“Macau pode ser o centro de distribuição de Portugal para a China Interior”

por Mei Mei Wong
Gonçalo LopesGonçalo Lopes
Macau Portugal

A ligação comercial entre a China e Portugal há muito que existe, embora a grande prioridade tenha sido dada às maiores e principais empresas de ambos os países. Assim, e a pensar nisso, em 2020, em plena pandemia, foi criada a nova Câmara de Comércio Portugal-China PME pelas mãos de Y Ping Chow, filho do malogrado Chow Horng Tzer, o fundador e primeiro presidente da Liga dos Chineses em Portugal (LCP), que agora é liderada também por Y Ping. Em conversa com o PLATAFORMA o também empresário traçou os projetos desta nova Câmara e também falou sobre a ligação de Portugal à China e a Macau 

A altura escolhida para a criação desta Câmara de Comércio pode ser vista como um risco, dado que nasceu em 2020, quando a pandemia começou a espalhar-se pelo mundo. Contudo, nem este cenário travou Y Ping Chow e com quem ele trabalha. “Sentíamos há já algum tempo que as pequenas e médias empresas (PME) estavam a ter muitas dificuldades e quando surgiu a pandemia tivemos de agir muito rápido para tentar ajudar quem nos procurava, mesmo ainda sem termos formado esta nova Câmara de Comércio. Foi uma altura muito complicada, mas acreditamos que a mais acertada para avançar”, começou por dizer, fazendo mesmo um balanço muito positivo destes dois anos de atividade. 

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“Não nos podemos queixar do que fizemos em dois anos. É um saldo muito positivo, mas também temos de agradecer a sorte de termos connosco a Liga dos Chineses, esse aspeto ajudou-nos muito. Foi muito fácil trabalharmos em conjunto, mesmo com a pandemia. Conseguimos criar algumas parcerias tanto em Portugal como na China, começámos, claro, com muitas estruturas de base de trabalho e depois avançámos para acordos e relações de trabalho entre as PME”, salientou Y Ping Chow, que chegou com a família a Portugal na década de 60 e radicou-se no Porto, começando pela restauração. 

Apesar da crise económica em todo o mundo derivada da pandemia, a verdade é que as trocas comerciais entre a China e Portugal cresceram mais de dois mil milhões de euros desde 2020. Este é um número que agrada à Câmara de Comércio, embora Y Ping Chow, de 64 anos, entenda que as mesmas tenham de continuar a crescer. 

Macau Portugal
Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal (LCP)

“A China tem aumentado a sua importação e mesmo a exportação, até porque o mercado da China é muito grande. Os números entre Portugal e China são grandes, mas a verdade é que a comercialização entre os dois países é muito baixa, tendo em conta a dimensão da China. Temos capacidade para aumentar ainda mais essas trocas comerciais, pois esses milhões de que se fala, a grande maioria das trocas é entre as maiores empresas. As ligações entre as PME dos dois países têm de crescer muito mais. Há que ter proveito dos dois lados, não apenas de um. Portugal tem possibilidades de fazer melhores negócios com a China. É também por isso que decidimos criar esta Câmara, tivemos muitos pedidos das tais PME, que queriam fazer mais e melhores negócios”, referiu o empresário e porta-voz da comunidade chinesa em solo luso. 

PME PORTUGUESAS PEDEM MAIS AJUDA 

“A China é um mundo” e há interesse do resto do planeta em negociar com uma das maiores economias mundiais. E Portugal não fica atrás, concretamente as pequenas e médias empresas. Não é assim de estranhar que junto desta nova Câmara de Comércio surjam mais entidades portuguesas a pedir ajuda para chegarem à China do que o contrário. 

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“São sem dúvida os portugueses que pedem mais ajuda. Temos de ver que o mercado português é muito pequeno para a China. Posso dar o exemplo que no Brasil é um pouco diferente, pois é também um país enorme e há mais interesse das empresas chinesas nesse país. Mas isto não quer dizer que o cenário não possa mudar, mas neste momento é essa a realidade. Temos contacto direto com empresários chineses que querem vender cá em Portugal e queremos aprofundar ainda mais essa ligação”, afirmou, destacando depois os setores que a Câmara entende que podem ser os mais importantes neste momento das PME em Portugal e na China. 

“Acreditamos que os setores agroalimentares, de turismo e ainda de energias renováveis podem ser a grande aposta neste momento para as PME de ambos os países. Estamos a tentar criar um fundo para ajudar as empresas, um fundo que terá mais capital chinês do que português, e será direcionado para esses setores. Haverá, claro, outras oportunidades de negócio fora desses três, mas neste momento são, sem dúvida, os de maior aposta”, concluiu. 

PAPEL DE MACAU 

Macau foi colonizada e administrada por Portugal durante mais de 400 anos e é considerada o primeiro entreposto comercial de sempre, bem como a última colónia europeia na Ásia. Também por isso as ligações afetivas e comerciais se mantêm entre Portugal e Macau. Atualmente, no entanto, é já uma região autónoma chinesa, e Y Ping Chow olha para Macau como fundamental também para a ligação de Portugal à China. 

“Macau é muito importante, sem qualquer dúvida. Mas não é importante para a comercialização das PME. Não falta nada a Macau, é uma região que tem tudo aquilo que é necessário. Portugal precisa de chegar a províncias onde não é conhecido, essas sim são importantes para as PME portuguesas”, disse o também presidente da Liga dos Chineses, destacando depois o papel que Macau poderá ter neste relacionamento comercial entre Portugal e a China. 

“O grau de relacionamento económico poderia ser maior. Eu acredito que Macau pode ser, por exemplo, o centro de distribuição de Portugal para a China interior. Idealmente, o que algumas empresas portuguesas poderiam fazer era juntarem-se e criarem uma empresa em Macau para vender os produtos para a China Interior. Penso que este seria um caminho estratégico e fundamental para dar a conhecer novos produtos portugueses onde ainda não chegaram, concretamente ao interior da China”, conclui. 

PROBLEMAS BUROCRÁTICOS 

O embaixador da China em Lisboa, Zhao Bentang, disse recentemente que as empresas chinesas ou portuguesas de capitais chineses estão a enfrentar “problemas” em Portugal, nomeadamente longas esperas por procedimentos burocráticos. Y Ping Chow considera, contudo, que esse não será um grande entrave no setor para o qual trabalha. 

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“As pequenas e médias empresas não têm sentido uma dificuldade maior. Penso que essas dificuldades que o embaixador fala tenham mais a ver com as grandes empresas, com um determinado setor estratégico. As políticas europeias, os americanos a fazerem pressão à China, tudo isto leva a que algumas questões burocráticas sejam levantadas, mas isso tem mais a ver com elevados negócios, não afeta as PME, pelo menos não temos sentido quaisquer problemas nesse sentido”, salientou Y Ping Chow, elogiando o apoio que tem recebido dos governos dos dois países em questão. 

“Não posso negar que tanto os governantes da China e de Portugal têm demonstrado grande apoio à nossa Câmara. Temos, por exemplo, duas associações governamentais da China que fizeram protocolos connosco, e em Portugal tem acontecido o mesmo. A AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), outro exemplo, tem colaborado com a Câmara e temos um projeto em comum que poderá levar, ainda em 2022 ou 2023, cerca de 48 empresas portuguesas à China. O trabalho conjunto com as entidades governamentais tem sido muito bom”, concluiu o empresário com nacionalidade portuguesa e passaporte de Taiwan. 

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