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O que fazer com o 5G de Macau?

Carol LawCarol Law

A CTM e a China Telecom (Macau) ganharam as licenças de exploração do 5G na cidade. Está dado o primeiro passo, agora que finalmente foram atribuídas. Analistas sugerem que a rede 5G vai liderar a transformação em áreas cruciais. Contudo, apontam que o Governo de Macau parece incapaz de criar regulamentações concretas que permitam explorar todo o potencial desta tecnologia

Apesar das licenças 5G em Macau estarem em discussão há já algum tempo, só agora foram finalizadas, com o plano de desenvolvimento para o mercado de telecomunicações e a aplicação da tecnologia 5G pela indústria ainda por esclarecer.

De acordo com o vice-presidente da Associação de Sinergia de Macau, Johnson Ian, o Governo não possui ainda regulamentação que suporte o desenvolvimento das telecomunicações ou planeamento urbano.

O mesmo salienta que esta tecnologia não é nova e que Macau está alguns anos atrás dos seus vizinhos, como Hong Kong.

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Todavia, o processo de licenciamento foi adiado devido a problemas com a rede da CTM e, no fim, as licenças foram concedidas apenas a duas operadoras das quatro que participaram no concurso, afetando diretamente as escolhas dos consumidores.

“No final, quem perde acaba por ser o Governo, a cidade e toda a sua população. Parece que será um caminho atribulado.” Agnes Lam, professora do Departamento de Comunicação da Universidade de Macau, afirma ao PLATAFORMA que o número de operadoras a participar na licitação foi inferior ao esperado, assim como todo o entusiasmo do mercado durante o concurso.

A professora salienta que a tecnologia 5G é usada na sua maioria como apoio a outras indústrias e há muito que pode ser feito com esta infraestrutura de rede.

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Mas questiona: “Como fazê-lo? Com menos operadoras e uma competição reduzida, o que acontecerá aos preços? Existem ainda muitas incertezas, estamos apenas no início”.

REGULAMENTAÇÕES PENDENTES

Para Agnes Lam, o desenvolvimento da rede 5G e das suas indústrias relacionadas dependem da recuperação económica futura, com a necessidade de regulamentações específicas a ser implementadas pelo Governo.

A mesma refere que existe grande expectativa no que toca ao potencial desta tecnologia por todo o mundo, e dos seus usos no desenvolvimento futuro de Macau, incluindo construções urbanas, novas indústrias, entre outros.

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“Sem um plano de construção concreto, o ritmo será sempre lento. Porém, o planeamento em Macau ainda me parece muito condicionado pela epidemia. Questiono até se o Governo possui de facto um plano claro para implementar no futuro. De- pois das licenças atribuídas, o que fazer a seguir?”.

Para a investigadora, o Governo deve ser claro em relação os focos principais da rede 5G, nomeadamente, as indústrias que podem ser criadas, a sua utilização em pesquisa e, especialmente, as suas aplicações práticas no dia-a-dia da população.

“Acredito que o Governo precisa de dedicar mais tempo a este lado prático. Tudo o que assiste a nossa vida é capaz de criar uma indústria, mas acho que ainda não chegámos a essa fase. A rede 5G não será apenas usada para ver vídeos online. Se fosse esse o caso, o atual 4G seria rápido o suficiente. Ainda há muito a fazer e tem de ser o mais rápido possível”.

So, um trabalhador na área de informática, salienta ao PLATAFORMA que os pontos fortes da rede 5G são a sua estabilidade e rapidez, sendo por isso ideal para o desenvolvimento de veículos de condução autónoma, telemedicina e Internet das Coisas.

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“Um destes exemplos inclui a condução autónoma de comboios de alta velocidade. A tecnologia 5G pode ainda ajudar a controlar o trânsito, sem a necessidade de polícia no local a controlar, como acontece atualmente em Macau”.

Acrescenta que a rede 5G ajudará a impulsionar a transformação digital de várias indústrias, como por exemplo a medicina.

Como exemplo, destaca a Ali Health, uma subsidiária da gigante tecnológica chinesa, Alibaba, cujos cuidados de saúde inteligentes ajudam profissionais a diagnosticar doentes de forma remota.

Contudo, o mesmo afirma não ter conhecimento de qualquer medida concreta do Governo para desenvolver estas áreas.

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“Temos a ‘base’ 5G, mas e o seu futuro?”.

O profissional do setor confessa ainda que muitas pessoas confundem a rede 5G com outros conceitos de informática e cita o fenómeno do metaverso como exemplo.

“Para desenvolver um metaverso, a velocidade da internet não é o mais importante, mas sim a ligação entre os bens virtuais e o mundo real. Macau nem menciona este aspeto. Acham que o metaverso é apenas usar uns óculos e ter um avatar online. Tudo isso já é possível com a rede 4G, não está relacionado com a tecnologia 5G”.

PARTE DE UM TODO

Johnson Ian salienta que apesar de Macau não ser uma cidade conhecida pela sua inovação tecnológica – apenas usufrui da tecnologia-, com a rede 5G fica ligada ao mundo. O analista aponta que apesar do 5G ser uma grande ajuda para a telemedicina, existem vários problemas por resolver, incluindo formas de cooperar com outras áreas e transferência de dados.

Por isso, acredita que caso Macau desenvolva estas indústrias inteligentes, a principal questão não será o uso de 4G ou 5G, mas sim a forma de pensar do Governo. Tomando como exemplo as frequentes falhas dos códigos de saúde nos últimos anos, Ian destaca que a aplicação de tecnologia da informação do Governo ainda precisa de ser aprimorada.

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Enfatiza também que existe uma escassez de recursos humanos na cidade para desenvolver o 5G e as suas aplicações. Para atrair estes profissionais é preciso saber se Macau tem indústrias atrativas e se o Governo está disposto a fazê-lo. Outra questão será o emprego.

So acredita que com o desenvolvimento da tecnologia alguns trabalhos manuais intensivos serão substituídos, mas para tal tem de se criar uma nova geração de talentos em telecomunicações e inteligência artificial.

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