A associação Artistry of Wind Box Community Development planeava apresentar o “The Morning as Usual” de 26 a 28 de janeiro. A peça tinha como ponto de partida um rapaz de 16 anos e o fenómeno do suicídio em Macau.
A associação emitiu um comunicado no sábado (dia 20), dizendo que “a atenção dada a esta produção excedeu a experiência e a capacidade” que tinham. “Após reunião com os membros da equipa, decidimos, com relutância, cancelar o espetáculo”, comunicaram, acrescentando que vão reembolsar quem já tinha comprado bilhete.
“O cancelamento não significa o fim da nossa preocupação com o suicídio em Macau. Esperamos que mais grupos ou instituições colaborem no futuro para prestarem atenção às almas que não são descobertas a tempo nos recantos da sociedade. Pode ser que o público comece a sentir mais empatia por todos os tipos de dor”, disse o grupo.
O PLATAFORMA contactou o Gabinete da Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, o Gabinete de Acção Social, oFundo de Desenvolvimento da Cultura e outros departamentos relevantes.
O Instituto Cultural assume ter recebido críticas sobre a peça e reencaminhou-as para a associação, não se pronunciado sobre o número de opiniões recebidas ou o teor das mesmas. Outros departamentos declararam não ter recebido quaisquer comentários ou pedidos de informação.
O Instituto Cultural respondeu ter recebido na sexta-feira três opiniões a expressar preocupação sobre a peça de teatro.
Quanto ao financiamento, as respostas do Gabinete da Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura e do Fundo de Desenvolvimento da Cultura são condizentes: “Este espetáculo era um projeto financiado pelo Fundo de Desenvolvimento da Cultura”. No entanto, “como os atores do não puderam cumprir com os horários, tomaram a iniciativa de cancelar o subsídio”.
A Artistry of Wind Box confirma ao PLATAFORMA que procedeu ao reembolso antes de promover o espetáculo. “Esta é uma decisão puramente do grupo e não há qualquer envolvimento do setor público”, garante.
“Tema da morte é tabu”
A deputada Lo Choi In, que participa regularmente na coluna Voz do Deputado do PLATAFORMA, escreveu na semana passada que “devido aos costumes e à cultura chinesa, o tema da morte é tabu, sendo raramente discutido”. Como resultado, afirma que “políticas relevantes permanecem estagnadas” em Macau.
Há muito que Lo pede ao Governo, serviços competentes e até ao público em geral para que prestem mais atenção às questões de saúde emocional e mental.
Suicídio acima da média
No dia em que o grupo artístico anunciou o cancelamento do espetáculo, registaram-se dois casos de suicídio e uma outra tentativa. A Polícia Judiciária (PJ) informou que os falecidos se tratam de uma empregada doméstica estrangeira e uma idosa local.
Um outro residente local tentou saltar de um prédio, mas acabou por ser convencido a regressar pela sua mulher e pela PJ.
O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, disse no seu último discurso em Assembleia que há uma média de 10.5 suicídios por cada 100.000 pessoas em Macau, o que é ligeiramente superior à média internacional.
Nos três primeiros trimestres de 2023, foram registados 62 casos de suicídio em Macau. Em 2022, houve 80 casos, 71 dos quais eram residentes de Macau.