Custo para sustentar animais de estimação está 21% mais caro do que há um ano

por Viviana Chan
Dinheiro Vivo

Gasto mensal médio dos donos subiu para 110 euros. Alimentação dos pets é o que mais pesa na fatura, tendo as rações para cães aumentado 30% e as de gatos 25%. Vendas de rações caíram 5%, de acordo com a Associação Portuguesa dos Alimentos Compostos para Animais.

Ter um animal de estimação custa hoje em dia, em média, quase 21% mais do que em 2021, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística.

Nos primeiros 11 meses do ano passado, o custo de ter um amigo de quatro patas rondava os mil euros, ou seja, cerca de 90 euros mensais. Já no mesmo período deste ano – de janeiro a novembro – o gasto foi de 1205 euros, o que equivale a quase 110 euros por mês.

Entre todas as despesas associadas ao facto de se ter um pet, o aumento do custo da alimentação é o que mais pesa no bolso. O preço dos alimentos para animais de companhia aumentou no último ano, segundo Jaime Piçarra, secretário-geral da Associação Portuguesa dos Alimentos Compostos para Animais (IACA). E detalha: “Nos alimentos para gatos o aumento situou-se nos 25% e para cães 30%”.

O que tem levado a uma quebra de vendas das rações na ordem dos 5%, decorrente de uma redução da procura. Paralelamente, os consumidores estão a comprar gamas mais económicas, ao invés das opções premium, revela ao Dinheiro Vivo, Jaime Piçarra. Como explica o responsável, estes aumentos são o resultado da duplicação dos custos das matérias-primas, combustíveis e energia.

E embora tenha havido uma “desaceleração nas últimas semanas, os cereais estão ainda 20% acima dos valores registados há um ano, as farinhas animais 30% e as gorduras na ordem dos 40%”. Já a energia sofreu um aumento médio de 25 a 30 euros por tonelada de ração produzida na União Europeia (mas chegou aos 60 euros em rações premium).

Perante estes valores, Jaime Piçarra prevê que, “sem medidas concretas em 2023, e sendo certo que vamos ter inflação em alta, incerteza e volatilidade, as perspetivas são pessimistas para o próximo ano”. Isto, e porque, de acordo com as indicações que a IACA recebe por parte das empresas, estas não estão a repercutir no preço de venda a totalidade do aumento do preço das matérias-primas.

“De um modo geral, estes custos estão a ser incorporados, mas os outros, como a energia, combustíveis, transportes ou encargos financeiros estão a ser incorporados em cerca de 75%, com as margens a diminuir claramente”, diz Jaime Piçarra. Aliada a todas estas condicionantes, está a greve dos trabalhadores das administrações portuárias, iniciada dia 22.

O que suscita uma crítica do secretário-geral da IACA: “De uma forma inconcebível, não foram definidos serviços mínimos para as descargas de graneis alimentares, o que vai conduzir a atrasos na descarga de navios e a custos de aprovisionamento acrescidos.” Alerta para a possibilidade de poder haver ruturas de stock e dificuldades na alimentação dos animais.

Um cenário que remete para outra realidade: donos de animais de estimação acabam por abandoná-los, por não terem possibilidade de os alimentar. Ou que recorrem a associações para apoio. Associações, essas que também estão a passar por uma situação difícil.

Na União Zoófila, onde é consumida por semana uma tonelada de ração, o aumento dos preços – na ordem dos 15% a 20% – levou a que as contas da instituição se ressentissem. “Isso reflete-se na diminuição do volume de donativos que recebemos ao portão do abrigo e nas campanhas de angariação de donativos que realizamos junto das grandes superfícies”, afirma Ana Palha.

Por outro lado, e tal como identificado pela IACA, registou-se também um aumento exponencial dos pedidos de ajuda recebidos. “De famílias, de outras associações e de cuidadores informais de colónias, que não estão a conseguir assegurar a alimentação dos animais de companhia ao seu cuidado”, lamenta Ana Palha. Também os donativos monetários sofreram uma redução drástica.

Face a 2021, a instituição registou uma quebra de cerca de 50%. Apesar disso, não diminuiu o número de pessoas que se identificam com o trabalho da associação. “Quem dá, continua a dar. Dá, é menos”, frisa Ana Palha, que ainda adianta que este cenário de inflação obrigou “a um enorme “apertar do cinto”, para poder continuar a acudir a todos os animais (número crescente) que não diminuíram as necessidades do dia a dia”.

Acudir aos amigos de quatro patas é também a missão da clínica veterinária, AnimaisVet – Mimos Que Curam. Ali vendem-se quatro marcas de rações, escolhidas para garantir que animais sem problemas de saúde continuam a ter acesso a produtos de qualidade e também como coadjuvantes de tratamentos. Mas, como explica a enfermeira veterinária, Filipa Queirós, “uma delas já só [vendem] quase exclusivamente por encomenda, por causa da acentuada subida de preços”.

Preços que aumentaram entre 10% e 15% por quilo, embora em algumas marcas, que já eram mais caras, os aumentos rondem os 20%. “Algumas reduziram o tamanho dos sacos, para que o valor pago pelo cliente não seja tão acentuado, disfarçando, de certa forma, os aumentos”, comenta Filipa.

Deixar de vender estes produtos não é equacionado pela equipa da AnimaisVet que, no entanto, já alterou o modo de gestão do seu sortido. “O volume de vendas tende a diminuir e manter um stock com um volume significativo implica um grande esforço financeiro”, refere a enfermeira veterinária. Como a clínica apenas faz a revenda destes artigos, o aumento está a ser repercutido totalmente no cliente.

Uma situação recorrente, confirma a IACA: “Esta situação terá um impacto no consumidor final, apesar de as empresas estarem a tentar não repercutir a totalidade dos custos no preço praticado.”

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