainda a informática para apresentar os respetivos resultados, ou seja, criando oportunidades de uso e prática destes recursos. Por outro lado, durante a pandemia, várias escolas em Macau implementaram um sistema de ensino online, mas muitos alunos não conseguiram acompanhar o ensino devido à falta de apoio familiar ou condições económicas. Sou Kuan Vong sustenta, por isso, que o ensino de TI deve ser universal, e não concentrado apenas num grupo reduzido de pessoas. 

“As disciplinas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) ainda não foram popularizadas, várias incluem apenas alunos que possuem um particular interesse na área, ou apenas os melhores alunos, como as aulas de robótica. Dos vários milhares de alunos na nossa escola, apenas 8 ou 10 conseguem participar, o que não é muito positivo para a ciência”, assinala.

E acrescenta: “Durante o desenvolvimento de talentos no século XXI temos de garantir que todos temos um certo nível de compreensão nesta área. Deve haver uma base de compreensão das TI e a possibilidade de cada aluno se tornar num futuro cientista deve depender apenas da respetiva capacidade de desenvolver essas bases, não estando apenas concentrada num pequeno grupo de pessoas. Não podemos assumir uma direção errada.”

Esclarece que, desde que a informática se tornou parte da sua vida, começou a promover a consciencialização do uso correto destes recursos. 

“As TI são altamente convenientes e rápidas, mas as informações publicadas podem ter um impacto negativo na vida de muitas pessoas. Atualmente muitos alunos comportam-se de forma irresponsável online, mas não se sentem culpados. Falta ainda uma consciencialização moral e ética para o uso da internet. Não é que os professores não o mencionem, mas será que aprofundam este assunto? Por exemplo, o uso de TI e as leis de privacidade pessoal, como é que os professores as interpretam? Resumindo, acho que não é uma questão apenas técnica. A tecnologia deve ser compreendida e dominada, mas também se deve investir mais nos princípios que regem estes recursos”, conclui.

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