Os meios de comunicação têm adotado uma orientação jornalística profissional para lidar com relatos sobre suicídios de menores, de modo a evitar mais casos e danos secundários aos familiares, algo com que concordo profundamente. No entanto, devido à falta de consciencialização geral sobre saúde mental na comunidade e à conotação negativa de doenças mentais, a negligência no que respeita as questões de saúde mental pode ser agravada. Embora as causas do suicídio sejam complexas e complicadas, especialistas e académicos apontam que a ansiedade e depressão estão intimamente relacionadas com este ato, sendo mesmo as suas precursoras. Porém, tem havido uma falta de atenção e de reconhecimento na comunidade. Desprezar os alertas emocionais por parte das pessoas que sofrem destas condições pode fazer com que alguns pacientes no estágio inicial de distúrbios de humor percam as melhores oportunidades de tratamento e intervenção. Isso eventualmente pode levar a transtornos psiquiátricos ou até mesmo tragédias.
Durante a pandemia, a Universidade de Macau e a Instituto de Enfermagem Kiang Wu conduziram uma pesquisa sobre a saúde mental dos cidadãos de Macau após o surto de Covid-19. Embora os resultados da pesquisa tenham refletido que a saúde mental da maioria dos cidadãos estava estável, ainda havia um número considerável de cidadãos que diziam sofrer de ansiedade e depressão, ou mesmo insónia grave, e que não tinham grande vontade de procurar apoio psiquiátrico. Para prevenir problemas de saúde mental, é necessário aumentar a consciencialização do público. O Governo deve aumentar o apoio à comunidade e ao setor académico para conduzirem mais pesquisas sobre questões de saúde mental. A pressão laboral e económica é certamente uma das principais causas dos problemas emocionais. O Governo deve priorizar as questões de subsistência no uso dos recursos financeiros. Por isso, insto as autoridades a considerar, dentro dos limites da sua situação financeira, medidas apropriadas ou a lançar novamente o “Plano de benefícios do consumo por meio electrónico”, a fim de fortalecer a economia e apoiar os grupos desfavorecidos. Deve também aumentar o seu investimento em serviços sociais, especialmente nas áreas de saúde mental para adolescentes, apoio comunitário, etc.
O Governo tem de liderar a promoção da cooperação multidisciplinar entre organizações por meio de políticas ou incentivos relevantes e fazer bom uso das plataformas tecnológicas para aumentar a divulgação ou desenvolver aplicativos de autoavaliação da saúde mental. A longo prazo, é necessário estabelecer um mecanismo para supervisionar a formação profissional do pessoal responsável e a educação contínua, aumentando o número de empregos relevantes. Deve-se construir uma equipa profissional, e até mesmo estudar o lançamento de um projeto-piloto de triagem universal para a saúde mental.
*Aliança de Sustento e Economia de Macau