Pequim acerta o passo

por Gonçalo Lopes
Paulo RegoPaulo Rego*
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Finalmente, Pequim acerta o passo: não à Guerra; ajuda na mediação com Moscovo; clareza na recuperação das relações comerciais e diplomáticas multilaterais. Tendo em conta o compromisso pessoal e “ilimitado” assumido com Putin, Xi Jinping não lhe vai virar costas. Mas percebe-se hoje que, muito para além da questão moral e do direito internacional, os efeitos da invasão da Ucrânia provocaram uma reação sem precedentes a ocidente – e um recuo de décadas na globalização. A China é talvez o país mais prejudicado com essa nova (des)ordem.

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A questão é complexa, mas encerra evidências simples. O modelo de desenvolvimento chinês, embora em franca mutação, não dispensa boas relações internacionais. A revolução industrial tardia, com base na mão de obra barata e na exportação, permitiu à China desafiar a unipolaridade norte-americana. Mas a viragem para o investimento nas novas tecnologias, a economia sustentável e o investimento externo – Nova Rota da Seda e da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” – sofrerão bloqueios insanáveis caso não se encontre na Ucrânia uma solução que recupere a sensação de segurança, derrubando os muros que ali se erguem.

O bloco alternativo composto por China, Índia, Rússia é claramente insuficiente. Pequim precisa de relações com o mundo inteiro, independentemente da força económica e política que projete nesse tripé. E já se percebeu que Washington não vai perder a oportunidade de encostar a China à Rússia, explorando a narrativa de um novo eixo do mal.

Xi Jinping sabe-o bem. Por isso gere neste momento uma posição muito difícil: encontrar o caminho do meio, extraindo da ambição de Putin o contraponto a ocidente, mas ao mesmo tempo desmarcando-se do bloqueio que isso representa. Uma China multipolar e respeitada é o que interessa a Pequim, mas também a todo o mundo, seja na Europa, África ou América Latina. Talvez não interesse aos Estados Unidos. E até por isso Xi Jinping tem de saltar esse muro que se ergue à volta de Putin.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA 

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