23 dias de guerra entre Rússia e Ucrânia

por Gonçalo Lopes
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A guerra na Ucrânia dura há já 23 dias e esta última semana houve já sinais de um possível acordo entre as partes. Certo, contudo, é que a invasão da Rússia já resultou em mais de três milhões de refugiados e há números que apontam para perto de cinco mil mortes, sendo que muitos são civis.

O conflito militar iniciou-se a 24 de fevereiro, quando, e por ordens do chefe supremo Vladimir Putin, a Rússia invadiu a Ucrânia. Em pouco mais de 20 dias já existiram várias negociações para a paz, mas só esta semana registaram-se sinais de fumo branco quanto a um eventual cessar-fogo. As partes estiveram durante algumas semanas longe de um entendimento, mas nos últimos dias o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o ministro dos Negócios Estrangeiros russo Serguei Lavrov revelaram proximidade quanto a um acordo. Se o primeiro abordou as “exigências mais realistas” de Putin, o ministro salientou a maior “esperança num compromisso”.

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Para já, contudo, o cessar-fogo ainda não é uma realidade. No entanto, segundo alguns especialistas, os próximos dias poderão ser diferentes, com as cidades de Kiev e Mariupol como pano de fundo para uma possível ‘solução’, tendo também já sido “peças importantes” na aproximação dos dois governos. “Até ao momento os militares russos já dominam territórios extensos da Ucrânia junto às fronteiras do nordeste, leste e sudeste, mas as principais cidades ainda estão sob o domínio ucraniano, como Kiev, a capital. Um eventual cessar-fogo está muito dependente das zonas estratégicas naquele país, nomeadamente do que ali acontecer”, começou por dizer ao PLATAFORMA o professor catedrático Afonso Tomé, com doutoramento em Ciência Política, dando depois alguns exemplos.

“Vejamos a questão de Kiev, a capital. Se a Rússia conseguir o seu controle, que ainda está longe de acontecer, é inevitável que o governo da Ucrânia tenha de alguma forma de ceder nas negociações. Ou mesmo se as forças militares russas conseguirem o domínio de Mariupol. Não é por acaso que o teatro de guerra está neste momento centralizado nesta cidade, uma possível captura por parte dos russos tornará Mariupol um corredor para os militares na região de Donbass e ainda o controle da costa ucraniana no Mar Negro. Pelo contrário, se as forças militares russas não conseguirem num curto prazo o domínio que esperam, também do lado de Putin terão de existir cedências. Aliás, as cedências de ambos os lados nos últimos dias também se devem ao que tem acontecido nestas zonas estratégicas e isso, por um lado, é bom sinal, sinal que a guerra poderá estar perto de terminar”, disse o especialista, convicto que tudo será mesmo resolvido nas mesas de negociações.

“Não acredito, sinceramente, numa conquista total por parte da Rússia, falando do território ucraniano. Acredito que, tal como em Donbass, possam vir a controlar outros territórios, mas não na sua totalidade. Mas, eventualmente, o que será determinante para o cessar-fogo serão os trunfos que ambos os governos, Zelensky ou Putin, apresentarem na mesa de negociações e neste momento esses trunfos são os eixos estratégicos territoriais”, concluiu.

Milhões de ucranianos já abandonaram o país

Sanções também determinantes

A opinião de Afonso Tomé é, de facto, a mesma que outros especialistas têm partilhado nos últimos dias. A paz chegará via negociações e a celeridade da mesma dependerá do que a Rússia conseguirá, ou não, ‘conquistar’ na Ucrânia. Se o avanço no terreno for favorável aos russos, mais perto então ficará a Ucrânia das cedências. Se isso não acontecer, Putin terá, forçosamente, de olhar ao que as duras sanções económicas, por parte de quase todo o mundo, poderão fazer ao seu país.

“O que a Rússia está a sofrer financeiramente no presente momento não é nada comparável com o que poderá sofrer dentro de um ou dois meses. Neste momento, têm um forte aliado económico, que é a China e o seu Governo. Mas a verdade é que dentro dos tais 30 ou 60 dias tudo pode mudar, pois serão as empresas a sofrerem com estas sanções, as que estão na Rússia, e aí não há governos aliados que possam fazer nada para que essas mesmas deixem de operar na Rússia. Vejamos o caso do petróleo russo. Se as sanções continuarem, a Rússia terá muitos problemas para conseguir compradores, só reduzindo o preço de venda, o que financeiramente será insustentável. A guerra prejudica todos”, salientou ao PLATAFORMA o economista Diogo Morais.

Refira-se que, por exemplo, a União Europeia vai já na quarta vaga de sanções à economia russa, além do embargo de outros países como os Estados Unidos ou o Japão. “E não ficará por aqui, certamente, se o cessar-fogo não chegar o quanto antes. Neste momento a Rússia ainda consegue lidar com estas medidas, mas se não chegarem a um entendimento nas negociações, a curto prazo, Putin terá muitos problemas económicos a nível interno, algo que começará também a afetar o dia a dia da sua população”, afirmou o economista.

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‘Propaganda’ nos números

Os números são alarmantes nesta guerra. Em pouco mais de vinte dias de guerra, mais de três milhões de pessoas já abandonaram a Ucrânia, refugiando-se em muitas dezenas de países da Europa. Quanto às mortes, essas, infelizmente, também crescem a cada dia, embora sejam alvo de propaganda de um lado e do outro.

Por exemplo, do lado da Ucrânia há quem fale em mais de 12 mil militares russos mortos, ao passo que a o governo de Vladimir Putin tenha oficializado ‘apenas’ 500. Depois há o inverso da moeda, com a Rússia a apontar quase 3000 soldados ucranianos que perderam a vida, sendo que do lado do governo de Zelensky estes números nunca tenham sido confirmados.

E se aqui juntarmos outros dados, os dos Estados Unidos, então as contas ficam ainda mais difíceis de fazer. O Pentágono acredita que em pouco mais de 20 dias de conflito houve cerca de quatro mil mortes do lado russo e mais de seis mil feridos – não divulgaram, contudo, as suas contas do lado ucraniano.

E esta ‘propaganda’ de números não fica apenas pelos dados sobre os militares, também na perda de vidas civis há números muito diferentes a circularem pelo mundo fora. Por exemplo, as Nações Unidas (ONU) já confirmaram quase 700 mortes entre a população na Ucrânia, mas as autoridades locais falam em mais de duas mil.

Neste âmbito, da proteção aos civis, há neste momento 26 corredores humanitários abertos na Ucrânia. Esses estão a operar há cerca de duas semanas nas regiões de Kiev, Sumy (350km a nordeste da capital), Kharkiv (nordeste do país) e Zaporizhia (leste). Além destes do lado ucraniano, nas regiões de Donetsk e Lugansk, territórios controlados por separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, existem também alguns corredores que têm levado uma grande maioria de civis para a Rússia.

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