Letras de qualidade à medida do orçamento

Com um orçamento quatro vezes inferior ao que tinha antes do Covid-19, o Rota das Letras recupera este ano autores vindos do exterior. Começa já esta sexta-feira um programa que mantém o foco na “qualidade”, nas “datas importantes da literatura mundial” e nas “obras relacionadas com Macau”. O diretor, Ricardo Pinto, considera que um eventual regresso aos tempos áureos do Festival Literário depende não só de “apoio financeiro”, mas também da “massa crítica” que se foi perdendo, sobretudo na comunidade portuguesa. O futuro passa, “provavelmente”, por um programa “mais virado para o público chinês”

por Gonçalo Lopes
Paulo Rego

A ideia “é sempre trazer a Macau os melhores autores lusófonos e chineses, juntando gerações diferentes e géneros que se complementem”, explica o diretor do Rota das Letras – Festival Literário de Macau. Este ano assinala o regresso de autores vindos do exterior, mas numa dimensão muito inferior à que antes era possível. Em relação às edições que tiveram lugar entre 2012-2019, antes Covid-19, “o orçamento baixou imenso, para cerca de 25 por cento do que era nessa altura. Daí o número muito mais reduzido de autores”, revela Ricardo Pinto.

“Continua a preocupar-nos a qualidade”, mas também a escolha de “obras relacionadas com Macau”. A edição deste ano conta com “alguns autores com trabalhos a meio”, sendo que esta visita “provavelmente, permite que sejam acabados”. Estratégia, essa, válida quer para autores lusófonos quer chineses, clarifica Ricardo Pinto: “Temos cá autores chineses premiados; alguns deles muito jovens, mas já consagrados. Também aí, alguns deles com Macau como objeto dos seus livros”. Também por “preocupações orçamentais, a maioria deles vem da província de Guangdong”.

Por fim, em termos estratégicos, o Rota das Letras insiste também em “assinalar de datas importantes na literatura mundial”: 500 anos de Camões, 400 anos das obras primas de Shakespeare; 100 anos de Natália Correia e de Eugénio da Andrade…”.

Dois fins-de-semana

O programa (ver na página seguinte) distribui-se por dois fins de semanas: o primeiro, centrado na Livraria Portuguesa; o seguinte na Casa Garden. O Festival foi ao longo dos anos diversificando a sua base: edifício do antigo Tribunal, Teatro D. Pedro V, antigas Oficinas Navais. Contudo, “nenhum desses espaços está hoje disponível para este tipo de eventos”, razão pela qual Ricardo Pinto virou-se para a Casa Garden, que havia sido espaço de referência cem duas edições anteriores, tendo sido incluído praticamente em todos os festivais. “Pela sua dimensão, pela variedade de espaços que oferece, por ter auditório, salas de apoio, jardim… oferece excelentes condições. Para além da beleza do local e de ser um local especial”, comenta o diretor do Festival.

Por outro lado, continua Ricardo Pinto, “não fazia sentido excluir a Livraria Portuguesa, espaço no centro da cidade onde as pessoas estão habituadas a escolher livros”. Daí a alternância entre esses dois espaços, sem prejuízo da envolvência noutros locais. “Não tantos quantos era possível quando o Festival tinha outra dimensão. Mas ainda assim vamos levar convidados à Escola Portuguesa e à Universidade de Macau; há uma sessão de poesia no Hotel Artyzen, e o concerto no Teatro da Broadway”, remata.

Futuro mais chinês

Numa altura em que já há sinais de recuperação económica, “o apoio às associações que organizam este tipo de eventos ainda não é tão notório quanto isso”, razão pela qual Ricardo Pinto teve de “ajustar o Festival à dimensão dos apoios obtidos nesta fase da vida associativa em Macau”. Naturalmente, “gostaria de voltar à dimensão de outros tempos”. Mas para que isso seja possível “não basta só apoio financeiro”. É também preciso que “massa crítica” que garanta capacidade organizativa e público.

“Com a redução da comunidade portuguesa é um desafio maior reunir público para os nossos convidados lusófonos”, circunstância que Ricardo Pinto diz estar “a avaliar, já a partir desta edição”. E também se “perderam pessoas, sobretudo no lado português, com tempo e vocação para participar na organização deste tipo de eventos”.

Neste contexto, Ricardo Pinto prevê que o Festival possa no futuro “virar-se cada vez mais para a comunidade chinesa”. O que representa “outro desafio para a organização, que provavelmente terá também de repensar as entidades com as quais colaboramos”.

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