Empregar cidadãos autistas, incentivando-os a serem independentes

por Gonçalo Lopes
Che Sai Wang*Che Sai Wang

Os dados mais recentes do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos revelam que uma em cada 54 crianças é autista.

Estima-se que o número total de pessoas com transtorno de autismo ronde os 70 milhões a nível mundial. Em Macau são mais de 400, ou seja, 400 famílias sofrem atualmente as dificuldades inerentes ao espetro do autismo.

Alguns pais de crianças autistas em Macau partilham que depois de acabarem a escola estes são orientados para trabalhar em cargos especializados oferecidos pelo Instituto de Acção Social. Contudo, estes mercados estão saturados, com vagas disponíveis apenas depois da saída de um destes trabalhadores autistas e, por isso, é um processo demorado. Os locais de trabalho estão também mais dispostos a empregar trabalhadores com deficiências físicas sem qualquer perturbação do foro mental do que o contrário, como é o caso do autismo. Em termos de remuneração, o Governo da RAEM oferece subsídios a trabalhadores portadores de deficiência, mas este não segue os requisitos do ordenado mínimo oferecido aos restantes empregados. O valor máximo deste subsídio é de 6.656 patacas, valor equivalente ao ordenado mínimo para os restantes trabalhadores.

Trabalhadores portadores de deficiência não são abrangidos pela garantia mínima de rendimento, além de enfrentarem um mercado saturado e com escassez de vagas, levando a que os seus encarregados de educação se preocupem com a possível incapacidade de cuidarem deles, assim como a dificuldade para encontrarem um meio de autossubsistência e integração na sociedade.

Muitas famílias acreditam que o subsídio para cuidadores oferecido pelo Governo só cobre residentes portadores de deficiências mentais graves, uma forma grave do transtorno do espetro autista ou pessoas acamadas – requisitos bastante limitadores. Primeiramente, é difícil diagnosticar a gravidade dos sintomas do transtorno autista em crianças. Para além de todos os cuidados pessoais básicos, crianças autistas exigem muitos outros cuidados, esforço e dinheiro para lhes oferecer um tratamento e reabilitação especializados. Ou seja, famílias com ambos os pais trabalhadores que cuidem de crianças autistas terão de pagar valores altíssimos para contratar profissionais capazes de tomarem conta destes familiares, acabando por um dos pais sacrificar o seu emprego a tempo inteiro. Não existe também qualquer cura clínica para o autismo, sendo que o treino de reabilitação é a única forma de melhorar a capacidade dos mesmos de interagir com a sociedade e reduzir comportamentos anormais.

Contudo, esta reabilitação implica custos altos, recursos profissionais escassos e tempos de espera longos. Estes problemas, além dos custos financeiros, podem gerar stress emocional entre as famílias e ter impacto grave na recuperação e desenvolvimento da pessoa com autismo.

É da responsabilidade de todos os membros da comunidade demonstrar preocupação para com as dificuldades de sobrevivência e de desenvolvimento destas famílias e oferecer-lhes o auxílio adequado, demonstrando o caráter humanista da sociedade de Macau.

*Deputado da Assembleia Legislativa de Macau/Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau

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