Dinamizar as relações sino-americanas: Um caminho promissor

por Gonçalo Lopes
Edward Lehman, Conselheiro Geral da Amcham

No mundo dinâmico das relações internacionais, promover a colaboração e o desenvolvimento de parcerias é vital para um futuro global próspero. Isto é especialmente verdade para os Estados Unidos e a China, as duas maiores economias do mundo. Enquanto cidadão americano que vive e trabalha em Pequim há quase quatro décadas e que é conselheiro geral da AmChamUS, tenho tido a sorte de testemunhar a evolução desta relação profundamente importante.

As recentes discussões de alto nível entre a Secretária do Comércio dos EUA, Gina Raimondo, e funcionários chineses, mostram o empenho de ambas as nações em reforçar a cooperação e enfrentar os desafios globais com uma perspetiva positiva. Raimondo é o quarto alto funcionário dos EUA a visitar a China nos últimos meses, sendo também a primeira vez em cinco ano que um Secretário do Comércio dos EUA vem à China. A visita ocorre numa altura em que muitos comentadores sugerem que as relações entre os países estão num ponto baixo.

No entanto, tais desafios não são de todo surpreendentes quando se considera a rápida evolução da natureza económica, social e política do mundo e a magnitude da relação. Como referiu a Secretária: “Trata-se de uma relação complicada. Não há dúvida sobre isso. Estamos numa competição feroz com a China a todos os níveis, e quem disser o contrário é ingénuo”. No entanto, disse também: “Temos de gerir esta concorrência. O conflito não é do interesse de ninguém”.

A visita de Raimondo à China e os pontos de discussão diretos sublinham a dedicação dos Estados Unidos em reforçar a cooperação com a China. Estas reuniões ao mais alto nível do desempenham um papel fundamental na construção da confiança mútua e na abordagem a desafios globais prementes. Durante as suas conversas com o primeiro-ministro, Li Qiang, e o vice-primeiro-ministro, He Lifeng, Raimondo salientou a importância de uma comunicação aberta e abordou uma série de preocupações que afetam as empresas americanas na China. A secretária do Comércio declarou que: “Não se trata de dissociação. Trata-se de manter a nossa relação comercial muito importante, que é boa para a América, boa para a China e boa para o mundo”. A mensagem é clara: os Estados Unidos não pretendem cortar os laços económicos com a China, mas sim garantir que a relação seja mutuamente benéfica e estável.

Raimondo afirmou que: “Nenhum secretário do Comércio foi mais duro do que eu em relação à China”. Embora aplaudamos os esforços da administração para tomar uma posição firme, o que é necessário agora, mais do que nunca, é uma abordagem de senso comum e um caminho a seguir que acreditamos poder ser alcançado adotando uma abordagem prática para tratar as questões. Consideramos que a recente concessão de direitos de rota aérea pelos EUA à China Airlines é exatamente o tipo de implementação política de bom senso que tem consequências vantajosas para ambas as partes.

No que diz respeito ao comércio, uma das políticas comerciais mais controversas entre os dois países tem sido a imposição de taxas aduaneiras sobre os produtos fabricados na China, uma política que é, na sua maioria, uma continuação da política seguida pela anterior administração. Em contrapartida, a China impôs as suas próprias taxas aduaneiros sobre as importações dos EUA. Os factos demonstram que tal resultou na perda de postos de trabalho, prejudicou o mercado agrícola dos EUA e conduziu a um aumento dos preços. Segundo David Weinstein, economista da Universidade de Columbia, “as taxas aduaneiras protegem as empresas menos eficientes e reduzem os seus incentivos à inovação, ao mesmo tempo que prejudicam as empresas americanas mais bem sucedidas, reduzindo a sua capacidade de inovar”. Ao que parece, os dois países podem alcançar imediatamente um avanço se concordarem mutuamente em eliminar as taxas aduaneiras.
Além de abordar as preocupações económicas, Raimondo também destacou a importância da cooperação em questões globais mais amplas, como as alterações climáticas, a crise dos opiáceos e a inteligência artificial. A parte chinesa, por sua vez, manifestou o seu desejo de reduzir os controlos das exportações de tecnologia avançada e de revogar determinadas ordens executivas. Embora a segurança nacional continue a ser uma prioridade máxima para os Estados Unidos, é evidente que ambas as nações reconhecem o potencial de colaboração em desafios globais críticos.

Citando preocupações de segurança nacional, a administração Biden impôs restrições adicionais à exportação de alta tecnologia e aos investimentos em empresas tecnológicas dos EUA. De acordo com Raimondo: “Não vamos vender à China os chips americanos mais sofisticados, pois eles querem-nos para uso militar. Mas quero deixar claro que continuaremos a vender biliões de dólares por ano em chips para a China, porque a grande maioria não são os de ponta dos quais estou a falar”.

Na verdade, as políticas da administração Biden no que diz respeito à alta tecnologia afetam apenas uma percentagem muito pequena de toda a relação económica EUA-China. A grande maioria do comércio entre os EUA e a China não tem impacto na segurança nacional. A China opõe-se firmemente às restrições impostas pelos EUA aos investimentos na China, afirmando que “violam os princípios da economia de mercado e da concorrência leal”. A curto prazo, estas restrições podem reduzir as questões relacionadas com a segurança nacional. A longo prazo, estas restrições encorajarão provavelmente a China a melhorar as suas indústrias nacionais, privando simultaneamente as empresas americanas de oportunidades de exportação.

Este efeito pode ser visto no novo telemóvel da Huawei, que tem um processador octa-core HiSilicon de 5nm conhecido como Kirin 9000s. Raimondo afirmou que a venda de certos chips à China acabará por gerar receitas para que as empresas americanas invistam em mais investigação e desenvolvimento. Resta saber se é esse o caso.

Os funcionários chineses acolheram a visita de Raimondo como uma oportunidade para reduzir as tensões e resolver as preocupações. É encorajador ver ambas as partes empenhadas num diálogo construtivo e a sublinhar a importância de políticas racionais e práticas. Embora possam existir obstáculos, é crucial mantermo-nos positivos quanto ao potencial de colaboração e de benefício mútuo.

À medida que avançamos, os dois países devem continuar a fazer progressos em áreas que são facilmente alcançáveis, como a eliminação das taxas. Raimondo insistiu que “ninguém é mais realista do que eu em relação aos desafios” com a China. Esperamos que ambas as partes sejam realistas quanto às vantagens que podem advir da cooperação e que consigam cooperar tanto quanto possível.

*Artigo originalmente publicado no China Daily

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