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Liderada pela obsessão germânica de combate à inflação, a Europa viveu décadas de restrições ao endividamento, com mecanismos de controlo orçamental que ultrapassaram em muito o mito segundo o qual a União Europeia se resumiria à moeda única, com livre circulação de bens e pessoas. Contudo, a invasão da Ucrânia fez disparar a inflação, por cima de uma crise pandémica que criou profundas fissuras no controlo inflacionista. Teoricamente, os regimes autoritários com economias planificadas perdem para o potencial de crescimento potenciado pela liberdade económica.
Mas se é verdade que o imperialismo russo nunca elevou sustentadamente o PIB per capita, os números mostram o sucesso do “milagre chinês”; que há muito assumiu o comunismo capitalista.
O que não era tão claro, embora se perceba facilmente, é que o mindset protecionista – incluindo largos períodos de isolamento – permite a países como a China estratégias de todo impossíveis a ocidente.
Aliás, está exposta a mãe de todas as contradições. A escassez de matérias primas e de produtos alimentares – muito para além da crise energética – está a beneficiar Moscovo e os seus aliados. Nunca a Rússia vendeu tão caro produtos alimentares, matérias primas, gás e petróleo – direta ou indiretamente.
Pelo menos no curto prazo, o bloqueio tem um simbolismo político que não tem par nas consequências económicas. Até porque, nas economias centralizadas, o controlo da informação e das dissidências permite-lhes suportar no tempo o sofrimento popular.
Ao contrário das democracias europeias, onde os governos acabarão por pagar nas urnas o dinheiro que falta ao bolso dos seus povos.
A guerra não é obviamente o conto de fadas que a Rússia inventa nos seus canais de comunicação.
Mas está mesmo muito longe de ser a estória que se conta a ocidente.
*Diretor-Geral do PLATAFORMA