Candidatura anunciada

por Gonçalo Lopes
Paulo Rego*

Fontes próximas do Chefe do Executivo (CE), citadas pela Macau Business – MNA, deram o primeiro sinal público de que Ho Iat Seng prepara o anúncio formal da sua candidatura a um segundo mandato. Essa vontade, há muito conhecida, é agora assumida, indiretamente, desmentindo-se que o prolongamento das suas férias – inesperado – estaria ligado a questões de saúde, ou familiares. Até porque se multiplicavam rumores de que essa seria a narrativa da saída pelo próprio pé. Os novos dados não esclarecem tudo, mas firmam a vontade do CE.

Há nos bastidores vozes díspares sobre o que estará, de facto, a acontecer. E a especulação continua; o que é normal nestes processos, sobretudo enquanto Pequim não clarifica a sua posição. A conclusão mais provável é a de que Ho Iat Seng sente estarem reunidas condições para avançar. Na cultura política de Macau, seria estranho lançar a candidatura a um segundo mandato, arriscando perder para quem possa ultrapassá-lo. Em Macau é possível reunir outras vontades, mas a decisão vem do Norte.

Tendo em conta as dificuldades em garantir apoio vasto – e claro – quer nos mais influentes setores locais, quer nos corredores do Poder Central, há quem considere este passo uma estratégia para testar as águas, medindo as reações que a notícia possa provocar. O novo rumor é que Ho Iat Seng terá prolongado as férias precisamente para finalizar negociações; quiçá deslocando-se mesmo a Pequim; ou, pelo menos, ganhando tempo para se bater junto de quem, na capital, garanta o apoio decisivo. Certo é que, neste contexto, quem queira avançar terá de o fazer declaradamente contra o CE. O que torna o funil mais apertado; por maioria de razão, para membros do atual Governo, e todos os que o acompanharam mais de perto no primeiro mandato. Ou seja, qualquer ambição só pode ser mantida por quem sinta força suficiente para o desafio. E não será Jorge Chiang (ver última).

Percebe-se, nas conversas mais discretas, que nas primeiras audições aos membros da Comissão Eleitoral não houve qualquer vaga de fundo a favor Ho de Iat Seng – antes pelo contrário. Mas também se sabe que, no final, a decisão é centralizada. É essa, apesar de tudo, a dúvida que se mantém. O calendário eleitoral foi prolongado – só a 11 de agosto a Comissão Eleitoral toma posse – e ainda não houve sinais claros de Pequim. Pela primeira vez, por esta altura, a dúvida mantém-se.

As hipóteses mais óbvias são três: continua tudo na mesma e, quem não gosta, terá de viver com isso; Ho Iat Seng mantém-se, mas aceita um conjunto de mudanças, secretários diferentes e mais autónomos; ou, apesar da sua vontade, o CE leu mal as condições e ainda recua. Há uma quarta hipótese, menos provável, mas teoricamente possível: o CE avança contra outro candidato, com força e lobby que lhe permita verdadeiramente disputar os votos da Comissão Eleitoral. Seria uma verdadeira eleição, inédita, entre dois candidatos com aval do Poder Central. Não é essa a dinâmica do período pós-transição, mas também não faria mal a ninguém. Dava ao sistema uma imagem diferente; e, ao vencedor, uma rede de apoio e margem para governar que, de outra forma, dificilmente terá.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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