Soluções com base na natureza em Macau

por Gonçalo Lopes
Samson ChengSamson Cheng*

Um incêndio florestal na Coreia do Sul deixou 6.200 desalojados e destruiu 160 habitações; uma seca nunca antes vista na Península da Somália ameaça a vida de 20 milhões de pessoas; cheias na Austrália causam danos no valor de dois mil milhões de dólares e 22 mortes… Estas são apenas algumas das catástrofes que têm acontecido pelo mundo desde o início do ano e todas estão relacionadas com as alterações climáticas.

Nestes fenómenos, a “natureza” é tanto “vítima” como “líder”. As “soluções com base na natureza” (NbS, na sigla inglesa) dão ênfase ao respeito pelas leis da natureza, através da reflorestação, gestão de solo agrícola, proteção de pântanos, proteção e reabilitação da ecologia marinha, assim como administração ecológica. Isto mostra que é possível tirar partido das capacidades da natureza para controlar a emissão de gases de efeito estufa e melhorar a sua resistência contra as crises climáticas.

O termo NbS foi usado pela primeira vez no relatório “Biodiversidade, Alterações e Adaptações Climáticas: Soluções com base na natureza”, elaborado pelo Banco Mundial em 2008. Neste documento, é enfatizada a importância da conservação da biodiversidade no combate contra as mudanças e mutações climáticas.

A Cimeira de Ação Climática das Nações Unidas, realizada a setembro de 2009 em Nova Iorque, representou também um marco no desenvolvimento do conceito de NbS. Foi então que estas soluções foram incluídas como uma das nove áreas de ação sobre o clima global.

No caso de Macau, um exemplo de NbS são os mangais.

Estas florestas são húmidas, situam-se em zonas costeiras de regiões tropicais, principalmente entre os trópicos de Capricórnio e Câncer. Em Macau, encontram-se principalmente nos pântanos do Cotai.

Os mangais de Macau são um habitat de uma grande variedade de fauna e flora.

Além de ajudarem a purificar o ar e o mar, conseguem ainda absorver os gases de efeito estufa (capacidade de reserva de carbono).

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP, na sigla inglesa), estes mangais costais conseguem armazenar mais de quatro vezes o carbono encontrado em florestas tropicais, o que lhes oferece a capacidade de atenuar os efeitos das alterações climáticas.

São ainda uma barreira natural contra as tempestades e ondas gigantes, protegendo a linha costeira de Macau e ajudando na adaptação perante estas alterações. Em
várias zonas costeiras, os mangais são a primeira escolha para a proteção contra cheias, visto serem mil vezes mais baratos por quilómetro do que a construção de
barragens.

O uso de mangais consegue não só proteger a biodiversidade natural, como também aumentar a capacidade de armazenamento de carbono local e melhorar o nível de
resiliência contra as alterações climáticas.

O “uso da natureza”, através de NbS, é assim um método amplo para atenuar estas consequências.

Fora a conservação de mangais, existe ainda a possibilidade de usar esta solução para a reflorestação e a proteção da ecologia marinha. No Segundo Plano Quinquenal
de Desenvolvimento Socioeconómico da Região Administrativa Especial de Macau (2021 – 2025), o Governo afirma completar a formulação de um estudo da estratégia
de redução de carbono a longo prazo. No Planeamento da Proteção Ambiental de Macau (2021-2025) é mencionado ainda a conservação de zonas húmidas e execução
da “segunda pesquisa da ecologia de Macau”.

As NbS, ou conceitos relacionados adotados no estudo da estratégia de redução de carbono a longo prazo, devem considerar a sinergia entre a conservação ecológica
e as alterações climáticas, enquanto é promovida a proteção ecológica.

*Diretor de marketing da Genervision House

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