“Perigoso independentista” pede “paz e reconciliação”

por Gonçalo Lopes
Paulo Rego*

Lai Ching-te tem revelado um discurso esquizofrénico. Num dia, age como se pudesse desafiar Xi Jinping, atirando-lhe à cara a vitória eleitoral em Taiwan. No outro, cercado pela marinha chinesa, já pede “paz” e “reconciliação”. Os exercícios militares foram, de facto, ameaçadores; promovidos como “castigo” e aviso a um Presidente cuja legitimidade Pequim nem sequer reconhece e a quem classifica de “perigoso independentista”. Tomou posse na segunda-feira, e corrige agora o tiro, porque começou mal. A negociação e o entendimento são a única via que nos livra de uma potencial catástrofe no Estreito – e em todo o mundo.

Xi Jinping fez bem, quando após as eleições em Taiwan assumiu que é preciso “conquistar os corações dos taiwaneses”. Discurso que parecia ser conciliador, e capaz de recuar nas ameaças musculadas de invasão. Mas inverteu caminho. E é agora voz corrente nos bastidores de Pequim que há “falcões” cada vez mais interessados no conflito militar; e em oferecer a Xi Jinping a reanexação – a bem ou a mal – neste seu mandato prolongado. Esse abismo não serve ninguém, nem à China; pelo menos àquela de que gostamos, da qual Macau faz parte, e que queremos aceite e respeitada em todo o mundo.

Taiwan é o tema mais esquizofrénico da diplomacia moderna. Uma ilha, para a qual fugiram os derrotados da guerra civil, é hoje uma potência económica global; tem governo, moeda, exército próprios; e relações internacionais dignas de uma nação, embora toda a gente reconheça que há uma só China e que a independência não pode ser unilateralmente declarada. Não é perfeito; é até difícil de enplicar; mas é fácil entender o pragmatismo e o interesse mundial nessa contradição.

Não é preciso concordar com a China para perceber que não faz sentido Taipé provocar esse status quo. É um erro grave, potencialmente irrecuperável. Não é preciso concordar com Taiwan para se perceber que Pequim perde muito mais do que ganha se não contiver impulsos militaristas. O que é preciso é conciliar – e praticar – a paz e o bom senso.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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