PF encontra sangue em lancha de homem detido após desaparecimentos na Amazônia

por Gonçalo Lopes

A Polícia Federal encontrou nesta quinta-feira (9) vestígios de sangue na lancha do homem que foi detido após o desaparecimento, há quatro dias, de um jornalista britânico e um indigenista brasileiro na Amazônia.

“Vestígios de sangue foram encontrados na embarcação de Amarildo da Costa de Oliveira, 41 anos, conhecido como ‘Pelado’, preso em flagrante na terça-feira” na qualidade de “suspeito”, informou a Polícia Federal (PF), enquanto as buscas pelos desaparecidos prosseguem.

“O material coletado está a caminho de Manaus, no helicóptero tático Black Hawk, para ser periciado”, acrescentou a PF em nota, junto com imagens de investigadores fotografando o que parece ser uma pequena mancha de sangue sobre uma lona azul, dentro de uma lancha a motor com a pintura descascada.

O colaborador do jornal britânico The Guardian Dom Phillips, de 57 anos, e o indigenista Bruno Pereira, de 41 anos, viajavam juntos pela região do Vale do Javari, extremo oeste do estado do Amazonas, onde faziam entrevistas para um livro sobre a preservação ambiental.

Eles tinham ido de barco à localidade de Lago do Jaburu e deviam voltar à cidade de Atalaia do Norte na manhã de domingo. A última vez que foram vistos foi em São Gabriel, não muito longe de seu destino.

Testemunhas disseram ter visto Amarildo Oliveira passar em uma lancha em alta velocidade na mesma direção de Phillips e Pereira, depois que foram vistos pela última vez. A polícia afirma que o homem foi detido porque levava munições de calibre não permitido e droga.

Pereira, indigenista da Fundação Nacional do Índio (Funai), já havia sido ameaçado por grupos criminosos que atuam na região. Há algum tempo, ele estava em licença temporária do cargo e trabalhava em projetos com a União dos Povos Indígenas do Vale de Javari (Univaja) para aumentar a vigilância nas aldeias.

Localizada na fronteira com o Peru e a Colômbia, a região abriga uma terra indígena protegida de 8,5 milhões de hectares e sofre com a presença de narcotraficantes, pescadores, madeireiros e garimpeiros ilegais em busca de seus recursos naturais.

‘Aventura’, diz Bolsonaro

“A gente pede a Deus que sejam encontrados vivos, mas sabemos que a cada dia que passa essas chances diminuem”, declarou o presidente Jair Bolsonaro, que voltou a chamar de “aventura” a expedição de Phillips e Pereira.

“Naquela região, geralmente você anda escoltado, foram para uma aventura”, disse Bolsonaro em Los Angeles, onde participa da Reunião de Cúpula das Américas.

As declarações de Bolsonaro geraram indignação entre os membros da Univaja, que participam ativamente das buscas desde o primeiro dia e consideram Pereira um dos indigenistas mais experientes do país.

“O Bruno e o Dom estavam na verdade prestando serviço ao Estado brasileiro, porque estavam a serviço da Univaja, falando sobre a proteção das terras indígenas, algo que o governo brasileiro não está fazendo”, disse Eliesio Marubo, advogado da associação, na localidade de Atalaia do Norte, base das operações de busca.

Ativistas, familiares e amigos de Phillips e Pereira fizeram protestos em Londres e Brasília nesta quinta-feira. “Queremos respostas e não estamos encontrando isso com o governo, com a Funai, com a polícia”, disse à AFP o ativista Kamu Dan, um indígena de 53 anos da etnia Wapichana, em Brasília.

“Houve negligência do Estado em defender os povos indígenas. Os povos indígenas estão entregues à sua própria sorte, contra madeireiros, garimpeiros, grileiros, milícias, narcotraficantes”, acrescentou o ativista.

A Polícia Federal informou nesta quinta-feira que continuava empenhada junto às Forças Armadas nas buscas para que Pereira e Phillips retornem o quanto antes para seus entes queridos. Mas indicou na véspera que não descarta “nenhuma linha de investigação”, inclusive a de homicídio, em uma região considerada “perigosa”.

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