Começar do zero

por Mei Mei Wong
Guilherme RegoGuilherme Rego*
Guilherme Rego
Guilherme Rego

Na generalidade dos meios, o sentimento é o mesmo: estrangeiros (mesmo aqueles detentores de BIR) têm cada vez mais dificuldades na progressão de carreira em Macau. Um receio que ganhou raízes com o tempo, mas que foi crescendo com a pandemia e a política de casos zero. Para jovens que nasceram e viveram toda a sua vida na cidade, a tendência tem sido sair para não mais voltar.

Sentem que a janela de oportunidades é mais apertada e que estamos perante uma nova fase, na qual o seu valor não é reconhecido.

Leia também: Macau abre portas à entrada de estrangeiros

Tudo porque Macau, ao longo do tempo, foi mutando com os olhos postos no Continente, esquecendo as suas características únicas e potencial além-fronteiras. O desenvolvimento da Grande Baía traz novas oportunidades, mas também obstáculos com os quais Macau nunca lidou. O jogo, que nas últimas duas décadas foi a única indústria a sustentar a economia da cidade, nunca enfrentou competição.

Pequim garantiu-lhe essa singularidade no mercado doméstico chinês. Hoje, sabe-se que o futuro será diferente e que só será risonho caso Macau consiga novas fontes de receita. Mas parte tarde nessa conquista, e não terá direito a singularidades; terá de construí-las. A abertura de Hengqin a estrangeiros, através de Macau, é uma ótima notícia, mas também é uma realidade inatingível neste momento.

Enquanto a intolerância ao vírus se mantiver, estas medidas não encaixam no presente, nem tão pouco revertem a tendência da fuga de talentos. Vão-se implementando novas medidas no sentido de consolidar Macau como ponte entre o ocidente e o oriente, mas os frutos só serão colhidos a médio-longo prazo. Colocam-se as fichas no futuro, mas não se analisa a questão de fundo.

Leia também: “Macau tem de desenvolver talentos para a plataforma sino-lusófona”

Para levantar a economia, para a diversificar, a cidade tem de refletir sobre o seu contexto atual e melhorá-lo consideravelmente. Macau começa do zero, mas esse número é relativo. Muito do talento que precisa para cumprir os seus objetivos até 2035 já se encontra na Região, mas se não tomar providências para assegurar o futuro destes recursos, terá mesmo de começar do zero, retardando ainda mais a nova face com que pretende vigorar.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

Pode também interessar

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!