Diálogo cultural sob o contexto da pandemia

por Gonçalo Lopes
Kathy Lam

Depois de mais de dois anos de pandemia, além da crescente desigualdade económica e distribuição inadequada das vacinas por todo o mundo, vários países têm sofrido um retrocesso na integração cultural da sua sociedade.

A xenofobia e o racismo continuam a crescer, impulsionados por um sentimento de superioridade da cultura local, estereótipos e diferenças de valores morais.

Durante o início da pandemia, a discriminação contra as comunidades asiáticas e outras minorias étnicas foram visíveis por todo o mundo, até mesmo na pequena cidade de Macau.

No ano passado, vários foram os casos de seguranças de origem nepalesa infetados por trabalharem nos centros de isolamento, assim como alguns trabalhadores ilegais
vietnamitas. Estes foram recebidos com comentários xenófobos e discriminatórios nas redes sociais por parte de pessoas contra a entrada de mão de obra estrangeira, devido à situação económica local.

A fraca influência política e proteção social para trabalhadores que não sejam da China Continental só os marginaliza ainda mais, apesar de já constituírem oito por cento da população (segundo dados de fevereiro deste ano), e reduz as oportunidades de diálogo cultural já escassas em Macau.

Reinventando os discursos interculturais

A definição da UNESCO para discurso intercultural é “uma troca e diálogo equilibrado entre civilizações, culturas e pessoas, com base na compreensão mútua, respeito e igual dignidade de todas as culturas”.

Harmonia entre as comunidades é um pré-requisito para um desenvolvimento social sustentável. O Governo, enquanto importante impulsionador deste desenvolvimento, deve ter em conta as opiniões e necessidades dos seus diferentes grupos étnicos e aumentar a participação dos mesmos nas tomadas de decisão e implementação de políticas.

Por exemplo, com a incorporação de políticas multiculturais em projetos e atividades entre a comunidade.

Isto inclui a disponibilização de informações relevantes em várias línguas e formação de profissionais do Executivo com capacidade de comunicação com vários grupos culturais, para garantir que os seus serviços públicos são inclusivos.

Estas agências governamentais e organizações podem disponibilizar treinos sobre multicultura no ambiente de trabalho, cobrindo temas como o respeito religioso, cultural e linguístico. Isto cria mais oportunidades para pessoas com diferentes heranças culturais e harmonia no seu dia-a-dia.

Pode ainda oferecer a oportunidade de organizar várias atividades culturais, ou de participar nas mesmas com membros de diferentes origens; dar oportunidades a expatriados para se voluntariar e partilhar os seus conhecimentos com a comunidade, fortificando os laços entre várias comunidades e incentivando o respeito mútuo entre as mesmas. Isto pode também ajudar a destruir o fenómeno de discriminação com base em diferentes estatutos económicos.

Graças às várias restrições fronteiriças, houve também um alargamento no uso de ferramentas online.

Tecnologias como a inteligência artificial, grandes bases de dados e digitalização são cada vez mais utilizadas em contextos culturais.

Por exemplo, vários eventos religiosos e culturais passaram a ser organizados através da Internet, oferecendo ainda mais oportunidades para um diálogo intercultural. Devemos por isso aproveitar ao máximo as vantagens que estas ferramentas oferecem.

A partir de exemplos de outros países, sabemos que é possível organizar encontros e workshops culturais para a interação entre cidadãos de diferentes origens e
línguas, e oferecer aos locais, onde quer que estejam, uma forma de conhecer melhor outra cultura diferente da sua.

Atividades culturais e artísticas, das mais variadas formas, conseguem ainda criar laços entre artistas de vários países e construir pontes entre as suas populações.

Apesar da pandemia ter ameaçado o desenvolvimento multicultural de sociedades, especialmente ao enfatizar as diferenças entre estas culturas, e danificar o crescimento do setor cultural e artístico, conseguiu acelerar o desenvolvimento das tecnologias digitais o que encurtou a distância entre nós.

Numa era pós-pandémica, fora a fortificação dos diálogos entre culturas para uma maior harmonia social, podemos tirar partido do melhor que esta nos trouxe: recomeçar a comunicação e cooperação entre várias comunidades e integrar os mundos online e offline na construção de uma cidade internacional e multicultural.

*Vice-presidente da Associação de Intercâmbio Linguístico e Promoção Cultural (LECPA)

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