O que Jiangsu diz de Macau

por Gonçalo Lopes
Guilherme Rego*

Fiz parte de uma delegação de jornalistas de língua portuguesa e inglesa que, de 23 a 27 de maio, esteve na província chinesa de Jiangsu (página 10 a 11), a convite do Gabinete de Ligação na RAEM e Governo Provincial de Jiangsu. Não é justo para os nossos leitores traduzir os cinco dias em verdades incontestáveis. Nestas viagens, é importante que consigamos ver o máximo possível. E, como tal, sobra pouco tempo para conviver com a população, perceber as suas dificuldades, e o que representa para eles o que vimos. Por outras palavras, há sempre dois mundos, e é impossível passarmos da superfície num período tão curto.

Contudo, a reflexão é importante, e rapidamente no subconsciente começam a estabelecer-se comparações com Macau – onde vivemos e trabalhamos.

Jiangsu é das províncias com mais História na China. E apesar de períodos conturbados, onde o radicalismo destruiu monumentos e outras relíquias, a verdade é que há um esforço enorme para reerguer o passado. Macau também sabe o valor do património cultural e histórico que abriga. As Ruínas de São Paulo, por exemplo, são um ‘must’ para quem visita Macau. Não só por o que representa, como património cultural tangível e símbolo das relações entre ocidente e oriente, mas por todo o complemento que foi feito a redor, com várias lojas características, jardins, e um espaço urbano que consegue ser preservado apesar da grande afluência diária.

É o aproveitamento turístico, mantendo valores inegociáveis com o passado. Em Nanjing e Suzhou também pudemos ver esse cuidado, no Rio Qinhuai e no Bairro de Pingjiang, respetivamente. Locais históricos, reanimados por comunidades que preservam o que foi, e projetam o que será. A diferença, diria, é a panóplia de opções – inquéritos a turistas em Macau demonstram que há algum descontentamento com a falta de património -, sendo que nesse capítulo há pouco que se possa fazer.

Quando visitámos empresas, integradas em parques industriais, as realidades entre Macau e Jiangsu ganham distância; vê-se o futuro, não tão longínquo como se pensa. A mão do Estado é bem visível, e ainda bem – abre as portas a uma qualidade de vida diferente. Aqui, não se pode estabelecer um paralelismo com Macau, mas sim com Hengqin – a Zona de Cooperação Aprofundada, que irá dar resposta a todos os problemas da RAEM. No âmbito da diversificação económica, a nossa cidade está, de facto, a anos luz do que vimos em Jiangsu. Tanto em Nanjing como em Suzhou, vimos a pujança de uma indústria do turismo alicerçada no património, mas também a irrequietude do desenvolvimento tecnológico, capaz de surpreender e oferecer soluções a nível mundial. É importante sublinhar que nenhum destes parques industriais foi construído ontem; o mais recente tinha duas décadas. Macau tem de olhar para Hengqin e perceber quais são os nichos que pode explorar para ser relevante, quer no plano nacional, quer no plano internacional.

Para concluir, de salientar a ligação entre Jiangsu e Macau, que não se limita aos jardins germinados de Lou Lim Iok e Jardim do Leão, em Suzhou. Há mais, e foca-se precisamente na plataforma sinolusófona. Deixo alguns dados curiosos: Jiangsu é a província chinesa de eleição para estudantes de Macau e dos PLP que optam por estudar no interior da China.

O volume total das importações e exportações de produtos agrícolas entre Jiangsu, Macau e os PLP tem registado um crescimento médio anual de dois dígitos. Até ao final de agosto de 2023, Jiangsu aprovou 112 projetos de investimento em Macau e nos PLP, envolvendo acordos no valor de 1.15 mil milhões de dólares norte-americanos. Os números, facultados à delegação pelas autoridades de Jiangsu, não transparecem aquele que foi o papel de Macau, e os “lucros” retidos na Região. Contudo, revelam a importância que no Continente se dá a Macau para as trocas com os PLP.

No futuro, espero que Macau reconheça também essa sua importância, e que a utilize para patentear o seu estatuto de plataforma sinolusófona em várias áreas.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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