“É uma proposta nova no âmbito do ensino do português”

por Filipa Rodrigues
Catarina Brites Soares

A Universidade de São José (USJ) cria Português à Vista para ajudar na aprendizagem da língua. A comunidade educativa de Macau é o principal destinatário, mas não está de parte a internacionalização do projeto

Português à Vista foi criada a pensar nos alunos – mais do que nos professores; em novos métodos de ensino – assentes no audiovisual; e para trabalhar especificamente a compreensão oral. “Nesse sentido, é uma proposta nova no âmbito do ensino do português como língua não materna. Claro que há outras plataformas, em acesso livre, como o Portal do Professor de Português Língua Estrangeira, por exemplo, mas que é mais virada para os professores e não trabalha especificamente a competência da compreensão oral, que é das que mais dificuldades levanta a quem aprende uma língua”, explica João Pereira.

O professor da Faculdade de Artes e Humanidades, por detrás da iniciativa, diz que a ideia foi usar recursos que não são desenvolvidos numa lógica educativa como documentários, notícias, curtas-metragens, vídeos, entre outros géneros audiovisuais. “Não há muitos materiais didáticos publicados com este tipo de recursos, sobretudo para os níveis iniciais. É importante que o aluno tenha logo contacto com a língua tal como ela é falada”, defende.

Sobre a plataforma, enaltece qualidades como a da autonomia do estudante e a da autogestão na aprendizagem, e desvaloriza o impacto negativo na interação interpessoal. “Não creio que a tecnologia consiga substituir o professor. A aprendizagem está cada vez mais indissociável das novas formas de comunicação digital, que assentam na comunicação e na colaboração. Mas o aluno continua a precisar da orientação do professor, mesmo em relação ao uso das tecnologias”, argumenta.

Apesar das gerações recentes terem nascido e crescido numa sociedade que comunica e se relaciona virtualmente, ressalva, tal não significa que saibam tirar partido da tecnologia. “Há estudos que mostram claramente isso”, garante. “Os desafios da integração efetiva da tecnologia na aprendizagem são portanto grandes e dotar os alunos de competências para lidar com as novas formas digitais de comunicação é fundamental. E isso é ainda mais premente no ensino de línguas”, sublinha.

Todos incluídos

João Pereira afirma que o projeto – financiado pelo Fundo do Ensino Superior – tem como principal alvo a comunidade educativa local. “Cabe à Universidade de São José decidir se há interesse ou não em desenvolvê-lo e internacionalizá-lo”, reage. A par das funcionalidades para a interação entre professor-aluno e aluno-aluno, o académico sublinha as vantagens para cada grupo. No caso dos docentes, detalha, podem usar o meio com uma lógica de sala de aula, como laboratório de línguas e como complemento às aulas. Os da USJ podem inclusivamente criar turmas.

“A plataforma permite ainda criar novos exercícios e fazer uma análise estatística dos resultados alcançados pelos alunos. Foi desenvolvido um algoritmo que permite avaliar o desempenho de acordo com diferentes itens, como o resultado das sequências, as estratégias utilizadas e até o nível de ansiedade”, salienta o professor da USJ.

Quanto aos alunos podem fazer sequências de exercícios. Estão disponíveis 100 vídeos e 100 sequências didáticas, organizadas por nível de proficiência linguística do A1 ao C1, avançado – e por temas.

A seleção foi feita por João Pereir e teve em conta critérios como a duração do vídeo, temática, representatividade das regiões e Países de Língua Portuguesa. “Este último aspeto é aliás muito importante, pois é essencial que quem aprende português tenha contacto com as variedades da língua. Há alunos aqui na China que vão trabalhar para países africanos de língua oficial portuguesa”, realça.

Interesse no português “cresceu exponencialmente”

João Pereira salienta que, nos últimos 20 anos, o interesse pelo português em Macau e na China “cresceu exponencialmente”.

Para o fundamentar, o investigador recorda que no ano da transição, em 1999, havia 28 escolas primárias e secundárias nas quais se ensinava o idioma. No final da década, eram 51. “No ensino superior, no mesmo período, também houve um grande crescimento”, destaca. De 300 estudantes, refere, passou-se para cerca de 1500. Já na China Continental, há mais de 30 universidades com licenciaturas em português. Segundo o professor, eram seis em 2010.

“Quanto ao perfil de aluno, continua a ser importante o grupo dos funcionários públicos e dos advogados, mas o facto de ter havido uma intensificação da cooperação entre a China e a Lusofonia, com a consequente procura de profissionais que dominem a língua, tem levado muitos em Macau a querer aprender o português.”

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