Português como língua oficial da ONU? Lula propôs e medida “tem pernas para andar”

Lula da Silva, presidente do Brasil, defendeu no início desta semana, durante a cimeira da CPLP, em Moçambique, que a Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa proponha que o português seja língua oficial das Nações Unidas. A ideia do líder brasileiro não é nova, mas há quem defenda que tem mesmo pernas para andar.

por Gonçalo Lopes
Gonçalo Francisco

“Temos de aproveitar que temos um secretário-geral das Nações Unidas que fala português [o ex-primeiro-ministro português António Guterres] e acho que nós deveríamos entrar com informações e um pedido nas Nações Unidas para que a língua portuguesa seja transformada em língua oficial das Nações Unidas”, propôs então Lula da Silva, recebendo aplausos dos presentes.

Por sua vez o Presidente são-tomense, Carlos Vila Nova, que assumiu a presidência rotativa da CPLP e conduzia os trabalhos da cimeira, respondeu: “Muito bem, Presidente Lula, está registado, vamos continuar este trabalho e certamente teremos o objetivo conseguido”.

Foram estas então as palavras do início da semana sobre o tema, que tem feito, desde então, correr muita tinta. O PLATAFORMA foi tentar entender o que pode ser feito para que esta ideia possa passar a uma realidade.

“Neste momento são oficiais apenas seis línguas, nomeadamente o chinês, inglês, árabe, russo, francês e espanhol. Este foi um tema já discutido em tempos, sobretudo porque o português é uma das dez línguas oficiais mais faladas em todo o mundo. Se tem pernas para andar? Penso que sim, mas tem de ser criado um caderno de explicações, de estudo, sobre a língua portuguesa, não basta apenas propor, porque propor não dará em nada, não poderá ser um tema para levar já de imediato ao conselho”, disse ao PLATAFORMA Diogo Marques, especialista português em linguistica.

Esta, contudo, não é a primeira vez que esta proposta é discutida em cimeira da CPLP. A mesma já foi aprovada numa assembleia desta comunidade, da última vez que o Brasil presidiu à CPLP, ainda com Michel Temer como líder brasileiro, e até elogiada por António Guterres, secretário-geral da ONU.

“Naturalmente que eu próprio gostaria muito de ver isso concretizar-se, mas essas são decisões da Assembleia-Geral das Nações Unidas. Eu suponho que essa não é uma questão do secretário-geral, é uma questão da CPLP, dos países de língua portuguesa. Sei que existe essa aspiração, e essa é uma aspiração muito importante”, disse então António Guterres.

Diogo Marques recordou também o discurso do líder da ONU e entende as palavras. “Como português é óbvio que António Guterres gostaria que a sua liderança ficasse marcada pela passagem do português a língua oficial, mas como ele diz também, não passa por ele, passa, sobretudo, pela CPLP. Não basta ter uma ideia ou aprovar a mesma, como já foi feita, tem de ser levada à prática. Claro que há temais mais urgentes que uma língua tornar-se oficial para a ONU, mesmo dentro das Nações Unidas há temas mais urgentes, mas isto não pode ficar numa gaveta preso, tem de ser pensado e executado”, disse o especialistas, comentando depois, no seu entender, como eventualmente esta ideia poderia ser entendida por todos os membros da ONU.

“Todos sabem da importância do português no mundo, sobretudo em África. A língua portuguesa é uma das mais importantes e faladas em todo o mundo. Dou-vos o caso do hindu, a segunda língua mais falada em todo o mundo e que também não é reconhecida. É uma língua muito diferente, que nem sequer é oficial, pois tem vários dialetos, tem várias formas e por isso dificilmente seria um dia oficial. O português é muito diferente, é uma língua estruturada e que certamente seria aprovada por unanimidade. Tem é de existir o tal projeto de que falei, mas é óbvio que tem pernas para andar”, afirmou o especialista, recordando, “com agrado”, o facto deste tema já ter sido falado mais vezes este ano.

“Quando veio a Portugal no início do ano, Lula da Silva voltou a falar sobre este tema, a propor esta ideia. Recordo-me do Sr. Presidente da República ter falado também sobre isto e ainda Augusto Santo Silva (Presidente do Parlamento português). É muito bom sinal, pois quer dizer que é um tema presente, que não foi falado apenas uma vez e cairá no esquecimento. Quero crer que vai começar a andar, que vai ser levado mesmo à ONU. Seria um orgulho para os portugueses e para quem fala português”, concluiu.

Guiné-Bissau assume CPLP

O anúncio foi feito pelo Presidente da República de São Tomé, Carlos Vila Nova, na 14.º conferência de chefes de Estado e de Governo da CPLP.

A Guiné-Bissau vai assumir a próxima presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), entre 2025 e 2027, sucedendo a São Tomé e Príncipe, que assumiu este domingo a liderança da organização.

O Presidente da República português considerou que a Guiné-Bissau assumir a próxima presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) será a oportunidade de projetar o país para o futuro e dar um “salto qualitativo”.
Falando aos jornalistas no final da 14.ª Conferência de chefes de Estado e de Governo da CPLP, que decorreu este domingo em São Tomé, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que esta decisão “tem toda a lógica”.

“A Guiné-Bissau vai ser o primeiro Estado a comemorar os 50 anos da sua independência, este ano, em novembro. Faz todo o sentido que também tenha essa grande oportunidade que é celebrar não o passado, mas projetá-lo para o futuro”, afirmou.
O chefe de Estado assinalou que a presidência da Guiné-Bissau, entre 2025 e 2027, sucedendo a São Tomé e Príncipe, vai coincidir com os 30 anos da CPLP.

“É a tal oportunidade de a Guiné-Bissau entrar neste salto qualitativo que importa, sobretudo, à juventude, mas importa a toda a gente”, defendeu, salientando que “o que interessa é que a CPLP valha para o futuro e não valha por aquilo que já fez no passado”.

Questionado sobre se a decisão foi consensual entre todos os países, Marcelo Rebelo de Sousa indicou que “foi uma decisão muito simples”.

O Presidente da República assinalou que na última cimeira, em Luanda, tinha sido escolhido São Tomé, mas o país “ia ter eleições, era preciso as novas autoridades confirmarem”.

Colocando-se a questão “se não for São Tomé e Príncipe, quem poderá ser”, surgiu “logo a ideia da Guiné-Bissau”, continuou.

Como São Tomé acabou por assumir a presidência, “de imediato ficou claro, decorrendo do que se tinha falado em Luanda, que a seguir a São Tomé e Príncipe, ia ser a Guiné-Bissau, e é o que vai acontecer”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

No sábado, em declarações à Lusa, o ministro das Relações Exteriores da Guiné Equatorial, Simeón Esono Angue, manifestou a intenção de o seu país presidir à CPLP.

No mesmo dia, o primeiro-ministro português, António Costa, fez escala técnica na Guiné-Bissau, a caminho de São Tomé e Príncipe, e expressou o apoio de Lisboa à presidência da Guiné-Bissau, que foi admitida pelo homólogo guineense, Geraldo Martins.

À chegada a São Tomé, também no sábado, o chefe de Estado português já tinha defendido que deveria ser Bissau a assumir a liderança da organização.

Pode também interessar

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!