“Portugal é o país na Europa que melhor percebe a China, graças a Macau”

por Mei Mei Wong
Nelson Moura

Descrito como o mais antigo jornal em língua chinesa ainda em atividade em Portugal, o jornal continua a fornecer informação sobre o país à comunidade chinesa dentro e fora de Portugal há mais de 15 anos. Ao PLATAFORMA, a sua fundadora e diretora, Ma Li, descreve o progresso da publicação e da sua linha editorial, e a sua experiência como uma jornalista chinesa em Portugal

-Poderia descrever um pouco da sua experiência profissional antes de fundar o Puxin?

Ma Li– Sou de Cantão e cheguei a Portugal em 1999, vivo cá há quase 25 anos. Fundei o jornal Puxin em 2005. Quando cheguei em 1999 vinha para ajudar a familia. Em 2002 abri uma loja e em 2004 comecei a escrever alguns artigos para um jornal de língua chinesa baseado em Espanha. Em 2005 decidi então fundar um jornal de língua chinesa em Portugal.

-Porquê?

M.L.– Eu vi que havia necessidade de uma publicação em língua chinesa para a comunidade em Portugal. Em 2005 não havia tanta informação disponível ou tantos meios de comunicação que os chineses no país pudessem usar para sabe notícias. Fossem notícias das relações entre Portugal e a China ou só sobre a China. A história da imigração chinesa em Portugal não é muito antiga, por isso ainda há muitos chineses em Portugal que não conhecem bem os seus direitos como residentes. O Puxin fornece não só notícias sobre a China, mas também sobre os direitos que imigrantes chineses possuem no país.

-Como foi a evolução do jornal de 2005 até agora?

M.L.– Houve grandes mudanças desde 2005, no início o Puxin era um semanário com 52 páginas. Os chineses no país na altura gostavam de ter o jornal nas suas lojas e ler o máximo de informação possível para a comunidade. Agora o Puxin é um meio de comunicação puramente digital, e só publica uma edição impressa quando há notícias ou eventos especiais. Atualmente publicamos muitas notícias diariamente em 45 plataformas digitais, incluindo o WeChat, Facebook, Twitter ou no nosso website. Publicamos mais de 100 artigos por dia, incluindo notícias de várias cidades na China, e três notícias sobre Portugal traduzidas.

-Quantos jornalistas o jornal tem atualmente?

M.L.– Temos quatro jornalistas em Portugal e um jornalista na China. Antigamente tínhamos um escritório em Pequim, mas era um processo complicado, por isso temos só um correspondente lá. Os jornalistas estão sempre a mudar, mas os nossos jornalistas têm sempre a capacidade de falar português. Normalmente são estudantes chineses a completar o seu mestrado ou doutoramento em Portugal.

-Quais são as maiores dificuldades de um jornal chinês em Portugal?

M.L.– Há muitas dificuldades. Primeiro, hoje em dia há menos e menos jornais impressos na Europa, os custos são muito elevados. A língua também é um obstáculo, não há tantas pessoas na Europa que leiam chinês. Segundo, eu acho que em Portugal há uma certa distância entre os jornalistas de media chineses e a sociedade portuguesa, especialmente com o Governo português. Nós não temos um número de leitores suficiente para suportar a nossa publicação, já que só há uns 30 ou 40 mil chineses a viver em Portugal. Para sobreviver estabelecemos muitas colaborações com entidades na China. Antigamente tínhamos uns 20 a 30 negócios chineses a comprar publicidade no jornal, mas hoje em dia não. Existem demasiados meios onde a comunidade pode encontrar notícias ou informações, por isso temos menos e menos publicidade. Tentamos colaborar com mais comerciantes portugueses.

-O que quer dizer com a distância para com o Governo português?

M.L.– Atualmente, os jornalistas do Puxin podem ter carteira de jornalista em Portugal, mas há muita burocracia e o processo de renovação é muito longo. Ainda não pudemos renovar essas carteiras. Os jornalistas chineses também não são convidados muitas vezes para eventos organizados pelo Governo português. É difícil para nós acompanharmos essas atividades. Creio que na China, quando o Governo organiza um evento, os jornalistas estrangeiros são sempre convidados. Isto causa muitas dificuldades aos jornalistas chineses que trabalham em Portugal

-Que tipo de notícias interessam mais à comunidade chinesa de Portugal?

M.L.– Normalmente as informações essenciais para qualquer chinês a viver em Portugal, como os seus direitos atuais, novos direitos, novas políticas governamentais, sobre vistos gold, impostos, etc.

-Que tipo de colaborações procuram estabelecer com entidades na China?

M.L.– A colaboração com entidades chineses não tem tanto a ver com publicidade, mas para me permitir ir à China escrever ou reportar sobre diversos assuntos. Costumamos ser convidados para reportagens sobre as mudanças na China nos últimos anos. No que toca a acordos para publicidade, é difícil, não há muitos chineses em Portugal e os que vivem cá podem encontrar muitas informações online, por grupos de WeChat.

-Como vê a maneira como se reporta sobre a China nos meios de comunicação em Portugal?

M.L.– Eu acho que o Governo chinês costuma tratar os media portugueses com simpatia. Uma vez falei com o embaixador português na China e partilhava da minha opinião. A relação entre Portugal e a China é muito antiga, com mais de 500 anos. Alguns países ocidentais não percebem muito bem a China e as mudanças que ocorreram no país. Eu visitei muitas vezes o país ao longo do tempo, e notei sempre um grande desenvolvimento. Espero que alguns países ocidentais possam ter uma atitude menos agressiva para com a China, e que partam de uma perspetiva de maior colaboração. O mais importante é a felicidade de todos os povos, espero que a comunidade chinesa em Portugal ajude os dois países a encontrarem pontos de vista comuns. A atitude da China para com Portugal, ou os países europeus, sempre foi de simpatia. Portugal é o país na Europa que melhor percebe a China, graças a Macau.

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