Feng Shui preso no trânsito

por Gonçalo Lopes
*Nelson Moura

Como conta a lenda local, aquando da construção do Hotel Lisboa original nos anos 60, mestres de Feng Shui indicaram a Stanley Ho que de modo a manter a sua capacidade de gerar boa sorte, o hotel de veria permanecer em constante renovação.

Pode dizer-se que para o cidadão comum de Macau a mesma lógica foi transferida há muito pelas autoridades locais paras as estradas do território.

As constantes obras e reparações da vias e estradas locais eram já um irritante considerável durante os tempos da pandemia – quando as mesmas ruas permaneciam largamente vazias – mas com o regresso da turba turística à cidade ganharam um contorno desesperante.

A rotunda da Pérola Oriental é talvez o exemplo que mais salta à vista, com a interligação que liga a Areia Preta, a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau e a Ponte da Amizade transformada num dos nove círculos do inferno de Dante.

Descrito como uma construção essencial para reduzir o tráfego neste que era um dos ‘pontos negros’ de circulação da cidade, o Viaduto da Pérola Oriental estabelece uma ligação direta das Portas do Cerco para a Avenida do Nordeste através da Avenida Norte do Hipódromo.

No entanto, quem passe por essa área nos dias que correm, entra sem saber num pequeno buraco negro, onde o espaço-tempo desacelera, e de onde se sai apenas duas horas depois.

Tal é a concentração de autocarros públicos e de turismo, táxis, carrinhas azuis da construção, betoneiras, e alguns pobres e incautos residentes presos no turbilhão de trânsito e fumo de escape que esta zona se torna nas horas de ponta e fora delas.

Congestionamentos como este são agora regulares em vários pontos da cidade, a qualquer hora e qualquer dia da semana, e só podemos imaginar como será agora que o reconhecimento recíproco das cartas de condução entre o Interior da China e Macau foi aprovado e com o previsível aumento da circulação pela ponte que nos liga a Hong Kong.

Muito nos dizem que não bela sem senão, que ou queremos ruas vazias e nenhum dinheiro a entrar, ou muito trânsito e muito dinheiro a entrar.

Se a nossa Escolha de Sofá for mesmo só essa, o que se pede, pelo menos, é um mínimo de organização. Afinal, foram só três anos para preparar a cidade para a enchente.

*Editor (português)

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