Macau muda

por Gonçalo Lopes
Guilherme RegoGuilherme Rego*
Guilherme Rego

Uma transferência de soberania que seria protegida por 50 anos foi precipitada pelos ventos de revolta em Hong Kong. Macau não se posicionou no eixo da região vizinha, nem isso lhe interessou – o precipício económico era certo e pior do que o que enfrenta agora.

Contudo, após a chuva de críticas do ocidente face à situação em Hong Kong, os holofotes viram-se para Macau, preocupados com o processo desencadeado pela pandemia. As limitações à liberdade, a intolerância a movimentos políticos contraditórios, os casos de imprensa, o “esquecimento” do bilinguismo na administração da Justiça e até a “pré-seleção de juízes” para os casos que envolvam a segurança nacional. Tudo isso são argumentos dados pela ONU de que, mais rápido do que o esperado, Macau muda; e caminha para onde a Organização não quer: em direção à China, que nunca ratificou o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos. A RAEM quer estar nos dois lados – a China também quer o mesmo para a cidade – até porque ser independente da indústria do jogo preconiza isso mesmo. As regiões administrativas especiais chinesas serão sempre uma porta de entrada e saída de interesses estrangeiros e chineses, respetivamente, mas quem dita esse fluxo é a China.

Do que depender do dragão asiático, jamais haverá contexto semelhante ao de Hong Kong, e por isso conduz a mudança, tanto a nível político como económico – virando Macau e Hong Kong para a Grande Baía. Mas também sabe que precisa destas regiões a dar cartas a nível internacional.

Primeiro, porque a imagem política da China ainda antagoniza – o ocidente não se revê nela e até a despreza. Segundo, a nível económico o ocidente receia o futuro e tenta congelar o crescimento e influência chinesa. Por isso, na projeção da sua imagem, não é do interesse da China abdicar das regiões autónomas – capazes de estar dentro e fora (Um País, Dois Sistemas). Na cortina da pandemia, joga-se o grau de autonomia e de liberdade que Macau poderá ter.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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