Quem são as pessoas da Grande Baía

por Mei Mei Wong
Un Hong In

AO LONGO DOS ÚLTIMOS ANOS A CULTURA DE GUANGDONG E LINGNAN TEM SIDO PROMOVIDA EM VÁRIOS PROGRAMAS NA CHINA CONTINENTAL. ESTA “ONDA DA GRANDE BAÍA” INCLUI AINDA A PRESENÇA DE VÁRIOS ARTISTAS DE HONG KONG E DA LÍNGUA CANTONESA, COMO UM MUITO AGUARDADO SINAL DE VALORIZAÇÃO. CONTUDO, QUANDO UM ARTISTA DE HONG KONG DURANTE UM PROGRAMA TELEVISIVO NA CHINA CONTINENTAL REFERIU SER DA “GRANDE BAÍA”, GEROU-SE UMA DISCUSSÃO ENTRE HONG KONG E O CONTINENTE SOBRE O SEU SIGNIFICADO. O QUE É A “GRANDE BAÍA”?

No dia 31 de julho o canal Southern Television (TVS) mudou de nome para GRT Greater Bay Area TV, assim como a sua estação de rádio. Sendo o único canal televisivo em Cantonês na China Interior, esta mudança prova a importância que o governo central oferece à Gran- de Baía. Todavia alguns telespectadores têm demonstrado a sua oposição, com a produção e conteúdo do canal a ser afogada pelo seu posicionamento na “Área da Grande Baía” e com a terminologia usada a tornar-se foco da discussão.

HISTÓRIA DESTE NOME DE CÓDIGO

“A (Cooperação) da Região do Pan-Delta do Rio das Pérolas”, direção de desenvolvimento que inclui Hong Kong e Macau no rio das Pérolas, já não é falada.” Dois editores de Guangzhou que gerem a página online Kau Kei News, com os usernames Minmin 1 e Minmin 2, afirmam que o nome “Grande Baía” é familiar. Antes do Pan-Delta do Rio das Pérolas existiam já vários outros projetos regionais com o principal objetivo de atrair comerciantes de Hong Kong e Macau a Guangdong, mas todos desapareceram”.

Nascido e criado em Macau, Elson é fascinado por tudo o que está relacionado com a identidade de Macau, por isso fez um mestrado em Antropologia Cultural em Portugal.

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Este salienta que a Área da Grande Baía é uma nova região definida por várias medidas políticas e económicas, por isso tem uma dimensão maioritariamente política e económica. Como resultado, estas medidas acabaram por destruir a sua individualização, especialmente em distritos mais “característicos”.

“A Southern Television era um conceito aberto, mas a Greater Bay Area TV limita-o e cria uma barreira demasiado clara entre ‘nós’ e ‘outros’”, comenta. Por outro lado esta delineação ajuda a criar algum consenso.

SENTIMENTO DE PROXIMIDADE SONORA

“Somos chamados de antiquados se realçarmos a língua cantonesa em Guangzhou”. Minmin 1 afirma que algumas escolas proíbem até os seus alunos de usar Cantonês. Estes frequentam “aulas de língua” em vez de “aulas de Chinês”.

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Caso fosse usado o pinyin Mandarim para ensinar Chinês, “poderia haver algumas queixas de encarregados de educação, as próprias autoridades afirmam que não se pode proibir o uso de Cantonês, mas com o passar do tempo as crianças acabam por usar em grande parte o Mandarim.” Existem tantas pessoas de fora, que os locais de Guangzhou já são uma minoria.

“O Douyin (TikTok China) é maioritariamente chinês, ao contrário de em Hong Kong ou Macau, onde alguns influencers promovem a cultura local, em Guangzhou as pessoas veem TikToks com conteúdo de toda a China, tudo em Mandarim”.

