Estados Unidos estão a armar Taiwan até aos dentes

Joe Biden assinou, recentemente, um pacote de ajuda militar de 80 milhões de dólares a Taiwan para a compra de equipamento militar americano: a China salientou que “deplora e opõe-se”. Pode não ser uma soma exorbitante, sobretudo se se levar em linha de conta as encomendas de mais de 14 mil milhões de dólares aos Estados Unidos. Mas desta vez foi diferente: não foi um empréstimo, veio dos contribuintes americanos. Pela primeira vez em mais de 40 anos, os Estados Unidos estão a usar o seu próprio dinheiro para enviar armas para um lugar que oficialmente não reconhece.

por Gonçalo Lopes

O financiamento militar estrangeiro (FMF), sobretudo desde a invasão da Ucrânia para a Rússia, tem sido usado para enviar cerca e 4 mil milhões de dólares em ajuda militar para Kiev. Foi usado para enviar mais milhares de milhões para o Afeganistão, Iraque, Israel e Egito, países reconhecidos pelas Nações Unidas, algo que Taiwan não tem.

Segundo os britânicos da ‘BBC’, a decisão dos Estados Unidos é garantir a Taiwan meios de defesa contra um possível ataque chinês, mas não o suficiente para que desestabilizassem as relações entre Washington e Pequim: durante décadas, os EUA confiaram nesta ambiguidade estratégica para fazer negócios com a China, continuando a ser o aliado mais fiel de Taiwan.

Em Taipei, é evidente que os Estados Unidos estão a redefinir a sua relação com a ilha, especialmente dada a urgência com que Washington está a pressionar Taiwan para se rearmar. E Taiwan, que é superado pela China, precisa de ajuda. “Os EUA estão a enfatizar a necessidade desesperada de melhorar a nossa capacidade militar. Estão a enviar uma mensagem clara de clareza estratégica a Pequim de que estamos unidos”, afirmou Wang Ting-yu, deputado do partido no poder, que destacou os 80 milhões de dólares como a ponta de um icebergue muito grande.

Taiwan prepara-se para enviar dois batalhões de tropas terrestres aos Estados Unidos para treino, pela primeira vez desde a década de 1970. Mas o dinheiro é a chave e nos próximos cinco anos é possível que a fatura chegue aos 10 mil milhões de dólares. Os acordos que envolvem equipamento militar podem levar até 10 anos, diz Lai I-Ching, presidente da ‘Prospect Foundation’, um grupo de reflexão com sede em Taipei. “Mas com a FMF, os EUA estão a enviar armas diretamente dos seus próprios stocks e é dinheiro dos EUA – por isso não precisamos de passar por todo o processo de aprovação.”

A avaliação dos observadores de longa data é contundente: a ilha está lamentavelmente mal preparada para um ataque chinês. A lista de problemas é longa: o exército de Taiwan tem centenas de tanques de batalha antigos, mas poucos sistemas modernos de mísseis leves. A sua estrutura de comando do exército, táticas e doutrina não são atualizadas há meio século. Muitas unidades da linha de frente têm apenas 60% dos elementos que deveria ter.

Em Washington há uma forte sensação de que Taiwan está a ficar sem tempo para reformar e reconstruir as suas forças armadas. Assim, os Estados Unidos também estão a começar a treinar novamente o exército de Taiwan. Durante décadas, os líderes políticos e militares da ilha apoiaram-se fortemente na crença de que uma invasão por parte da China é muito difícil e arriscada. Mas agora, Pequim tem a maior marinha do mundo e uma força aérea muito superior. Segundo um exercício de guerra realizado por um grupo de reflexão, em 2022, concluiu que num conflito com a China, a marinha e força aérea de Taiwan seriam exterminadas nas primeiras 96 horas de batalha.

Sob intensa pressão de Washington, Taipei está a mudar para uma estratégia de “fortaleza Taiwan” que tornaria a ilha extremamente difícil de ser conquistada pela China, com o foco nas tropas terrestres, infantaria e artilharia. A vulnerabilidade de Taiwan está a forçar Washington a agir.

William Chung, investigador do Instituto de Defesa Nacional e Pesquisa de Segurança em Taipei, indicou que Taiwan ainda não pode ter esperança de deter a China por si só. Esta é a outra lição da guerra na Ucrânia. “A sociedade internacional tem de decidir se Taiwan é importante”, disse. “Se o G7 ou a NATO consideram que Taiwan é importante para os seus próprios interesses, então temos de internacionalizar a situação de Taiwan – porque é isso que fará a China pensar duas vezes sobre o custo.”

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