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Analistas ocidentais insistem no absolutismo de Xi Jinping, a propósito das “Duas Sessões” que esta semana decorreram em Pequim: a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e a Assembleia Nacional Popular. Há sinais – já esperados – de reforço do dirigismo centralista, de ambição militar, e da cantilena do amor à Pátria. Mas há outros sinais, aparentemente contraditórios, que merecem igual destaque – porque são decisivos.
A meta de crescimento económico (5 por cento) implica consumo interno, mas também comércio global e investimento estrangeiro. E isso exige todo um novo mundo de atitudes e relações, sobretudo na Europa – mercado neste momento prioritário para a China.
Estranha-se a cantilena ocidental que vende nada mudar no Politburo… quando, na verdade tudo muda; a olhos vistos – e velocidade estonteante. O spinoff da política de casos-zero – e todas as suas consequências – é demasiado estruturante para ser ignorado.
Exemplo disso é a operação de charme lançada por Wang Yang na Europa.
Também evidente é a recomposição da imagem de Li Qiang, o homem de Xangai que liderará o Executivo – com ligação umbilical a Xi. Fontes da Reuters descrevem-no agora como um racionalista moderno que preparou o fim do Covid-zero.
Para consumo interno, desvaloriza-se a pressão popular, e a tensão na cúpula do PC. Para o exterior, apresenta-se a face que vai renegociar o multiculturalismo e o livre comércio internacional.
A questão não se reduz a valores de regime, ou derivas ideológicas. O PC não mudou, o seu líder também não; mas mudam as circunstâncias – e a prática política. A recuperação económica volta ao epicentro da diplomacia chinesa; e não se faz sem mercado externo. A ocidente… haja alguém que perceba que um futuro de costas para a China é uma falsa boa ideia.
A China tenta reunir condições para acelerar um ambiente negocial, sobretudo com a Europa. Mas, para isso, muita coisa ainda vai mudar – a realidade a isso obriga.
*Diretor-geral do PLATAFORMA