“Muitas pessoas de Guangdong acreditam que os residentes de Hong Kong e Macau são cantoneses que abandonaram Guangzhou com a guerra. Tal como os políticos em Pequim. Quando ouvimos o Cantonês de alguém conseguimos logo perceber se são de Guangzhou, Hong Kong ou Macau”, acrescenta Minmin 2.

A LUTA CULTURAL ENTRE O CANTONÊS E O MANDARIM

Elson acredita que o efeito secundário da popularização do Mandarim é o enfraquecimento do sentimento de identidade regional de grupo. Em Macau podemos ver a atual realidade da língua cantonesa na China continental. A maioria das crianças comunica entre si em Mandarim, usando uma mistura de escrita tradicional e simplificada.

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Os locais demonstram algum descontentamento para com este fenómeno. Para Elson, a popularização do Mandarim não deve afetar o estatuto do Cantonês como língua materna da região, a identidade deve começar em cada um e alastrar-se posteriormente para o grupo. “Assim como aprendemos Inglês, sem que esta língua substitua o Chinês”.

Desde a criação da Área da Grande Baía, tem sido enfatizada a importância da cultura cantonesa, tal como provam as visitas frequentes de artistas de Hong Kong ao continente. O estatuto do Cantonês parece ter subido com estas figuras.

Minmin 2 acredita que, tal como qualquer outro edifício que representa a força da China, o canal de televisão Greater Bay Area TV é um símbolo de grande alcance.

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“Irão existir programas televisivos que enfatizam a preservação cultural, altamente importantes, mas é tudo uma ilusão que tenta convencer a população de que esta cultura está a ser protegida e de que não há necessidade de promover a preservação cultural e linguística”.

Minmin 1 afirma que a audiência-alvo de um canal televisivo e estação de rádio com o nome Greater Bay Area claramente não são os cidadãos de Guangzhou, mas sim a população da China continental, Hong Kong e Macau.

“Tal como Shenzhen durante o período de reforma e abertura, quando recebeu auxílio com o capital de Hong Kong, numa altura em que o seu desenvolvimento era necessário, as ruas estavam cheias de cartazes em Cantonês e escrita tradicional, dando as boas-vindas ao investimento de Hong Kong”, por isso salienta que esta “voz única, respiração única” pode oferecer à população de Hong Kong e Macau um sentimento de proximidade.

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Ao ouvirem notícias da China continental em Cantonês sentem uma ligação muito mais forte à região do que se o mesmo fosse feito em Mandarim por uma voz com sotaque de Pequim.

QUEM SÃO AS PESSOAS DA GRANDE BAÍA?

Segundo Minmin 2, por outro lado, a denominação de “população da Grande Baía” poderá gerar descontentamento. Contudo, do ponto de vista académico, os residentes da Grande Baía, incluindo Hong Kong e Macau, são cultural- mente cantoneses.

“Em Guangdong existem três grandes famílias linguísticas, a língua hacá, a língua cantonesa e a língua teochew”.

Minmin 1 compara a Área da Grande Baía à Nova Área de Xiong’an da região Norte no “plano centenário” do governo central. Serão cria- das economias separadas a Norte e Sul, especialmente depois de 2019, quando uma série de medidas pro- curaram destruir as identidades de Guangzhou, Hong Kong e Macau, juntando-as num só grupo.

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Elson salienta: “A identidade não deve ser algo construído, mas sim um longo processo, é natural sentir um afeto especial por certos lugares, forçar este sentimento poderá acabar por criar o efeito oposto”.

Em termos linguísticos, como um único grupo, os seus indivíduos devem ser capazes de comunicar entre si para conseguirem atingir uma união, para tal é essencial uma língua em comum.

A Greater Bay Area Tv vem assumir este papel na tentativa de reunir as populações das diferentes regiões. O mesmo acredita ainda que o governo central tem a intenção de preservar a cultura cantonesa e de possibilitar uma oportunidade de alívio para os seus falantes num contexto de popularização do Mandarim.

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