“O Brasil pretende ter mais influência no continente africano, onde há grande potencial, mas vindos de lá, tanto o Presidente como os seus conselheiros, perceberam que a tarefa é hercúlea, todo devido ao poder que a China tem no continente e também ao distanciamento do Brasil de África desde o Governo Dilma”, começa por dizer ao PLATAFORMA o brasileiro Gilmar Tavares, professor de Ciência Política em Portugal.
A agressiva política chinesa é vista assim como o grande obstáculo, mas Lula da Silva poderá, contudo, ter uma importante palavra a dizer.
“Há muito que a relação de Lula da Silva e Xi Jinping é especial, já de há muitos anos e isso pode ser um trunfo do Brasil para conseguir uma fatia do monopólio em África, sobretudo nos Países de Língua Portuguesa. A política chinesa é muito forte, com muitas multinacionais instaladas em praticamente todos os países, mesmo alguns bancos africanos estão na mão de chineses, mas a relação política do Brasil com a China deixa uma porta aberta”, diz Gilmar.
O Brasil pretende ter mais influência no continente africano, onde há grande potencial, mas vindos de lá, tanto o Presidente como os seus conselheiros, perceberam que a tarefa é hercúlea
Na opinião do cientista político, há também determinadas áreas onde a China aposta menos, e onde há maior abertura para concretizar negócios em África.
“Investimentos na agricultura e nos negócios energéticos. São dois, sobretudo o primeiro, em que a China não tem o domínio, há uma mão da Rússia nestes campos. E aí pode ser uma possibilidade de investimento, porque a Rússia neste momento passa também por outro tipo de dificuldades, devido aos conflitos militares que se tem envolvido nos últimos anos. As sanções a que têm sido sujeitos tem feito também que coloquem um travão em muitos investimentos, sobretudo em África, onde sabem que o rendimento não é imediato”, refere o especialista, dando depois conselhos ao Governo Lula.
Investimentos na agricultura e nos negócios energéticos. São dois, sobretudo o primeiro, em que a China não tem o domínio, há uma mão da Rússia nestes campos. E aí pode ser uma possibilidade de investimento,
porque a Rússia neste momento passa também por outro tipo de dificuldades
“É preciso, antes de mais, uma estratégia. Mesmo antes desta visita à Cúpula da União Africana, o Governo de Lula deveria ter levado uma agenda preparada, mas acabou por ser mais uma viagem de prospeção. Não obstante, essa prospeção deveria ter sido feita antes, e quando chegassem lá tinham as propostas para apresentarem. Agora vão fazer ao contrário, vão com toda a certeza traçar uma estratégia, só esperemos que não seja tarde e que outros não tenham chegado primeiro. O Brasil não é o único a ver África como uma fonte de receita futura, pois os continentes europeus e norte-americano estão a rebentar pelas costuras de investidores e negócios, o próximo grande nicho económico será mesmo África”, diz.
Quanto aos PALOP, Gilmar Tavares volta a referir que seriam um ponto de entrada, como já foram anteriormente. “Sem dúvida, mas como já disse também, a China já está por lá, já domina também grande parte desses países. Será precisa, como disse também, uma estratégia económica atrativa, uma que seja capaz de convencer os céticos, porque os há. Há muitos que só veem a China com capacidade económica para investir em África, ou pelo menos com milhões que outros não têm”, concluiu.