Líder da Igreja Católica chinesa pró-Pequim conclui visita histórica a Hong Kong

O líder da Igreja Católica chinesa controlada pelo Partido Comunista do país (PCC), Joseph Li, concluiu este fim de semana uma visita histórica a Hong Kong, de que saíram apelos do topo do clero local à unidade, incluindo em Macau

por Nelson Moura

O arcebispo Li chegou a Hong Kong na segunda-feira, a convite de Stephen Chow, recém-designado cardeal católico da cidade, e que em abril se tornou o primeiro a visitar a capital chinesa em quase três décadas, marcando uma aproximação entre o fragmentado catolicismo chinês.

Uma publicação ligada à diocese da cidade, o jornal Kung Kao Po, informou na sexta-feira que Li e Chow participaram na quarta-feira de uma missa com o cardeal John Tong, também de Hong Kong, e outros membros do clero da China continental.

“Um dos meus sonhos… é ter bispos, padres e fiéis de quatro sociedades transversais a rezar juntos”, disse Chow, referindo-se a Hong Kong, a Macau, e também à China continental e Taiwan. Pequim e o Vaticano romperam relações diplomáticas em 1951 após a ascensão do PCC ao poder e a expulsão de sacerdotes estrangeiros.

Desde a ruptura dos laços, os católicos na China foram divididos entre aqueles que pertencem a uma igreja oficial, sancionada pelo Estado e os de uma Igreja ‘subterrânea’ leal ao Papa. O Vaticano reconhece fiéis de ambas como católicos, mas reivindica o direito exclusivo de escolher bispos.

Num seminário na quarta-feira, Chow afirmou o papel da igreja de Hong Kong como uma “igreja de ponte”, acrescentou a mesma publicação.

Em outubro de 2022, o Vaticano e o regime comunista de Pequim renovaram por dois anos o acordo histórico, assinado em 2018, sobre a conturbada questão da nomeação de bispos na China, num cenário de tensões sobre a situação dos católicos naquele país.

Em outubro de 2022, o Vaticano e o regime comunista de Pequim renovaram por dois anos o acordo histórico, assinado em 2018, sobre a conturbada questão da nomeação de bispos na China, num cenário de tensões sobre a situação dos católicos naquele país(Photo by Vincenzo PINTO / AFP)

No entanto, no final de novembro, o Vaticano expressou a sua “surpresa” e o seu “pesar” pela nomeação de um bispo numa diocese da China não reconhecida pela Santa Sé, acreditando que isso violava o acordo de 2018, renovado pela primeira vez em 2020 e que previa a decisão num processo comum.

Pequim decidiu depois nomear Shen Bin para bispo de Xangai, novamente sem consulta. O Papa Francisco acabou por endossar a nomeação por Pequim do novo bispo de Xangai, a maior diocese católica do país, apesar de lamentar esta decisão unilateral contrária ao acordo com a China.

A instalação de Li em 2007, no entanto, foi bem aceite pelo Vaticano e funcionários da igreja disseram na altura que foi feita com a sua aprovação. Em declarações ao Kung Kao Po, Li prometeu melhorar a igreja chinesa, aproveitando a visita enquanto “oportunidade para aprender muitas coisas”.

O Papa Francisco acabou por endossar a nomeação por Pequim do novo bispo de Xangai, a maior diocese católica do país, apesar de lamentar esta decisão unilateral contrária ao acordo com a China (Photo by Nicolas ASFOURI / AFP)

Lo Lung-kwong, investigador sénior honorário da Divinity School of Chung Chi College na Universidade Chinesa de Hong Kong, disse que as viagens de Li e Chow ajudaram a fortalecer a relação entre a China e o Vaticano. “As coisas concretas devem ser construídas a nível de base. Não há outra escolha e há apenas um lugar — Hong Kong”, disse à agência AP.

O acordo Vaticano-China, cujo conteúdo não foi tornado público, tem como objetivo reunir os católicos chineses divididos entre as Igrejas oficiais e clandestinas, dando ao Papa a última palavra na nomeação dos bispos.

O texto gerou críticas dentro da Igreja, com alguns a considerarem-no como um estrangulamento de Pequim sobre os cerca de 10 milhões de católicos no país, onde igrejas foram destruídas e creches religiosas fechadas, em contexto de restrição das liberdades religiosas.

Em setembro, a China disse que deseja “fortalecer a confiança mútua” com o Vaticano, um dos poucos Estados com os quais não tem relações diplomáticas, após o papa ter enviado um telegrama a desejar felicidades ao povo chinês.

“A China está disposta a manter um espírito de conciliação com o Vaticano, envolver-se num diálogo construtivo, reforçar a compreensão e a confiança mútua e promover o processo de melhoria das relações bilaterais”, afirmou Wang Wenbin, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

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