Casinos continuam a empurrar a economia

A administração quer manter o peso do jogo na economia abaixo dos 40% este ano. Analistas e os dados analisados apontam para a indústria dos casinos deve aumentar entre 18 e os 30 por cento em 2024. No entanto, há dúvidas que fora dos casinos o crescimento seja tão pujante.

por Gonçalo Lopes
Nelson Moura

O peso do jogo no Produto Interno Bruto (PIB) atingiu os 36,2 por cento em 2023, disse esta semana o Chefe do Executivo de Macau, Ho Iat Seng. Com a administração a esperar manter a contribuição do setor “dentro dos 40 por cento” como parte de esforços para diversificação económica.

Como referência, em 2019 o setor do jogo tinha contribuído diretamente para 50,4 por cento da economia da RAEM.
Segundo dados analisados pelo PLATAFORMA, tanto os setores jogo como não jogo devem aumentar este ano, mas o diabo está em se os restantes setores da economia vão crescer a um nível que mantenha essa “linha d’água” definida pelo Governo, ou se o jogo vai outra vez aumentar a sua importância.

Um atrás do outro

Para Jacky So, Professor Catedrático de Finanças, da Faculdade de Administração da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau qualquer projeção sobre a possível peso do jogo na economia para este ano é ainda difícil tendo em conta os dados atuais. “Com a promoção de atividades e programas não relacionados com o jogo em Hong Kong e Macau, e assumindo que estas iniciativas sejam eficazes, as receitas não relacionadas com o jogo podem aumentar. Assim, esta proporção (jogo/não jogo) deve permanecer a mesma; ou diminuir ligeiramente,” diz o economista.

Por isso Jacky So é peremptório: qualquer projeção para o peso do jogo em 2024 é ainda precária pois desde que as novas concessões foram concedidas “só temos dois ou três pontos de dados” como referência.

Segundo os dados analisados, a diminuição da percentagem do jogo na economia local tem estado ancorada no aumento dos restantes setores da economia, e não na diluição da indústria dos casinos.

No total, sabe-se que o PIB da Região Administrativa Especial atingiu 379,5 mil milhões de patacas, um salto de quase 80 por cento para com o ano anterior. Entre 2022 e 2023, as receitas do jogo quadruplicaram para 183,1 mil milhões de patacas, um salto que contribui consideravelmente para o crescimento notável da economia no ano passado. Essa avaliação positiva beneficiou também do contraste acentuado para um 2022 ainda de contração pandémica.

Este aumento seguiu a expansão do número total de visitantes, que quase aumentou 400 por cento em termos anuais – em 2023.

Felizmente para os planos do Governo, a despesa total dos visitantes em áreas fora do jogo – compras, alojamento, etc – em 2023 quase triplicou face ao ano anterior. No ano passado, Macau acolheu cerca de 28 milhões de visitantes, com as autoridades a quererem agora elevar a fasquia para 30 milhões.

A administração pretende atingir esses valores através do alargamento do mercado de turistas internacionais e da multiplicação de convenções, exposições, espetáculos, e eventos culturais e desportivos no centro dessa estratégia.

Quem cresce mais?

Quase todos os analistas e economistas esperam agora que o crescimento da economia tenha um aumento mais modesto em 2024. O Fundo Monetário Internacional já deu o palpite: o PIB de Macau deve aumentar 13,9 por cento em 2024, voltando a valores semelhantes ao pré-pandemia em 2025. Para o FMI, este aumento estará alicerçado na recuperação contínua do setor do jogo e do investimento em empreendimentos não relacionados com o jogo, que devem ‘puxar’ para cima os investimentos privados na RAEM.

“Tudo depende do resto da economia. Se o resto da economia não crescer, então logicamente o jogo aumentará a sua participação,” diz ao PLATAFORMA o analista do jogo Ben Lee. Para o consultor, a cidade deve reportar em média cerca de 18 a 19,5 mil milhões de patacas de resultados brutos do jogo por mês este ano.

Utilizando a estimativa mais elevada, significa isto um total de 234 mil milhões de patacas em resultados do jogo em 2024, ou 27,9 por cento mais que no ano passado.

O próprio Governo de Macau, geralmente conservador nas previsões, prevê que a receita bruta do jogo atinja 216 mil milhões de patacas, um aumento de cerca de 17,9 por cento. Contudo, um crescimento entre os 28 e 30 por cento parece ser o consenso entre os vários bancos de investimento consultados pelo PLATAFORMA, muito devido ao aumento do número de turistas na cidade.

Esse crescimento, no lado dos casinos, naturalmente terá um impacto indireto na restante economia da cidade, mas fica por ver a que nível os restantes setores podem ainda crescer.

Positivo e negativo

Os principais componentes na análise do PIB incluem a formação bruta de capital fixo, consumo público e privado, e exportações de serviços do jogo e as exportações de outros serviços turísticos.

Estando 2024 ainda a menos de meio, os detalhes de muitos desses indicadores ainda não foram revelados, mas é possível já ter uma ideia de como poderá ser o desempenho económico da RAEM este ano fora dos casinos.

Esta semana o Secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, já indicou que o Produto Interno Bruto da RAEM cresceu 25,7 por cento nos primeiros três meses de 2024. A despesa total dos visitantes fora do jogo cifrou-se em 20,35 mil milhões de patacas, crescendo 35,9 por cento em termos anuais; e até 20,2 por cento face ao período pré-pandemia. No mesmo período, as autoridades contam que a cidade tenha organizado cerca de 20 convenções e exposições, atraindo cerca de 33.000 participantes, com os dados exatos ainda por revelar.

Outros indicadores, no entanto, não abonam tanto a favor de uma diminuição da percentagem do peso da indústria dos casinos.

O valor total do comércio externo de mercadorias na cidade, por exemplo, desceu 7 por cento no primeiro trimestre, em comparação com o período homólogo.

O setor imobiliário local também continua em crise, com o número de transações a subir, mas os valores imobiliários transacionados a descer. Por um lado, no primeiro trimestre de 2024 transacionaram-se 965 frações autónomas e lugares de estacionamento, pelo valor total de 4,76 mil milhões de patacas; um crescimento de 19 por cento e 26,6 por cento, respetivamente, face ao quarto trimestre de 2023. Contudo, o preço médio por metro quadrado em frações autónomas habitacionais globais desceu 4,8 por cento, para 85.004 patacas.

Do lado da Administração, segundo dados da Direção dos Serviços de Obras Públicas, encontram-se neste momento em curso 53 projetos de infraestruturas públicos com valores acima das 100 milhões de patacas. Muitos destes projetos encontravam-se já em andamento no ano passado, e totalizam atualmente cerca de 55,8 mil milhões de patacas em investimento público.

Com este cenário macroeconômico, uma coisa é certa: os casinos devem continuar à frente do pelotão.

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