“Macau pode ser uma grande montra para a entrada dos vinhos na China continental”

A China é atualmente apenas o 20° país onde mais se vende vinhos portugueses, no entanto, para a ViniPortugal a relação qualidade-preço e a unicidade das castas portuguesas são vantagens que podem ajudar Portugal a aumentar as suas exportações. A grande oferta já existente em Macau torna a cidade o ponto de entrada perfeito para o mercado chinês.

por Gonçalo Lopes
Nelson Moura

Nos primeiros meses de 2024, as exportações para a China aumentaram 12 por cento, totalizando já dois milhões de euros, um ótimo sinal, segundo Sónia Vieira, diretora de marketing da ViniPortugal.

“Desde 2017, tínhamos vindo a perder mercado e pela primeira vez, temos aqui uma tendência de recuperação”, exalta.

“No ano passado exportamos para este mercado 7,8 milhões de euros, já é o nosso vigésimo mercado, portanto, 2 milhões nos três primeiros meses é uma boa notícia.”

Fundada em 1996, a ViniPortugal, ou Associação Interprofissional dos Vinhos de Portugal, tem como missão é promover a imagem internacional de Portugal como país produtor de vinhos.

Pequim, onde estão concentrados uma grande parte de importadores do país, tem sido sempre um dos grandes focos da indústria vinícola portuguesa, mas com Xangai, Guangzhou e Chengdu também cidades-chave do mercado.

O país está já incluído nos 21 selecionados pela ViniPortugal como mercados prioritários em termos de promoção, e apesar de um orçamento reduzido, a associação quer usar Macau como alavancas para esta expansão.

Entrada via Macau

A organização tem alocado anualmente entre 400 e 500 mil euros para promover vinhos portugueses na China, principalmente em Xangai e Macau.

“A presença anual em Macau é agora uma prioridade, visto que a cidade já possui uma base estabelecida de consumidores de vinhos portugueses”, acrescentou.

“Não foi assim sempre, antes estávamos em Macau de três a três anos, mas percebemos que temos que fazer um trabalho diferente”.

A 23 de maio deste ano, por exemplo, a ViniPortugal organizou um evento no Ritz Carlton, em Macau, com a presença de 13 empresas portuguesas.

“O propósito destas provas é mostrar e criar condições para que os produtores façam negócios numa primeira fase, e numa segunda fase poder mostrar os vinhos portugueses aos consumidores locais”, afirma.

Segundo Vieira, Macau pode ser a “grande montra” para a entrada dos vinhos no interior da China, sendo um mercado onde a categoria Portugal já é conhecida, com prateleiras de lojas e supermercados já cheias de diferentes vinhos portugueses.

“Isto ao contrário de Guangzhou, onde ainda estamos a tentar criar o nosso espaço de prateleira, com um trabalho totalmente diferente”, descreve.

“Macau vive muito do turismo continental, este visita Macau, depara-se com uma visibilidade dos vinhos portugueses grandes e isso ajuda o negócio sem dúvida”.

Vieira descreve que as produções vinícolas portuguesas mais populares na China atualmente são principalmente do Douro, o Alentejo, e vinho do Porto.

“Percebe-se, pois são as regiões mais conhecidas, é normal serem estas, mas começamos a ver outras regiões entrar, o Tejo, o Setúbal, Lisboa, já fazem parte deste ‘top 10’, digamos, de regiões que mais vendem para a China”, sublinha.

Desafios e oportunidades no mercado chinês

Vieira apontou diferenças significativas entre o mercado de Macau e do resto do país: “Enquanto na China continental ainda temos que convencer os importadores e distribuidores a ter a categoria Portugal, em Macau a categoria já está bem presente”, explicou. O desafio em Macau é convencer os consumidores chineses a preferirem os vinhos portugueses relativamente aos franceses ou italianos.

“Temos de conseguir ajudar mais o ‘sell out’, out seja, fazer chegar, convencer os consumidores a preferirem Portugal à França ou outras proveniências”, descreve.

Como outros obstáculos para os produtores de vinho portugueses descreve a barreira linguística e a falta de conhecimento dos consumidores sobre vinhos portugueses.

“O fato de a China não ser um mercado especializado também é uma dificuldade, porque um empresário hoje importa vinho, amanhã importa sapatos”, explica.

“Genericamente falando, porque existem obviamente alguns importadores de longa data, mas é o mercado onde existe menos essa especialização”.

A própria dimensão do país é descrito como um grande desafio, com Vieira a aconselhar os produtores portugueses a estudar muito bem quais os mercados em que apostam dentro da China.

“Aquilo que tem sido a procura dos produtores é por regiões onde se valorize o crescimento do preço médio, portanto, vinhos de maior valor”, acrescenta.

A crise económica global e a inflação pós-pandemia afetaram também, e muito, o consumo de vinhos internacional, com Portugal e a China a não ser exceção.

“Temos uma guerra na Europa, uma grande instabilidade económica, aumento de custo de vida, e isso é o maior desafio neste momento. Convencer as pessoas a consumir vinho, um produto não essencial”, avisa.

No entanto, considera que a conjuntura económica pode até ser uma vantagem para os vinhos portugueses, pois em períodos de menor poder de compra os consumidores “podem descobrir Portugal como uma alternativa de qualidade a preços mais acessíveis”.

Entretanto, as múltiplas e únicas diferentes castas portuguesas diferenças podem ser atrativas para críticos e consumidores “já fartos de Cabernet Sauvignon e Merlot”.

“A singularidade dos vinhos portugueses e a crescente curiosidade dos consumidores internacionais são vistas como grandes oportunidades”, afirmou Vieira.

“Hoje em dia temos um consumidor cada vez mais experimentalista, que gosta de viajar e quando chega a Portugal impressiona-se com os nossos vinhos e quer depois reproduzir essas experiências junto os seus amigos, junto dos seus mercados locais.”

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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