Dois adversários com a paz no horizonte

por Gonçalo Lopes
Paulo Rego*

O encontro entre Xi Jinping e Joe Biden surpreendeu muita gente. Mas mais do que desejável, era inevitável. Estados Unidos e China são – e serão – adversários; do ponto de vista ideológico e geoestratégico. Mas ambos percebem, finalmente, que o diálogo é a única forma de mitigarem os riscos de um choque bem mais dramático que as guerras na Ucrânia e no Médio Oriente. E há, nesta altura, uma circunstância única: Xi e Biden, por motivos diferentes, sabem que a paz, hoje, é essencial não só para a economia, mas para os seus próprios destinos políticos.

A China enfrenta uma enorme crise económica, agravada por três anos da política de Covid-zero, e pela demonização da China nos Estados Unidos e na Europa. Entretanto, no seio do próprio Partido Comunista, eclodiram tensões em relação às políticas seguidas nos últimos anos, sendo cada vez mais consensual não ser possível um percurso de afirmação baseado no consumo interno. Ou seja, o próprio poder de Xi está hoje ligado à capacidade de liderar soluções, mas também de recuperar face um pouco por todo o mundo.

Os Estados Unidos, encurralados entre duas guerras regionais, enfrentam também sérios problemas económicos, sociais e políticos. E Biden enfrenta o fantasma de Trump, dado pelas sondagens como provável vencedor das próximas eleições. Ou seja, também ele precisa de um volte-face que lhe permita manter os democratas no poder; e a imagem dos Estados Unidos como garante dos valores da democracia liberal.

As quatro linhas de força de um primeiro acordo passam pelo combate ao tráfico de droga, diálogo direto entre hierarquias militares, inteligência artificial, e alterações climáticas. Mas parecem insuficientes para o golpe de asa que ambos perseguem. O que os eternizaria, interna e externamente, seria a capacidade de mexerem os cordelinhos no sentido da paz mundial. Se se entenderem nisso, estaremos certamente mais próximos de soluções para a Ucrânia e Médio Oriente; mas também para baixar a tensão em Taiwan e no Mar do Sul da China. Não foi notícia pública, mas pode bem ser esse o horizonte que os une. O mais difícil de alcançar, mas aquele que faria o mundo render-se a ambos.

*Diretor-geral do PLATAFORMA

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