“O Impacto do Confinamento na Saúde Mental da População em Macau” 

por Gonçalo Lopes
José Pereira CoutinhoJosé Pereira Coutinho*

Têm sido adoptadas medidas de controlo comunitário que culminaram na implementação de um confinamento “parcial”, no dia 11 de julho de 2022, posteriormente revertido para uma fase denominada de “consolidação”, com início a 23 de julho de 2022 e que deverá ter a duração de duas semanas. 

Na implementação deste processo de confinamento, foram diariamente anunciados os ajustamentos às regras de isolamento, que incluíram o encerramento de todas as atividades comerciais não essenciais e a proibição de permanência na rua a todos os cidadãos, impondo-lhes a utilização obrigatória de máscaras KN95. 

Esta constante alteração das medidas restritivas de circulação, apesar da relação positiva com a diminuição dos casos de contágio, casos de mortalidade, geraram impactos negativos na população, no que diz respeito principalmente à saúde e ao aspeto emocional, com profundas implicações  nas relações familiares e no aumento de suicídios.
A experiência e investigação realizadas noutros países, onde foram aplicadas medidas radicais de confinamento, indicam que apesar de não haver uma manifestação imediata de sintomas, associados a este fenómeno, não significa que eles não venham a revelar-se a médio prazo, principalmente nas crianças.

E as crianças, adolescentes e jovens, são as vítimas ocultas mais vulneráveis, o que tem suscitado o estudo de especialistas para a análise do impacto do confinamento na saúde mental das populações, com especial incidência, então, nas crianças.

A esta ameaça invisível, concorrem outros fatores de enorme impacto, tais como a perda da rotina escolar e do relacionamento social, o que levou a UNICEF a declarar que o “impacto de confinamentos e restrições de movimentos, associados à COVID-19, na saúde mental de crianças, adolescentes e jovens, é significativo, mas é somente a ponta do iceberg”.

Em Macau, infelizmente, os problemas de saúde mental resultam também do receio, nomeadamente por parte da população idosa, que advém do anúncio diário ininterrupto de uma multiplicidade de medidas sanitárias desarticuladas, sendo muitas delas consideradas desproporcionais, ilógicas e mesmo contraditórias.

Apesar de inicialmente terem demonstrado o seu apoio às medidas restritivas, o processo de comunicação, principalmente veiculado através das conferências de imprensa diárias, tem-se revelado errático, desconexo e confuso, com respostas desadequadas e despropositadas, resultando num sistema perverso de distanciamento social, com consequências dramáticas para as famílias e para os animais de estimação.

Por outro lado, as sistemáticas e longas quarentenas contribuem para o aumento da angústia, insónia e ansiedade, sintomas psicológicos que se agravam com a perturbação causada pela atribuição inesperada, aos cidadãos associados a grupos, ou zonas, de risco, das cores (amarela ou vermelha) aos códigos de saúde, sem que possam antecipar uma alteração para um estatuto adequado.

Outro quadro preocupante é o desenvolvimento cognitivo das crianças. Um dos primeiros estudos sobre o impacto psicológico do coronavírus, citado pelo El País, feito com 1.210 pessoas em 194 províncias da China, incluindo 344 jovens de 12 a 21 anos, revelou que 53,8 por cento dos pesquisados consideravam moderado ou grave o impacto de transtornos de saúde mental, 16,5 relataram sintomas depressivos moderados a graves e 28,8, sintomas de ansiedade moderada a grave. 

Finalmente, todos nós estamos a aprender a conviver com a pandemia e ao que tudo indica o agente causador da Covid veio para ficar, devido às suas constantes mutações e variantes, a exemplo da gripe. E o mundo começa a entender que é inevitável adaptar-se a essa nova situação. Nos dias atuais, é falácia acharmos que a COVID-19 acabou ou foi-se definitivamente embora. O que ocorre, realmente, com base na experiência epidemiológica da humanidade e na ciência, é que o novo coronavírus, responsável pela pandemia da COVID-19, veio para ficar. O mundo parece que está a começar a entender esse infeliz fenómeno e nós todos também.

*ASSOCIAÇÃO DOS TRABALHADORES DA FUNÇÃO PÚBLICA DE MACAU

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