Austeridade numa monoeconomia

por Gonçalo Lopes
Guilherme Rego*

O Governo de Macau orgulha-se de uma recuperação económica galopante pós-pandemia. A maior do mundo, convém dizer. Mas essa revitalização não é sentida por todos, nem tão pouco vem de intervenção direta das autoridades. Sente-se e nasce nos casinos, nos hóteis, e tem dificuldades em crescer para as restantes áreas socioeconómicas. É a história de Macau, o ciclo vicioso que se pretende agora quebrar com a diversificação económica. Mas sabemos que essa vai demorar.

Por isso o papel do Governo de Macau na redistribuição é tão importante, através de subsídios, adjudicação de serviços, entre outros. Os impostos cobrados aos casinos permitem que as pequenas e médias empresas sobrevivam, cresçam e se tornem um ativo importante na diversificação. Permite também que as associações locais preencham o vazio criativo, cultural e formativo, que faz de Macau uma cidade mais interessante.

Infelizmente, a política do Governo atual teve a pandemia como a cortina perfeita. A austeridade começou nesse pretexto – e justificava-se –, mas extendeu-se além desse e continua, sem sinais de abrandamento. A redução da despesa pública numa monoeconomia faz sempre as mesmas vítimas – as pequenas e médias empresas, as associações (ver páginas 4 a 6) e as famílias que destas dependem. Sempre defendi a boa gestão do erário público, e continuo. Mas o ambiente socioeconómico de Macau precisa e depende do dinamismo que o Governo impõe; será sempre refém dessa circunstância até a integração com a Grande Baía e ligação com a Lusofonia apresentarem mais oportunidades.

À gestão do erário público não podem ser aplicados na íntegra os conceitos de gestão empresarial. Não se deve reduzir custos sempre que possível. Não é essa a função do Governo e as consequências do ato transpõem a folha Excel. Tem de servir a população e, sobretudo porque avança para uma nova era, deve saber ouvir o que esta tem a dizer: as PME não sentem a recuperação económica; recém-graduados não têm vagas; os salários estão praticamente estagnados, etc. Num universo onde o Governo dá mais importância ao tamanho das receitas do que aos objetivos da despesa, mata o espaço já pequeno que as PME têm para atuar.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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