Excursões de grupo não voltam a ser o que eram

por Gonçalo Lopes
Viviana Chan

Setor prepara-se para receber mais excursões agora que Pequim flexibilizou a atribuição de vistos para grupos turísticos. O novo turista de Macau já forçou alterações no planeamento dos roteiros e na gestão dos guias. Por outro lado, membros da indústria falam de uma nova estratégia entre o público e o privado, para garantir mais visitas e maior duração das mesmas

A indústria do turismo local percebe que houve várias mudanças no perfil do turista desde o levantamento das restrições pandémicas, em fevereiro deste ano. Agora que grande percentagem dos visitantes é mais jovem, tem de se explorar novos modelos.

Estes turistas preferem decidir as suas próprias rotas, em vez de aderir a excursões pré-planeadas, aponta Javy Chong, vice-presidente da Associação de Guias Turísticos de Património Cultural de Macau. Esse novo fator não tem permitido à indústria excursionista ter a mesma recuperação que se regista a nível global.

Perante a mudança, Chong refere que as próprias autoridades já ajustaram a estratégia, procurando uma relação win-win com os hotéis. A ideia continua a ser trazer grupos turísticos, só que agora estes chegam a Macau pela indústria MICE. “Os eventos e exposições trazem muitos funcionários de empresas a Macau, e os hotéis acabam por indiretamente beneficiar disso.” O líder associativo diz que “embora não sejam excursões de grupo tradicionais”, tem visto mais visitantes de negócios em 2023.

Segundo dados do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), a cidade recebeu mais de 15 mil visitantes de janeiro a março deste ano. Em meados de abril, Macau recebeu também uma grande conferência corporativa com mais de 10.000 visitantes.

Excursões e roteiros adaptam-se

Chong destaca que o modo como estes visitantes são acolhidos também foi ajustado. Se no ano passado um guia turístico “acompanhava os visitantes durante todo o passeio”, agora os guias são destacados para uma atração específica, apresentando apenas esse ponto cénico.

Por outro lado, indica que os passaram a ser feitos à medida, exemplificando com os para famílias do interior da China, que se concentram menos nos itinerários tradicionais e mais na experiência da viagem.

Até o roteiro tradicional das Ruínas de São Paulo e Templo Ah-Ma foi recentemente alterado para incluir atrações como as Casas Museu da Taipa, o Templo Na Tcha e a Travessa da Paixão.

Chong destaca que com a explosão das redes sociais, Coloane também se tornou um destino popular para grupos turísticos, sendo que a Capela de S. Francisco Xavier se tornou um ‘ponto de encontro’ popular para turistas.

Os eventos e exposições trazem muitos funcionários de empresas a Macau, e os hotéis acabam por indiretamente beneficiar disso

Javy Chong, vice-presidente da Associação de Guias Turísticos de Património Cultural de Macau

Desde 15 de maio que a Administração Nacional de Imigração da China restaurou totalmente a emissão de vistos para excursões de residentes do Continente que viajem para Hong Kong e Macau, o que significa que todas as restrições pandémicas foram agora totalmente removidas.

Os residentes do Continente que queiram viajar em grupo para Macau ou Hong Kong já não precisam de regressar à sua terra natal para se candidatarem, podendo apresentar o pedido diretamente na cidade onde reside.

Andy Wu, Presidente da Associação de Indústria Turística de Macau, afirma que a retoma de vistos para excursões é uma “notícia positiva”. Espera “um aumento” dos grupos turístico, mas nada “explosivo”. Avisa também que “como os turistas agora são mais jovens, as excursões que não lhes interessam também vão crescer de forma limitada”.

Segundo os últimos números mais recentes divulgados pela Direcção dos Serviços de Turismo, Macau registou cerca de 1.96 milhões de visitantes em março deste ano, dos quais pouco mais de 100 mil foram vieram em excursões de grupo – cerca de 5 por cento do total de chegadas.

Por essas contas, Macau recebeu em março uma média diária de 3.500 visitantes em excursões – apenas um terço do número esperado pela indústria (10.000 por dia). Os grupos turísticos de Macau já tinham sido afetados pela controvérsia da alteração legislativa de Hong Kong muito antes do surto, e já havia sinais de declínio nas viagens em grupo. O bloqueio pandémico paralisou completamente a indústria, fazendo com que muitos guias turísticos mudassem de emprego.

Conforme o portal Macau Tourism Data+, em março deste ano existiam 1.704 guias turísticos licenciados em Macau, uma queda de 13,6 por cento em relação aos 1.972 no final de 2019. Mesmo assim, Wu acredita que o número existente de guias turísticos na RAEM pode atender à procura atual.

Como os turistas agora são mais jovens, as excursões que não lhes interessam também vão crescer de forma limitada

Andy Wu, presidente da Associação de Indústria Turística

Internacionais só com a recuperação de voos

Desde o anúncio da remoção da maioria das medidas de prevenção de entrada, a DST indicou que irá visar diferentes mercados de origem para promover Macau e vai esforçar-se para atrair o maior número possível de visitantes internacionais num curto período. Lançou também vários esquemas de subsídios no início deste ano, procurando expandir os mercados de visitantes.

No entanto, Wu espera que a recuperação dos visitantes de fora da Grande China se mantenha lenta a curto prazo.

“A recuperação de visitantes internacionais depende da recuperação geral do setor da aviação. Muitas companhias aéreas esperam que o transporte aéreo não regresse aos níveis pré-pandémicos até, pelo menos, finais de 2024”.

O Governo de Macau destacou 650 milhões de patacas do orçamento de 2023 para o alargamento das fontes de turistas, dos quais 180 milhões de patacas se destinam a subsidiar grupos turísticos, incluindo do Continente, Taiwan e grupos internacionais. Nesse pacote estão incluídos descontos em hotéis e transportes, na esperança de que os excursionistas venham com mais frequência e fiquem mais tempo em Macau. Segundo a DST, houve mais de 2.300 inscrições até meados de abril no esquema de viagens subsidiadas, incluindo cerca de 14 viagens do Sudeste Asiático.

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