Muita gente já viu; em direto, ou em vídeo, profusamente partilhado em Macau. A surpresa é geral; a curiosidade, essa, é infinita. O que terá dito Xi Jinping a Edmund Ho, no momento em que o Presidente se dirigia para o seu lugar na cerimónia de encerramento das “Duas Sessões”, em Pequim?
Na verdade, o que Xi disse a Edmund, entre sorrisos e com linguagem corporal de proximidade, pouco ou nada importa. Porque não foi certamente ali que trataram de nenhum assunto em concreto. Àquele nível supremo, se houve reflexão, partilha, ou recados, foi certamente antes – e à porta fechada. E é por isso que aqueles eternos segundos tanto importam. Porque Xi Jinping parou; propositadamente, precisamente para que toda a gente visse. Essa mensagem é clara. O que quer, de facto, dizer… talvez nunca se venha a saber; mas também é possível que se saiba mais cedo do que se imagina.
Nunca ninguém em Macau teve a aura de Edmund Ho. Foi o primeiro Chefe do Executivo após a passagem de soberania; preparou-se longamente para o cargo; liberalizou o jogo; visitou todos os parceiros lusófonos – e mais alguns… tinha uma liderança de proximidade, a cabeça arejada, e um espírito livre que ninguém jamais repetiu. Até porque liderou num tempo, e numa circunstância, que também não se repetem.
É verdade que desapareceu, por completo, em circunstâncias que ninguém se atreve a detalhar. Mas é público e notório que a condenação por corrupção do seu antigo secretário para as Obras Públicas, Ao Man Long; e a relação próxima que manteve com Bo Xilai, caído em desgraça na luta de poder em Pequim, correram muito mal a Edmund. E é precisamente por isso que o gesto de Xi tem tanto significado.
Se não houve nada entre os dois, naqueles dias em Pequim, pelo menos parece que houve. E é essa a mensagem que Xi fez questão de passar: parece mesmo que houve. Uma coisa é certa: entre dois homens daquele calibre, se alguma coisa mudou… muita coisa isso pode fazer mudar.
*Diretor-Geral do PLATAFORMA
