Visitas consulares serão “mais regulares”

por Gonçalo Lopes
Guilherme Rego

Membros do Consulado-Geral do Brasil em Hong Kong visitaram Macau pela primeira vez desde o início da pandemia. Ao PLATAFORMA, o cônsul-geral, Manuel Innocencio de Lacerda Santos Jr., e os cônsules Alexandre Alvim Ribeiro e Ivan Carlo Padre Seixas, abordam o êxodo da comunidade e o travão imposto às iniciativas de educação nos últimos anos. Falam também da importância “constitucional” do Fórum Macau e agradecem ao Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, que permitiu “atender a comunidade brasileira nos assuntos que não podiam ser resolvidos por correio”.

Foi uma “viagem rápida e confortável” aquela que os representantes do Consulado-Geral do Brasil em Hong Kong fizeram até Macau, que também é abrangida pela jurisdição consular. O cônsul-geral, Manuel Innocencio de Lacerda Santos Jr., que veio acompanhado dos cônsules Alexandre Alvim Ribeiro e Ivan Carlo Padre Seixas, manifesta a “alegria de estar aqui depois de tanto tempo e retomar o nosso contacto com Macau”. Assume também que a reabertura das fronteiras com Hong Kong fará com que as suas visitas à Região se tornem “mais regulares”.

Esta, que é a primeira que faz desde que assumiu o posto, há dois anos, foi maioritariamente para a cerimónia de assinatura do Programa Leitorado na Universidade de São José (USJ), uma iniciativa do Governo brasileiro que financia leitores brasileiros para atuar em Instituições de Ensino Superior Estrangeiras (IES) e promover a língua portuguesa e a literatura brasileira nessas instituições.

“A presença brasileira em Macau data praticamente desde a sua origem. Portugal e Brasil são extremamente unidos e o brasileiro aqui em Macau sente-se parte da cidade.”

Manuel Innocencio de Lacerda Santos Jr., cônsul-geral

Lacerda Santos Jr. explica ao PLATAFORMA que, para já, “ainda não podemos visitar as autoridades de Macau. Já temos algumas entrevistas solicitadas, mas ainda não foi possível. Imagino que todos os consulados estão nessa expetativa. Esta minha vinda quase que se dedicou exclusivamente à questão do Programa do Leitorado”, acrescenta.
Visitar Macau, depois de um interregno de três anos, foi importante para Lacerda Santos Jr. “A presença brasileira em Macau data praticamente desde a sua origem. Portugal e Brasil são extremamente unidos e o brasileiro aqui em Macau sente-se parte da cidade, pela língua, arquitetura… até comentámos entre nós como a gente se sente em casa aqui.”

“Talvez agora se inicie o processo de retorno”

À semelhança do que se testemunhou na comunidade portuguesa, o cônsul-geral partilha com o jornal que a comunidade brasileira também sentiu o impacto da pandemia em Macau e acabou por regressar ao país natal. “Houve uma redução sim. Estimamos que 15 por cento dos brasileiros aqui em Macau tenham ido embora. Talvez agora se inicie o processo de retorno”, diz, aludindo à reabertura das fronteiras na China continental e nas regiões administrativas especiais de Hong Kong e Macau. “Isto também aconteceu em Hong Kong, onde temos um contacto mais direto com a comunidade, devido à proximidade”, acrescenta, sublinhando que agora pretende reforçar a comunicação com a comunidade em Macau.

“É importante o Brasil marcar presença no meio lusófono e académico. Trata-se do maior país lusófono, é uma potência de grande relevo.”

Alexandre Alvim Ribeiro, cônsul

Sobre um regresso da comunidade brasileira às regiões administrativas especiais chinesas, diz ser “ainda muito cedo” para se pronunciar. Contudo, “já se vê sinais de que esse retorno está em processo”, até porque sente o apoio dos governos locais para essa questão.

A pandemia também veio “dificultar muito” o intercâmbio entre os povos “em todas as áreas”. No campo da educação, houve mesmo uma paralisia da intervenção oficial, que esperam agora retomar. Alexandre Alvim Ribeiro explica que antes da pandemia estava em vigor um programa estudantil especial para troca de conhecimento académico, que “entretanto foi desativado”. Porém, “é possível que venhamos a ativar um novo programa nos mesmos moldes do anterior”. Lacerda Santos Jr. reforça a questão: “O que não há dúvida é do grande interesse do Brasil em querer trocar impressões”. Alvim Ribeiro continua, destacando que “é importante o Brasil marcar presença no meio lusófono e académico. Trata-se do maior país lusófono, é uma potência de grande relevo. Mesmo que neste momento não tenhamos um programa específico virado para o intercâmbio estudantil, com o retorno das atividades, pretendemos envolver-nos mais com as instituições académicas de Macau.”

“A ênfase do Governo brasileiro na promoção da Lusofonia é matéria constitucional; algo que está sempre na nossa pauta. O Fórum de Macau pode ser muito importante como catalisador da nossa política externa.”

Ivan Carlo Padre Seixas, cônsul

Neste âmbito, “recentemente foram oferecidos por meio da Secretaria de Estado do Brasil alguns programas de intercâmbio cultural e educacional, onde se apresentam projetos que podem ser financiados por Brasília. Um dos projetos específicos trata-se do português como língua de herança. Então nós devemos entrar em contacto com os interlocutores, ver que tipo de projeto eles têm e como é possível fazer a difusão da língua portuguesa. Já apresentámos o projeto a Brasília e, se for dado o sinal verde, o costeio desses projetos será feito por nós. Portanto, neste momento, estamos mapeando, vendo quem está interessado nesse tipo de projetos, e veremos como podemos auxiliar”. A grande prioridade na esfera educacional, salienta, é “ver como manter a língua portuguesa viva”.

Fórum de Macau “transcende” quem está no poder

Quanto ao Fórum de Macau, e se Lula da Silva agora na presidência brasileira poderá trazer novos eixos estratégicos, Ivan Carlo Padre Seixas diz que ainda é “prematuro” fazer essa avaliação. Contudo, refere que “a ênfase do Governo brasileiro na promoção da Lusofonia é matéria constitucional; algo que está sempre na nossa pauta. O Fórum de Macau pode ser muito importante como catalisador da nossa política externa.” Lacerda Santos Jr. enfatiza que “a importância do Fórum de Macau transcende a política” e quem está no poder. “Não é uma troca de presidente que vai alterar a importância que o Brasil dá ao Fórum”, concluindo que se trata da “continuidade dos trabalhos” até agora realizados.

Brasil agradece a Portugal

Nos três anos de pandemia houve dificuldades em servir a comunidade brasileira em Macau, já que as fronteiras com Hong Kong estavam encerradas. O problema foi ultrapassado com o apoio do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, “que nos permitiu atender a comunidade brasileira nos assuntos que não podiam ser resolvidos por correio, como as questões notariais”, destaca o cônsul-geral, que faz questão de “agradecer pelos serviços prestados” durante o período.

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