AEP quer mercados asiáticos a valer mais 100 milhões numa década

por Viviana Chan
Dinheiro Vivo

China, Coreia e Japão valem apenas 1,3% das exportações nacionais, num total de 1070 milhões, mas são mercados de “enorme potencial” que devem ser reforçados.

Next Challenge Asia é o programa da Associação Empresarial de Portugal (AEP) que pretende ajudar as pequenas e médias empresas nacionais a diversificarem mercados, aumentando a sua competitividade. Com um investimento elegível de quase um milhão de euros, o projeto centra-se nos mercados da China, Coreia do Sul e Japão que, no seu conjunto, valem 1,3% das exportações totais portuguesas. Luís Miguel Ribeiro, presidente da associação, acredita que, numa década, é possível aumentar as exportações em mais de 100 milhões de euros.

“Há aqui um longo caminho a percorrer, mas, se conseguíssemos crescer 1% ao ano, estaríamos a falar em 10%, o que, para estes mercados, é um aumento muito significativo, mas um objetivo perfeitamente alcançável. Pode até ser mais rápido”, defende o responsável.

Um crescimento acumulado de 10% nestes três mercados em 10 anos significaria qualquer coisa como 112 milhões de euros. China, Coreia do Sul e Japão representaram, em 2022, mais de 1070 milhões de euros de exportações nacionais, um pouco abaixo do ano anterior, quando ultrapassaram os 1144 milhões de euros, pesando 1,8% no total nacional. Mas a política covid-zero implementada pela China em 2022, que manteve o mercado fechado grande parte do ano, levou a uma quebra nas exportações nacionais para este destino de quase 8%, baixando o peso total dos três mercados para os 1,3%. As exportações para o Japão também caíram em 2022.

Com um investimento elegível de 986 mil euros, comparticipado em 85% pelo Portugal 2020, Compete e Feder, o projeto Next Challenge Asia abrange empresas dos setores agroalimentar, fileira casa, infraestruturas de águas e energia e materiais de construção. Arrancou em plena pandemia, em junho de 2020, e termina em junho deste ano, mas a AEP assume que a aposta é para manter. “Na nossa próxima candidatura ao apoio à internacionalização das empresas, através do programa BOW – Business on the way , continuaremos a investir nestes mercados, com ações e missões empresariais. Porque o potencial e as oportunidades que estes países representam podem ser enormes, mas é preciso um trabalho contínuo e continuado no tempo para que os resultados surjam”, sublinha Luís Miguel Ribeiro.

O projeto deveria ter arrancado com um estudo de prospeção e conhecimento dos três mercados e respetivos players internacionais, com um retail tour pelos distribuidores especializados em cada uma destas fileiras, mas as restrições impostas pela pandemia obrigaram a adiar esse estudo, que só agora vai ser feito. Em contrapartida, foram desenvolvidas guias e ferramentas digitais para melhor capacitar as empresas portuguesas que querem abordar estes mercados, e, no final de outubro do ano passado, a AEP trouxe a Portugal cerca de 30 empresários asiáticos que vieram conhecer as fábricas e os potenciais parceiros de negócio. Este ano será a vez dos empresários portugueses apresentarem os seus produtos localmente, com eventos em Tóquio, Seul e Xangai.

A Arch Valadares e os Vinhos Norte são dois exemplos das cerca de 30 empresas portuguesas envolvidas no Next Challenge Asia e que têm já “várias reuniões” agendadas no âmbito da visita que irão fazer, em abril, à Coreia e ao Japão.

A centenária Arch Valadares exporta 60% do que produz para mais de 40 mercados em todo o mundo, incluindo a Coreia do Sul e o Vietname, mas pretende expandir a sua presença no sudeste asiático. Em especial no Japão, onde procura potenciais parceiros interessados em estabelecer uma joint-venture. “Sendo as loiças sanitárias uma commodity, estamos a tentar entrar em mercados de gama média e média-alta, que apreciem o valor acrescentado dos produtos”, explica David Iguaz, diretor de exportação da antiga Cerâmica de Valadares, declarada insolvente em 2012 e que renasceu, dois anos depois, pela mão de ex-quadros da empresa.

E se é verdade que o Japão é o maior produtor mundial de sanitários de alta gama, a Arch Valadares tem “uma equipa de artesãos capazes de criarem peças únicas, de raiz” que pode interessar a grandes grupos. A intenção é criar parceriais numa lógica de “complementaridade da oferta” e a David Iguaz tem já uma série de reuniões agendadas com potenciais interessados na missão empresarial do próximo mês à Coreia e ao Japão.

Já Vera Lima, um dos elementos da terceira geração na gestão dos Vinhos Norte, explica que a empresa definiu a Coreia do Sul e a China como os mercados estratégicos a abordar, nos próximos dois anos, pelo que a adesão ao programa da AEP foi algo natural. “Dá-nos o enquadramento e a formação necessários para a abordagem ao mercado e põe-nos em contacto com os players locais”, frisa.

Com vendas de seis milhões de euros em 2022, as exportações dos Vinhos Norte representaram 12%, dos quais 4% foram para o Japão, o “mercado estrangeiro mais importante, em termos de valor, para a marca”, onde conta já com dois importadores. A visita que a AEP organizou de empresários asiáticos a Portugal está já a dar frutos. Vera Lima já foi ao Japão depois disso e reuniu-se com potenciais importadores lá. Para a Coreia do Sul seguiram já amostras. “Tudo indica que há uma grande oportunidade de entrada no mercado”, diz.

Além de participar na missão que a AEP está a organizar, em abril os Vinhos Norte irão estar em Seul, outra vez, em outubro, numa prova organizada pela Comissão dos Vinhos Verdes.

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