A Escola é um bem público não é ringue político nem lama pessoal

por Gonçalo Lopes
Paulo Rego*

Pouco teria a dizer sobre a substituição de docentes da Escola Portuguesa, depois do editorial do diretor deste jornal, há duas semanas. Contudo, a politização ilegítima do debate, a emoção excessiva e o desfoque, descambam agora em ataques de caráter, simplesmente inaceitáveis. Não se pode lançar poeira sobre a vida das pessoas, a pretexto de interesses institucionais; que escondem agendas pessoais. O direito à crítica, ao debate público, e à luta política, exigem limites. E esses estão a ser ultrapassados.

Há erros no processo, imputáveis aos dirigentes da Escola, e da Fundação que a dirige. Sobretudo falta de comunicação prévia, sensibilidade sociológica, e até de gestão política; quer no seio do Conselho da Fundação, quer junto das autoridades da RAEM e de Portugal. Estando até em risco a substituição dos professores dispensados.

Mas a reação, exagerada, e com dados truncados, expõe outras realidades. Primeiro, há uma comunidade que aqui liberta a tensão, tendo perdido a segurança no seu espaço de opinião e debate público. Calados no emprego, no café, nos jornais… de repente encontram um tema no qual todos se julgam especialistas; debatendo cada vírgula como se de futebol se tratasse; ou como se a voz pública retomasse um sentido perdido noutros contextos. Compreende-se; mas não faz sentido – e está a correr mal. É preciso ter calma. No final, o que importa é a defesa dos alunos; da instituição; e do próprio nível da crítica. Ultrapassam-se todos os limites quando se explora o tema para atacar todos os postos de representação portuguesa, minando o caráter e a legitimidade de quem os ocupa. Errar é humano – isto já é desumano.

O último comunicado do PSD local é inaceitável. Pelo aproveitamento político do tema, mas sobretudo pela pessoalização, insinuações com poeira relacional e ataques de caráter, sem sentido de responsabilidade nem de urbanidade. Tratámos esse comunicado no website, com dúvidas, preferindo não calar a voz de um grupo institucional. É discutível, mas por vezes mais vale expor a desgraça do que atirá-la para baixo do tapete. Certo é que nada daquilo faz sentido, e em nada contribui para o debate. Esse, deve ser levado até ao fim, como o processo deve ser conduzido a bom porto; protegendo o essencial e condenando o que não tem cabimento.

Todos se lembram dos ataques sem quartel ao “socialista” Vítor Sereno, tendo ele vindo – imagine-se – do gabinete de antigo ministro Miguel Relvas, no Governo de Passos Coelho. Aliás, Miguel Relvas e José Cesário, que está de regresso ao Governo português, frequentavam a mansão do Bela Vista, onde tinham quarto de hóspedes – e lá recebiam quem queriam, nas agendas que entendiam – deixando que o seu partido local linchasse na praça pública o amigo que os recebia.

Sejamos claros: está em curso nova tentativa de controlo das nomeações no Consulado, no IPOR, na AICEP, no Fórum Macau, na Escola Portuguesa… será legítimo? Talvez… Mas no tempo certo, no local próprio, e em termos aceitáveis. O que a ninguém dispensa do dever de representação – já que o querem ter – e do respeito na luta política. Há quem defenda que nem o podem fazer, em Macau, onde não há partidos políticos. Mas não faz sentido calar seja quem for; importa é ser exigente sobre a forma como o fazem.

Já muita coisa se perdeu neste processo; mas muitas outras há ainda a ganhar. Uns têm de aceitar a crítica e ouvir o que importa; sem convulsões emocionais; corrigindo erros, e separando o trigo do joio. Os outros têm de zelar pela decência no debate público, sob pena de perderem a razão que possam sustentar. Insinuações gratuitas sobre relações, devassa ao profissionalismo e ao caráter das pessoas, nada têm a ver com a causa pública, nem com a real preocupação com as instituições. Oxalá tudo isto não termine com a aplicação do princípio do pagador/decisor. Porque já se nota a pressão para que as autoridades da RAEM ponham mão nisto.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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