Dúvidas sobre a EPM podem esperar

por Gonçalo Lopes
Guilherme Rego*

Saem 12 professores, entram dez, segundo as contas do diretor da Escola Portuguesa de Macau, Acácio de Brito. O tema tem sido acompanhado pelos jornais de língua portuguesa, pelos governos de Portugal e Macau, e são várias as pessoas na comunidade portuguesa e de fora que mostram preocupação com o episódio. Não fujo à regra; não porque duvido da qualidade dos que entram, mas porque acaba por ter um impacto que talvez não teria numa escola maior, onde a relação entre professores, entre alunos, e com a comunidade, não fosse tão próxima. A EPM é um porto de abrigo para a cultura e língua portuguesa, e não há outra instituição de ensino como esta em Macau. O processo poderia é ter sido melhor comunicado, e melhor gerido. Nomeadamente dando tempo aos professores dispensados para reorganizarem as suas vidas.

Não me cabe a mim fazer juízos de valor quanto aos critérios da reestruturação; catalogar a situação como positiva ou negativa. Quiçá, a médio-longo prazo se revele ter sido a decisão acertada, do ponto de vista da gestão e do ensino. No curto prazo, já é mais complicado, porque haverá um período de adaptação. Teremos de esperar para ver, mas obviamente haverá maior escrutínio por parte da comunidade; quer com o diretor, quer com a presidência da Fundação da EPM. Há pouca margem para erros… que vão inevitavelmente acontecer. Não me parece que Acácio de Brito contrate professores que não sejam minimamente condizentes com o contexto escolar atual: turmas com cada vez menos alunos de língua materna portuguesa. Conhece alguns deles? Provavelmente sim, o que não é necessariamente mau, nem pode ser imediatamente classificado de favorecimento a gente próxima. Ter experiências passadas com esses profissionais mitiga falhas de recrutamento; contudo, mesmo que as relações humanas não tenham falado mais alto que a responsabilidade de quem decide, uma coisa não se pode garantir: a adaptação dos docentes à cidade. Será que os dez vão gostar de Macau? Ninguém tem resposta. A Escola Portuguesa de Macau sempre foi forçada a reposições constantes, e nem sempre correu bem. Em dez, é natural que haja contratações falhadas.

Passei pela Escola Portuguesa de Macau como aluno do secundário. Embora tenha sentido um nível de ensino alto, comparativamente a outras escolas portuguesas – e o ranking nacional confere -, reconheço que havia muitas lacunas, entretanto exacerbadas durante a pandemia. Percebo que o novo diretor queira começar o ano letivo nos seus termos, com novo sangue. E, apesar da preocupação pública, e até de pedidos para que Neto Valente e Acácio de Brito se demitam, é preciso dar o benefício da dúvida – esperar para ver, e agir se as mudanças não produzirem resultados. O que importa, pese embora as relações que foram criadas durante anos com alguns dos professores que saem, é que os alunos possam terminar a escola preparados para ingressar no ensino superior e no mercado laboral. E os que entram para aprender português, saiam com esse valor adquirido. Não acredito que isso esteja em causa.
Por fim, resta a questão da residência. Alguns professores dispensados são residentes, e vão ser substituídos por outros com licença especial; ou seja, detentores de Blue Card. A comunidade portuguesa queixa-se das dificuldades de acesso ao BIR, mas em nenhuma circunstância uma instituição – ou empresa – de matriz portuguesa deve ser refém dessa condição, obrigada a manter profissionais portugueses só porque têm BIR. Não é essa a luta. Lutamos por esse direito, entretanto revogado pelas autoridades locais, porque é um sinal da abertura de Macau aos portugueses, da preservação de um status quo que tanto deu à cidade, e hoje tem potencial para dar mais ainda.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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