Subida das águas do mar deixa Macau em risco extremo de inundações – estudo

Um estudo prevê que, caso as águas do mar subam um metro em Macau, como está previsto este século, a maioria da região estará em risco de inundações catastróficas como durante o tufão Hato, em 2017.

por Nelson Moura
tufão rai

Shi Huabin, professor da Universidade de Macau, irá em breve publicar os resultados da investigação “Mudanças nas marés de tempestade com a subida das águas do mar”, apoiada pelo Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia.

O estudo “tentou quantificar o risco de inundações causadas por marés de tempestade baseados num caso específico, o Hato”, disse à Lusa o engenheiro, referindo-se ao tufão, cuja passagem por Macau causou 10 mortos e 240 feridos.

A investigação estabeleceu cinco níveis de risco com base na potencial duração das inundações, algo que Shi descreveu como “muito importante”. “Se as inundações durarem um ou dois dias, o resultado é mais perigoso”, explicou o especialista.

Num cenário em que as águas do mar subam um metro, Shi disse que o modelo prevê que a maioria da península de Macau se torne uma zona de risco máximo, assim como “enormes inundações no aeroporto e no Cotai”, onde se situam os grandes hotéis-casinos.

Um cenário nada improvável, uma vez que a subida das águas do mar no Delta do Rio das Pérolas, que inclui Macau, Hong Kong e parte da província de Guangdong, “é muito maior do que a média mundial”, disse o investigador.

O nível das águas do mar em Macau vai subir até 118 centímetros até ao final do século, “mais 20% do que a média mundial”, de acordo com uma previsão feita em 2020 por investigadores da Academia de Ciências da China e da Universidade Cidade de Hong Kong.

No estudo sublinhou-se que a subida do nível das águas do mar “ligada às mudanças climáticas constitui uma ameaça significativa para Macau, devido à sua baixa altitude, pequena dimensão e à construção contínua de aterros”.

Faith Chan, professor da Universidade de Nottingham em Ningbo, na China, disse à Lusa que os aterros estão mais seguros, mas sublinhou que “o verdadeiro perigo é a combinação da subida das águas do mar, marés de tempestade e fenómenos extremos, como o Hato”.

O investigador sublinhou que, como “a temperatura da água no oeste do Pacífico, onde as tempestades tropicais nascem, continua a subir”, no futuro “será impossível escapar a uma maior frequência de tufões”.

O plano decenal de prevenção e redução de desastres em Macau até 2028 admitiu que “é possível que, no futuro, (…) haja uma tendência para aumentarem também os incidentes relacionados com estados meteorológicos extremos”.

No documento, apresentado em 2019 pela Direção dos Serviços de Estudo de Políticas e Desenvolvimento Regional, previa-se a construção de uma comporta de retenção de marés e de muros com 1,5 metros de altura para prevenir inundações na zona do Porto Interior.

No entanto, em fevereiro de 2023 o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, admitiu desistir do projeto. O Governo de Macau “até podia ter dinheiro para construir muros com dez metros de altura, mas não o iria fazer, porque tanto os turistas como os residentes querem usufruir da costa”, sublinhou Faith Chan.

Shi Huabin acredita que o interesse neste projeto para o Porto Interior demonstra que “as pessoas já perceberam que o clima está a mudar” e “estão a prestar mais atenção a projetos que possam reduzir o nível de risco”.

Mas o investigador defendeu que é irrealista esperar que “as autoridades construam um projeto de engenharia costeira ou oceânica que seja uma solução perfeita” para um fenómeno mundial.

O especialista disse que, em Macau e em muitos outros locais do mundo, os habitantes têm de aprender “o que cada um pode fazer” para lidar com inundações regulares. “A sociedade ainda não está preparada para isto”, lamentou.

O mais recente relatório da ONU indica que o mundo precisa de cortar 42% das emissões até 2030 para respeitar o teto de 1,5°C de aquecimento, uma meta assumida em 2015 no Acordo de Paris sobre redução de emissões.

A Cimeira da ONU sobre as Alterações Climáticas (COP28) vai decorrer entre 30 de novembro e 12 de dezembro, no Dubai, principal cidade dos Emirados Árabes Unidos, com a ambição de fazer o primeiro balanço global do Acordo de Paris.

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