Costa considera que deixa um país melhor e preparado para enfrentar desafios

O primeiro-ministro afirmou que deixa um país melhor ao fim de oito anos de liderança de governos socialistas, considerando que Portugal está preparado para enfrentar os desafios com uma população mais qualificada e com menos dívida. Partidos reagiram, dizendo que a mensagem “não bate certo com a vida das pessoas”

por Gonçalo Lopes
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António Costa defendeu esta posição na sua nona e última mensagem de Natal enquanto primeiro-ministro, cerca de um mês e meio depois de se ter demitido da chefia do Governo por causa de uma investigação judicial e quando estão marcadas eleições legislativas antecipadas para 10 de março.

“Nestes oito anos em que tive a oportunidade de conhecer ainda melhor os portugueses e Portugal, só reforcei a minha confiança na nossa pátria. É com esta confiança reforçada em cada um de vós, na nossa capacidade coletiva, em Portugal, que me despeço desejando um feliz Natal, um excelente ano de 2024 e a certeza de que os portugueses continuarão a fazer de cada ano novo um ano ainda melhor”, declarou o líder do executivo no final da sua mensagem.

António Costa disse ter concluído que os últimos oito anos provaram que tinha “boas razões” para confiar no país. “Juntos vencemos as angústias da pandemia; juntos temos garantido que a tragédia dos incêndios de 2017 não se repete; juntos temos conseguido mais e melhor emprego; diminuímos a pobreza e reduzimos as desigualdades; recuperámos a tranquilidade no dia-a-dia das famílias; juntos temos atraído mais investimento das empresas e conquistado mais exportações; repusemos direitos e equilibrámos as contas públicas; juntos ultrapassámos dificuldades e juntos construímos um país melhor”, advogou.

Na sua perspetiva, há razões para ter confiança que Portugal “está preparado para vencer os grandes desafios” que enfrenta. “O nosso nível de qualificações aproxima-se dos melhores padrões europeus. Recuperámos um défice que tinha séculos. E esta recuperação deve-se ao extraordinário esforço das famílias, dos jovens e, de forma persistente, das políticas públicas nas últimas duas décadas”, realçou.

No plano ambiental, “o maior desafio”, António Costa assinalou que “Portugal é o país da União Europeia em melhores condições para alcançar a neutralidade carbónica até 2045”.

“Até outubro, 63% da eletricidade que consumimos teve origem em renováveis. Este valor será de 80% até 2026. Para Portugal, o investimento na transição energética, para além do dever de contribuir para salvar a humanidade, é também uma extraordinária oportunidade económica de criação de emprego, valorização de recursos naturais e de substituir importações por exportações”, justificou.

Já no plano financeiro, o primeiro-ministro realçou que Portugal “conseguiu libertar-se de décadas de crónicos défices orçamentais”, com base “no crescimento económico, na valorização dos rendimentos daqueles que trabalham e daqueles que vivem das suas pensões. Termos menos dívida significa maior credibilidade externa, mas significa, acima de tudo, maior liberdade para os portugueses”.

Por estas razões, de acordo com António Costa, os portugueses, podem continuar a ter confiança no futuro. “A confiança de que vamos continuar a convergir com os países mais desenvolvidos da União Europeia, como voltou a acontecer nos últimos [anos]”, referiu.

Nesta sua mensagem, o primeiro-ministro assumiu também que “há problemas” que Portugal tem de ultrapassar e advertiu que “terá de haver sempre força e determinação” para os enfrentar. “Mas temos muito trabalho em curso que não podemos parar. Perante as adversidades, temos o dever de ser persistentes e de nunca desistir. E é por isso que a mensagem que hoje vos quero deixar é, mais uma vez, uma mensagem de confiança. De confiança, em nós, portugueses; de confiança em Portugal, o nosso país”, acrescentou.

Outros partidos não veem a mesma realidade

A mensagem natalícia do primeiro-ministro foi criticada por praticamente todos os partidos políticos.

O Partido Social Democrata (PSD), a maior força de oposição, por iniciativa do seu vice-presidente, Paulo Rangel, questionou “como é que é possível fazer o elogio dos progressos que houve nas qualificações quando vemos a situação em que está o sistema educativo”.

André Ventura, presidente do Chega, a atual terceira maior força política em Portugal, considerou que a mensagem de Natal do primeiro-ministro falhou ao não abordar temas como a crise das instituições, a justiça e a saúde, acusando António Costa de não assumir as suas responsabilidades. “Consegue na sua última mensagem falhar os dois tópicos principais que era importante tratar hoje e a olhar para o futuro: a crise das instituições e a confiança na justiça, que levou ao fim do seu Governo, e o profundíssimo sistema degradado em que a nossa saúde se encontra”.

A eurodeputada do Bloco de Esquerda, Marisa Matias, afirmou que a mensagem ficou marcada pela ausência de qualquer referência aos problemas que as pessoas enfrentam, nomeadamente na habitação e na saúde.

O dirigente do Partido Comunista Português (PCP), Jaime Toga, considerou que a mensagem de Natal de Costa “não bate certo com a vida das pessoas”.

A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, defendeu que o primeiro-ministro “esquece o país real” e considerou uma perda de tempo debates sobre coligações à esquerda ou à direita.

Sondagens dão empate

Depois da demissão de António Costa e consequente crise política, a sondagem da Universidade Católica, divulgada em novembro, aponta para um empate técnico entre PS e PSD nas eleições legislativas de 2024. O PSD tem uma ligeira vantagem de um ponto percentual em relação ao PS.

Os resultados desta sondagem política realizada pelo CESOP–Universidade Católica Portuguesa indicam que 75% dos inquiridos têm já a ideia de votar nas próximas eleições legislativas, marcadas para 10 de março.

Os dois principais partidos estão lado a lado na tabela no que respeita às intenções diretas de voto dos portugueses (20%), com ligeira vantagem para os social-democratas na estimativa de resultados eleitorais (29% para 28%).

Os números representam uma queda para os dois partidos em relação aos resultados do CESOP de julho último, embora se mantenha o empate técnico.

Mas o maior prejudicado é o Partido Socialista, que sofre uma queda de 13 pontos percentuais face às últimas eleições, onde obteve uma maioria absoluta.

O Chega, por sua vez, é o partido que tem a maior subida no número de votos. O partido de André Ventura consegue agora 16% dos votos – mais nove pontos percentuais em relação ao resultado das legislativas do ano passado.

A Iniciativa Liberal também cresce para 9% e quase duplica as intenções de voto. À esquerda, o Bloco de Esquerda sobe para 6% e a CDU cai ligeiramente para os 3%. O Livre, PAN e CDS-PP estão empatados com 2% dos votos.

A sondagem aponta para uma maioria clara dos partidos da área não socialista, que juntos somam 56%. Por sua vez, os da área socialista totalizam 41%.

No entanto, só há maioria na área não socialista com o Chega. Se o partido de André Ventura for retirado da equação, os dois blocos ficam praticamente empatados.

*Com agências

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