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Recuperar Macau

Guilherme RegoGuilherme Rego*
Guilherme Rego

Um dia depois do Continente anunciar novas medidas de combate epidémico, Macau seguiu o exemplo. O volte-face é grande: baixa-se a guarda e deixa-se o vírus propagar.

Algumas medidas são mantidas, para que os serviços de saúde sejam capazes de lidar com o número de infeções. A realidade é que hoje cerca de 90 por cento da população está vacinada e, segundo as autoridades, 90 por cento da população não terá de recorrer ao sistema de saúde no caso de infeção. Mas ainda preocupa a resistência dos idosos à vacinação – grupo vulnerável -, bem como a baixa taxa de vacinação das crianças.

Esses fatores levam a Assembleia Legislativa a questionar a base científica das novas medidas, bem como a surpreendente mudança de uma política rígida para uma mais leve e de convivência com o vírus. Até porque as autoridades dizem que, fruto desta transição, entre 50 a 80 por cento da comunidade local será infetada.

Para a economia local, todas as mudanças são vistas com bons olhos.

Parece ter terminado o capítulo de sucessivos retrocessos na chegada de um novo surto, quer na política fronteiriça, quer na quebra de atividade.

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Tornou-se impossível planear a médio-longo prazo, porque tudo dependia das decisões das autoridades face a novos casos comunitários, respondendo sempre de forma intolerante. Sendo assim, a sobrevivência tornou-se a única possibilidade. Entretanto, noticia-se que Hong Kong e o Continente vão relaxar o controlo fronteiriço brevemente.

Significa que Macau também fará parte dessa conversa e vai poder recuperar o seu segundo maior mercado de visitantes – embora não se compare ao potencial que o Continente terá daqui em diante (quando a cidade for mais do que é hoje). Analistas defendem que de Hong Kong pode vir a solução para a queda do mercado VIP. E a atração de mercados internacionais também só será possível através da cooperação com a região vizinha.

A Direcção dos Serviços de Turismo mostra trabalho, criando subsídios para os viajantes oriundos do Continente. É uma ferramenta inteligente na garantia da competitividade, pois todas as províncias e cidades no Interior adotarão posições semelhantes. A atuação das concessionárias neste campo será muito importante.

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Com ou sem diversificação, a cidade será sempre dependente do setor turístico, que por conseguinte depende da eficácia das vencedoras do concurso na atração de clientes.

Embora seja do conhecimento geral que a atratividade de Macau não pode somente remeter-se ao jogo, há um problema: vai demorar a construir uma imagem diferente e há muitos custos envolvidos. Em Hong Kong projeta-se a recuperação dos níveis pré-pandémicos para 2024 (e a região já se adiantou no relaxamento pandémico). Macau também precisa de tempo, e Pequim tem de ter essa consciência. A recuperação do jogo é o que vai permitir tudo o resto. E nada poderá ser feito do dia para a noite.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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