Nada será como dantes

por Gonçalo Lopes
Paulo RegoPaulo Rego*

Os números são crus – e definitivos. A receita bruta do jogo cairá este ano 35% em relação ao ano passado – cinco vezes menos que o patamar de alegria em 2019. A largos anos luz daqueles dourados da liberalização. A questão já nem é saber em que patamar pode a indústria estabilizar. A operação, como ela está – e estará, já nem sequer é rentável. Ou seja, o investimento estrangeiro ainda vai a jogo neste próximo concurso; mas vai virar costas a Macau.

No fundo, a crise pandémica apenas acelera a estratégia de Pequim. O Partido Comunista não gosta de jogo e vive bem com o seu fim. O boom da construção na China também acabou e o mundo junket – passador de divisas – já não tem fonte de financiamento nem licença para operar. Quando a Sun City, maior pilar do sistema, caiu como um castelo de areia, o recado que ninguém queria ouvir ecoou com estrondo. Por um lado, a dimensão da crise em Macau é um grão de areia no plano diretor chinês; por outro, está há muito anunciado que o jogo será em breve residual – lá para 2030. Os sinais são muitos e cada vez mais vincados.

Nada disto depende hoje em dia da influência do poder local; do racional empresarial ou da circunstância de Macau. O rio segue o seu curso e o destino é o Delta das Pérolas. A História abre um canal complementar para o exterior, via Lusofonia. Entretanto, o turismo de negócios e de lazer terá de preencher a estrutura que o jogo ergueu.

Tudo é sempre discutível – e deve ser. Mas pensar que qualquer tese genial, análise visionária ou força económica mudará este fluxo é ver mal o caráter do tempo. Macau nem sequer sabe contestar, o que até lhe garante um certo estado de graça. O problema é não ser ágil nem competente. Adapta-se, mas não sabe realmente agir. Falta-lhe a competência da modernidade. Vai levar com a tempestade, e nem sequer antevê a bonança.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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