Israel perde apoio internacional

por Gonçalo Lopes
Guilherme Rego*

Contra todos os pedidos, inclusive dos seus aliados internacionais, Israel decidiu, a meio de negociação para um cessar-fogo, realizar uma ofensiva em Rafah. De seguida, os Estados Unidos, que até então tentavam ao máximo justificar a necessidade israelita de defesa territorial, decidiram parar de enviar bombas para Tel Aviv. Isto porque, a única condição para poder justificar este ataque, era a garantia de que os corredores humanitários para Gaza não fossem cortados; mas foram. Israel defende que só a invasão terrestre em Rafah lhes permitia enfraquecer as estruturas militares do Hamas – o que lhes concederia também maior poder nas negociações. Mas a maior parte das vítimas do ataque acabaram por ser os inocentes. E para piorar, não é possível nenhum país defender a descoberta de valas onde palestinianos foram enterrados vivos, mesmo que os israelitas neguem essas acusações.

Pela primeira vez, Biden reconhece o seu papel na guerra, na morte de inocentes, e esta decisão pode muito bem mudar o conflito. Vários membros da NATO finalmente perceberam que estão a ser cúmplices de uma limpeza étnica. E para Israel, abdicar das suas relações com o Ocidente condena-os à solidão no Médio Oriente, privados de apoio político e económico.

O primeiro-ministro israelita, agora mais pressionado para aceitar um cessar-fogo menos ideal, continua a ver na erradicação do Hamas a única solução para a paz duradoura. Mas os danos colaterais dessa condição envolvem, entre outras, o genocídio de um povo. Aliás, neste momento é isso mesmo que observamos. Já morreram mais de 34 mil palestinianos pelas mãos dos israelitas. Significa que, desde 7 de outubro, por cada israelita morrem pelo menos 30 palestinianos. Morrem mais pessoas por dia do que em qualquer outra guerra no século XXI. As fatalidades diárias, segundo a Oxfam, chegam às 250, o que significa que a cada quatro dias morrem mil, e no fim da semana esse número quase que já duplicou.

Falamos de dois vizinhos, com visões completamente diferentes do mundo. E a memória recente não lhes permite aceitar um futuro partilhado. Mesmo antes desta guerra, nunca se chegou realmente a ter paz. Havia divisão, ódio, racismo, opressão, e estas questões não podem ser ignoradas depois de um acordo. Porque na manutenção desses valores, agora exacerbados, vislumbra-se um futuro cíclico. É importante perceber que o futuro de Gaza e do povo palestiniano não será escrito sem o Hamas. Mas um Israel que mude o comportamento para com os palestinianos enfraquece o extremismo, que só poderá refugiar-se na História, perdendo argumentos no presente. O esforço internacional deve focar-se em identificar os alicerces para um futuro comum, também eles reconciliando-se com um lado que tem sido claramente ignorado.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

Pode também interessar

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!