Mais milhões da China para reabilitar a maior estrada de Moçambique

por Mei Mei Wong
Gonçalo Lopes

A reabilitação da Estrada Nacional no1 (EN1) em Moçambique foi colocada à mesa das conversações entre o Presidente da República deste país africano, Filipe Jacinto Nyusi, e o Conselheiro de Estado da República Popular da China, Yang Jiechi, num encontro entre os dois no passado dia 4 de julho.

Esta informação, sobre o pedido de Moçambique ao terceiro principal parceiro económico, apenas atrás da Índia e África do Sul, respetivamente, foi confirmada pela Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Nataniel Macamo Dlhovo.

“O Presidente falou da necessidade de apoio à reabilitação da Estrada Nacional n.1, que todos nós sabemos liga o nosso país de lés a lés. Assim, a questão foi colocada à mesa e os dois governos vão discutir e encontrar solução. É importante lembrar que a China é parceiro dos programas de desenvolvimento do país e acredito que para este caso não será exceção”, salientou a ministra, confirmando também que na audiência que o Presidente Nyusi concedeu ao Conselheiro de Estado chinês avaliou-se “demoradamente as relações de cooperação bilateral entre Moçambique e China”.

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Refira-se que inicialmente os planos de Moçambique apontavam para um novo empréstimo ao Banco Mundial para a reabilitação da EN1, que apresenta vários troços em estado de degradação. No entanto, as relações cada vez mais próximas entre este país africano e a China levam agora a que o Governo de Nyusi volte mais uma vez a apontar ao apoio deste parceiro asiático, com quem, recorde-se, ainda têm uma dívida superior a 1,5 mil milhões de euros.

As autoridades moçambicanas estimam em 750 milhões de dólares o montante necessário para a reabilitação e manutenção da EN1, que tem uma extensão de mais de 2400 quilómetros e liga as três regiões do país, nomeadamente Sul, Centro e Norte.

Outro assunto falado entre as partes, também ele económico, foi uma parceria para a construção de uma cidade parlamentar na margem norte da baía de Maputo, com um novo hemiciclo e apartamentos para os deputados, cuja maioria vive em residências arrendadas, quando se deslocam à capital do país para sessões plenárias.

Em caso de avanço na ajuda, esta será apenas mais uma obra de grande escala que a China ajudará a edificar em Moçambique nos últimos anos. O Governo de Xi Jinping financiou já infraestruturas públicas de grande vulto em Moçambique, como a Estrada Circular de Maputo, a ponte Maputo-Katembe, o Centro de Conferências Joachim Chissano, o Hotel Gloria, o edifício do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Estádio Nacional do Zimpeto e um novo Aeroporto Internacional de Maputo.

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O apoio a estas obras, e outras mais pequenas, superaram os dois mil milhões de dólares por parte da China [ver gráfico] sendo que a grande maioria dos respetivos empréstimos estão ainda por pagar, ainda que tais dívidas não afetem as relações entre os dois países, como recentemente o Governo de Xi Jinping frisou. “Temos conseguido ajudar a financiar grandes projeto de construção em Moçambique e continuamos interessados em manter influência em países africanos ricos em recursos como é o caso de Moçambique. Não temos nenhum problema com estes financiamentos”, referiu o Governo chinês.


Milhões da China para Moçambique (USD)

Tal como aconteceu já em outras reabilitações em certos pontos da EN1, a obra deverá ser também ela entregue a uma empresa estatal chinesa, nomeadamente a China Road and Bridge Corp (CRBC), que ainda recentemente realizou obras num troço de 35 quilómetros entre Pambara e Mangungumete, na província de Inhambane, no sul de Moçambique, então num contrato superior a cinco milhões de dólares.

MUITOS ACIDENTES GRAVES

As obras de reabilitação da EN1 há muito que estão programadas pelas autoridades moçambicanas, mas nas últimas semanas têm sido mais discutidas. Aliás, no final do mês passado, o Governo manifestou-se preocupado com a degradação da principal estrada moçambicana, dias após um acidente de viação que tirou a vida de 13 pessoas naquele troço.

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“Há um trabalho que está a ser feito de levantamento dos valores necessários para a reabilitação deste troço”, declarou à comunicação social o porta-voz do Conselho de Ministros, Filimão Suaze, momentos após uma reunião do órgão na Presidência moçambicana, em Maputo.

Em causa estava o acidente de viação que tirou a vida de 13 pessoas e feriu outras seis a 24 de junho, no distrito da Manhiça, ao longo da EN1, segundo os dados avançados pelas autoridades. A única estrada que liga o sul, centro e norte de Moçambique, tem sido palco de graves acidentes de viação, com várias mortes e quase sempre envolvendo transportes coletivos. No mesmo local onde ocorreu o acidente a 24 de junho, 32 pessoas morreram há um ano, quando dois camiões e um autocarro se envolveram numa ultrapassagem irregular.

Em novembro de 2021, outras 17 pessoas morreram no mesmo distrito, num acidente entre transportes coletivos. A 22 de janeiro deste ano, 28 pessoas morreram na EN1 na província da Zambézia, centro de Moçambique, num acidente que envolveu um veículo de mercadorias e um ligeiro de transporte coletivo.

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